Para os
gramáticos o gênero aplica-se somente a duas formas, masculino e
feminino. Celso Cunha e Lindley Cintra em sua “ Nova Gramática do
Português Contemporâneo”, diz que “ os substantivos que
designam pessoas e animais costumam flexionar-se em gênero, isto é,
têm geralmente uma forma para indicar os seres do sexo masculino e
outra para indicar os do sexo feminino.” ( CUNHA, CINTRA, p.204,
2008). Celso Cunha e Cintra como a maioria dos gramáticos
sistematizam o gênero a dois grupos, feminino e masculino, e nestes
dois grupos, especifica-os como epicenos, sobrecomuns e comum de dois
gêneros, fazendo uma confusão entre gênero e sexo. Assim, alguns
substantivos como águia, algoz e agente, vão entrar nestas três
classificações; águia como epicenos, algoz como sobrecomum e
agente como comum de dois, admitindo-se que em alguns substantivos
ocorre mudança de sentido quando esse é anteposto pelo artigo, um
exemplo seria a palavra cabeça, geralmente feminina, mas se
anteposta pelo artigo -o, se torna masculina; “O cabeça!” Nesta
visão o termo “o cabeça” seria equivalente a chefe, o que nas
gramáticas tradicionais equivale a sobrecomum.
A
gramática aborda a questão do gênero com muita superficialidade.
Limitando-se a afirmar a existência de dois gêneros na língua
portuguesa, posicionando e citando sem definir com exatidão os
epicenos, sobrecomuns, comum de dois gêneros e, às vezes confundir
gênero e sexo. No caso de Celso Cunha e Cintra, para classificar o
substantivo quanto a sua terminação, o gramático diz que: “É
sempre difícil conhecer pela terminação o gênero de um dado
substantivo.” ( CUNHA, CINTRA. p204, 2008). A gramática de Cunha e
Cintra vai dizer que são masculinos os nomes terminados em -o átono,
e são femininos os nomes terminados em -a átono. Exemplos: o aluno;
a aluna. Os dois gramáticos ressalta que excetuando-se porém
algumas palavras como clima, cometa, e outras tantas a terminação
leva-se por consideração as duas desinências, mas quando citam os
exemplos, “homem - mulher, bode – cabra, abordam que alguns
gêneros possuem o radical diferente. A gramática de Cunha e Cintra
não leva em consideração o gêneros, mas a flexão e a derivação
da palavra sem se preocupar em explicações mais complexas.
Os
lingüistas vão refutar e dizer que as gramáticas acabam tornando a
explicação sobre a classificação do gênero como superficial.
Para abordar a classificação do gênero tomar-se-á as idéias de
Normelio Zanotto, Maria Cecília P. de Souza e Silva e Ingedore
Villaça Koch que ajudaram em esclarecimentos mais amplos e objetivos
sobre o assunto.
Normelio
Zanotto em seu livro “ Estrutura Mórfica da Língua Portuguesa”
aborda que o gênero é uma classificação obrigatória para todos
os substantivos, masculinos ou femininos, e que o gênero é mais que
uma simples distinção de sexo. O lingüista ira também dizer que
há várias outras formas assexuadas que não pertence ao reino
animal. Aqui tem-se que levar em consideração que para os
lingüistas o gênero tem como forma uma amplidão maior e mais
diversa, no caso de Zanotto, que cita uma nova forma assexuada,
certos substantivos não é nem feminino nem masculino, mas comum de
dois só que com seu aspecto semântico inalterável. Assim, “se
ponte, fonte, e parede passassem para o grupo dos masculinos, só
haveria a estranheza inicial de quem já está acostumado a fazê-los
acompanhar de determinantes femininos, mas nenhuma alteração de
significado adviria. Continuaria com sua carga semântica
inalterável.” (ZANOTTO, p.66. 2001). Zanotto fala que muitos
substantivos da língua latina, passaram para o português e mudaram
de gênero. Exemplo: Quercus ( carvalho ) era feminino, e no
português tornou-se masculino. Em outro caso, diz Zanotto: “ Os
substantivos neutros, ainda no latim, obrigatoriamente trocaram de
gênero, passando a masculino ou a feminino.” (idem, p.66). Então
é correto afirmar que muitos gêneros em português são vacilantes:
o/a soja. Outros são indiferentemente masculinos ou femininos: o/a
personagem. Mas em qualquer dos casos sua como significante permanece
inalterável. Zanotto critica dizendo que “ pouco importa que as
gramáticas façam listas de alerta, fato, aliás, que comprova a
vacilação no uso, que é o verdadeiro fato lingüístico
analisável. A lista da gramática é imposição normativa. A
gramática determina: cal, cólera, dinamite como femininos; e
sentencia que dó, telefonema, grama como masculino. O uso,
indiferente às preocupações dogmáticas, está indeciso; oscila
entre um e outro; varia conforme a região, a ocasião, e o nível.”
(idem, p. 66).Todavia, o mais importante é que a carga semântica
desses substantivos não se altera, “nem com as determinações
dogmáticas, nem com as vacilações do uso.” (idem, p. 66). Alguns
substantivos irão sofrer alterações: heteronímia, no caso, homem
– mulher ; flexional, gato – gata ; e derivacional, galo –
galinha.
