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quarta-feira, 31 de julho de 2013

Artigo: A VISÃO GLOBALISTA DE LUIS DE CAMÕES EM OS LUSÍADAS REVELADA NO POEMA DOS CASTELOS DA OBRA MENSAGEM DE FERNANDO PESSOA


Damaris Passos da Silva[1]
Gilvanete de Brito Ferreira[2]
Paulo Monteiro dos Santos[3]



RESUMO: Este trabalho consiste em discutir na obra Mensagem de Fernando Pessoa, mais propriamente no poema Dos Castelos, primeira poesia do livro, em uma intertextualidade com a introdução de Os Lusíadas de Camões, mostrando a proporção de globalização na perspectiva da interação entre as nações relacionadas a Portugal e aos países conquistados na época das grandes navegações, que é demonstrada no poema. Este trabalho se fundamente na teoria revisionista para falar sobre a visão que Camões mostrou dos feitos de seu povo português, e a mensagem que Fernando Pessoa conseguiu compreender, principalmente a amplidão do tema a que é narrado em Os Lusíadas. Um olhar de globalização entre Pessoa e Camões, a qual, os dois autores abordam em suas obras, Mensagem e Os Lusíadas.




PALAVRAS-CHAVE: Discussão. Intertextualidade. Globalização. Portugal. Navegações. Revisionismo. 
1 INTRODUÇÃO

Apresentamos aqui neste trabalho uma discussão sobre estes dois grandes autores da língua português, que viveram em diferentes épocas e tiveram estilos literários distinto. Nossa proposta é fazer uma analise, na introdução do livro Mensagem, mais propriamente no poema Dos Castelos[4], e qual a abordagem que o poeta Fernando Pessoa está a nos mostrar, fazendo uma releitura da introdução do poema os Lusíadas. Para isso buscamos suporte na teoria revisionista para a discussão de nossas idéias.    
Ante de se discutir qualquer coisa sobre Fernando Pessoa e Luiz de Camões é importante se conhecer este dois vultos da língua portuguesa. Quem são? E qual a magnitude de sua obra. Começamos a falar sobre Camões que é por excelência, juntamente com Pessoa, o maior poeta da nossa língua.
Sobre a vida de Camões o que se sabe ainda é muito pouco. Sabe-se que nasceu em Lisboa em 1524, ou talvez em 1525, não se pode afirmar com veracidade, nem mesmo sobre o local de nascimento. O que se sabe é quando jovem teria frequentado a vida palaciana.
Filho de família aristocrática da Galiza, (MOISES, 2005) devido sua vida na nobreza, consegue uma boa formação intelectual, lendo Homero, Horácio, Virgílio, Ovídio, Petrarca e outros. (MOISES, 2005). Sabe-se também que se meteu em varias confusões quando jovem.

No entanto, se se não pode provar que o poeta vivesse sempre nesta atmosfera de salão, não é menos verdadeiro ser bastante problemático a sua convivência assídua com gente de baixa estrutura moral, embora as energias que nele tumultuavam nem sempre se contivessem. (RAMOS, 1973, p.17)

            Dentre muitas confusões, as quais o poeta se envolveu, uma delas com “a Infanta D. Maria, filha de D. Manuel e irmã de D. João III.”( MOISÉS, 2005, p. 53). Camões também fere com a espada, em 16 de junho de 1552, o encarregado dos arreios do rei, Gonçalo Borges. Que segundo Ramos (1973), ocasionou a sua prisão no Tronco de Lisboa. Punição que cumpriu até março do ano seguinte.


A 7 deste ultimo mês e ano, uma carta de perdão tornar possível, de novo, a sua liberdade: o agredido estava já são e sem aleijão nem deformidades, e o poeta resolvia ir para Índia em serviço de El-Rei. Pobre, não tinha outro remédio; exaltado, tinha melhores lugares por onde prodigalizar a sua valentia. ( RAMOS, 1973, p.16)

            Desde o desembarque em Goa, Camões não permanece mais fixo em um determinado local. Servindo El-Rei, participa de vários combates em terra e varias aventuras por mar. Sobre uma desta aventuras escreve Camões:

Só com vossas lembranças
me acho seguro e forte
contra o rosto feroz da fera morte,
e logo se me ajuntam esperança
com que a fronte, tornada mais serena,
torna os tormentos graves
em saudade brandas e suaves
(1555, apud RAMOS, 1973, p.18)

Nota-se uma certa nostalgia do poeta e um descontentamento com que via suas viajem e com seu trabalho como soldado.  Logo após regressa a Portugal começa outra batalha que seria a publicação de sua obra máxima, Os Lusíadas. “Vencida as dificuldades, censurada a obra pelo espírito compreensivo e muito culto de Fr. Bartolomeu Ferreira, foi publicada em 1572” [...] (RAMOS, 1973, p.20)
Uma pequena cota em dinheiro de 15 000 (quinze mil) réis, é lhe oferecida por D. Sebastião. Com este dinheiro sobrevive até sua morte em 10 de Junho de 1580.
Para a época está não era uma suma de dinheiro a que uma pessoa pudesse viver economicamente bem, então podemos dizer que Camões morreu na miséria.  
O poeta Fernando Pessoa, diferentemente de Camões nasce no final do século XIX, em 1888 na cidade de Lisboa.  Sua vida não foi muito fácil. O pai do poeta morreu quando ele tinha apenas cinco anos em 1893, e seu irmão morreu no ano seguinte sem ter completado nem um ano de nascido. Por este mesmo ano nasce o seu primeiro heterônimo, e seu primeiro poema, A Minha Querida Mãe, segundo o próprio autor.