Para
Maria Cecília P. de Souza e Silva e Ingedore Villaça Koch no livro
“ Lingüística Ampliada ao Portugues: Morfologia”, as gramáticas
deveriam ensinar o gênero dos substantivos a partir da descrição
proposta, baseando-se, em primeiro lugar, na forma masculina ou
feminino do artigo e considerando, em segundo lugar a seguinte
definição abordada por Silva e Koch: Primeiro, nomes substantivos
de dois gêneros com uma flexão redundante: o lobo; a loba; o
pintor; a pintora; o mestre; a mestra. Em segundo, nomes substantivos
de dois gêneros sem flexão aparente: o/a camarada; o/a selvagem;
o/a mártir. E em terceiro lugar, nomes substantivos de gênero
único: a pessoa; a testemunha; o algoz; a mosca. As duas autoras
ainda acrescentam: “ Na descrição do gênero, como nas descrições
lingüísticas em geral, é indispensável delimitar o plano
gramatical e o lexical, tendo em vista que a gramática trata dos
fatos gerais da língua e o léxico, dos fatos especiais. Assim , a
descrição gramatical deve ser completada com as informações de um
dicionário ou léxico, que seria constituído. De uma série não
ordenada de regras lexicais, englobando todas as propriedades
idiossincráticas de cada um dos itens lexicais. Caberia então, a um
dicionário do português, registrar as ocorrências de gênero não
explicáveis pelos padrões gerais da gramática.” ( SILVA, KOCH,
p.51, 2003).
Entretanto,
algumas gramáticas até hoje ainda tem uma classificação para o
gênero muito atrasada, o que dificulta distinguir qual a maneira
correta de se classificar o feminino e o masculino para alguns
substantivos. Obviamente que a língua portuguesa por ter uma ampla
complexidade, e oferecer de maneira, muitas das vezes desordenadas,
palavras que acabam confundindo. E numa perspectiva gramatical, no
caso da definição de gênero, a confusão é ainda mais complexa.
Silva e Koch falam que nem todas as palavras vão ser marcadas
flexionalmente, mas embora tais palavras admitem a anteposição de
um artigo, o que já foi citado antes. As duas lingüísticas alegam
que, consequentemente, a flexão de gênero, no caso o artigo
anteposto, nos nomes é um traço assessório, redundante. “Essa
flexão, acessória e redundante, embora se caracterize por um
mecanismo simples, apresenta-se como um dos tópicos mais incoerentes
e confusos de nossas gramáticas.” ( idem, p. 48). Para finalizar,
as duas autoras irão dizer que quanto à natureza, o gênero costuma
ser associado intimamente ao sexo dos seres. Silva e Koch defende
vários argumentos contra está tese, em um deles discorre que “ o
gênero abrange todos os nomes substantivos da língua portuguesa,
quer seja referente a seres animais, providos de sexo, quer designem
apenas coisas. (...) O conceito de sexo não está necessariamente
ligado ao de gênero.” (idem, p. 49).
Para
finalizar é correto dizer que “o gênero significa bem mais que
simples distinção de sexo.” (ZANOTTO, p. 66). Assim fala Zanotto
que vê como a maioria dos lingüistas defeitos na gramática
portuguesa, especificamente nesta questão de gênero. Entretanto
deve-se lembrar que as gramáticas em sua maioria ainda obedecem a
uma norma antiga, e quase geralmente se atualizam. Mesmo sabendo que
a língua está em constante processo de transformação. Hoje, por
exemplo, existem termos novos que o português ganhou, outros que se
foram. A palavra madeira que alguns lingüista já flexionam com seu
masculino madeiro, antes não se flexionava, hoje em dia algumas
gramáticas ainda não absorveram esta realidade. Estes e outros
preconceitos ainda são visíveis na língua, a qual sempre está
evoluindo ganhando e perdendo palavras. O gênero é só mais um dos
tantos problemas que a gramática apresenta, já que tida com
retrógrada, a gramática não aceita termos modernos. A língua
elemento volúvel no ser humano, sempre deve ser revista e estudada,
nunca deve prender-se ao passado.
O gênero
feminino e masculino não deve ser confundido com a questão
biológica, assim afirmam os linguistas, pelo motivo simplório de
que gênero e sexo são duas coisas posteriormente não coesas. Mas
os gramáticos ainda permanecem no erro de reafirmar o contrário não
dando importância de classificação. O que se verifica neste
emaranhado de erros é a não consideração pelas lacunas que é
visível, como no caso da gramática de Cunha e Cintra, citada logo
no começo do texto que diz que é sempre difícil conhecer o gênero
de um substantivo pela sua terminação. Estas é uma das tantas
lacunas que a gramática ainda apresenta em suas páginas.
REFERÊNCIAS
CUNHA,
Celso. CINTRA, Luis F. Lindley. Nova Gramática do Português
Contemporâneo. -5. ed. - Rio de Janeiro: Lexikon, 2008.
ZANOTTO,
Normelito. Estrutura Mórfica de Língua Portuguesa. - 4. ed. -
Caxias do Sul: EDUCS, 2001.
SILVA,
Maria Cecília Pérez de Souza. KOCH, Ingedore Villaça. Lingüística
Apliada ao Português: Morfologia. – 14. ed. – São Paulo:
Cortez, 2003.
PAULO MONTEIRO DOS SANTOS
Graduado em Letras (UNEB); Graduado em filosofia (FAVI)