Ó terras de Portugal
Ó terras onde eu nasci
Por muito que goste delas
Ainda gosto mais de ti.
(1893,apud, wikisource, 2013)

A mãe do poeta casa-se em 1895 com o cônsul de Portugal em Durban (África do Sul) e Pessoa muda-se para África onde passa quase toda a sua juventude e recebe educação inglesa. No colégio começa a se destacar como escritor.
Em 1905 retorna a Portugal e passa a viver com a avó, ai começa uma intenção produção literária e atividades como crítico em jornais da época. Em 1915 participa da revista literária Opheu, revista que lançou o movimento modernista em Portugal.
É na revista Orpheu que começa a aparecer seus principais heterônimos, Alberto Caeiro, Álvaro de Campus e Ricardo Reis.
No ano de 1935 o poeta morre vítima de cirrose hepática, deixando uma vasta obra literária.
De inicio perguntamos o que tem estes dois vultos da poesia portuguesa em comum alem da genialidade? E qual é a ligação entre os dois poetas?
Acreditamos que a resposta para tal questionamento esteja no seu país de origem, Portugal. E mais ainda. Esteja também na crença em reviver um Portugal glorioso, como este o era nos tempos das grandes navegações.
Talvez este seja o elo que Pessoa fez em seu livro Mensagem, descobrindo-o nos Lusíadas de Camões. Mas acreditamos que há mais coisas que Pessoa visualizou em Camões, coisas que diz respeito não só a Portugal, mas também aos países de língua portuguesa, e sobre como Portugal ajudou a mostrar ao mundo outros mundos alem do europeu.

2 O POEMA DOS CASTELOS COMO VISÃO GLOBALISTA NAS NAVEGAÇÕES DE  OS LUSÍADAS DE CAMÕES?

Ao lermos o primeiro poema de Fernando Pessoa em seu livro Mensagem, (O Dos Castelos) logo notamos que não é um simples poema com simples metáforas, tão pouco, com frases clichês.  Nota-se que Pessoa não irá abordar uma ingênua introdução que a principio do texto mostra querer fazer um mapeamento de Portugal.






A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.
(PESSOA, 2013, p.2)

Diga-se que nesta estrofe observamos que o poeta tenta nos dizer onde está localizado Portugal, sua área geográfica, evidentemente na Europa.
“De Oriente a Ocidente jaz, fitando [...]” (PESSOA, 2013, p. 2), porém neste verso é de se notar que Pessoa  nos revela que seu continente olha prostrado e com atenção para o oriente e  ocidente. Que atenção seria está?
É relevante dizer que na época de Fernando Pessoa, a Inglaterra era a superpotência que ditava a ordem mundial sob o braço forte da rainha Vitória. Pessoa vivia a era vitoriana.
Portugal também foi uma superpotência que dominou os mares entre o séculos XV e XVI. Antes de Portugal só mesmo o império romano teve maior poder. O que queremos mostra com isso, é justamente revelar o que nós diz Pessoa na segunda parte do poema:
O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
(PESSOA, 2013, p.2)        

Esta estrofe se remete aos paises que tiveram grande poder, um antes de Portugal, e o outro logo após.
Um fato curioso é que Portugal estava em crise justamente na era vitoriana. Tinha perdido sua principal colônia, o Brasil, e na época de Camões também tinha perdido seu poder para a Espanha.
Acreditamos que está estrofe se assemelha bem a uma passagem de os lusíadas que fala:

Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Netuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se levanta.
(CAMÕES, 2013, p. 2)

Duas civilizações que alcançaram poder e gloria representados por Alexandre, grego, e Trajano, romano.
Foi apenas com Alexandre que a Grécia teve seu apogeu. Trajano fez a mesma coisa em Roma. Com ele o império romana teve a maior área territorial conquistada a que se tem noticia na história da humanidade.
O que se percebe é uma ligação, propositalmente analisada na obra de Pessoa em relação a obra de Camões. Uma evidência que estes dois autores depõem em relação a decadência que Portugal passava no período em que ambos poetas viveram.
O mais interessante no poema de Pessoa é quase que uma espécie de profecia que o poeta diz na penúltima estrofe:

A mão sustenta, em que se apóia o rosto.
Fita, com olhar sphyngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.
O rosto com que fita é Portugal.
(PESSOA, 2013, p.2)

Ora, quem seria este futuro do passado? Lembrando que falamos de superpotência. O que julgamos ser dito nesta passagem pelo poeta é uma alusão a América. “Ocidente, futuro do passado.” [...] (PESSOA, 2013, p.2) Mas a que país se refere Pessoa? Estados Unidos? Brasil? Talvez não esteja se referindo a um país especificamente, mas a toda a América. A uma visão globalista de poder.
Seria o mais provável que analisássemos este olhar globalista que Pessoa viu em Camões, ou seja, na revelação que Portugal fez ao mundo, sobre o que as grandes navegações portuguesas mostraram ao mundo como novas terras, novos povos, novas culturas.
“O rosto com que fita é Portugal.” (PESSOA, 2013, p.2) Obviamente que não foi fácil para a humanidade este globalismo feito durante a era das grandes navegações pelos portugueses. Sobre isso diz Fernando Pessoa no seu celebre poema Mar português, também do livro Mensagem:
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
(PESSOA, 2013, p.11)

O fato é que não foi fácil para ninguém. Morreram índios, africanos e europeus, neste choque de culturas, como diria Euclides da Cunha (2002).
Em fim, o que queremos mostra é justamente este globalismo que acreditamos está manifestado na obra de Pessoa, mostrada como mensagem, em um intercambio com o livro Os Lusíadas do poeta Camões. Sabendo que os dois poetas, como se observa na biografia de ambos, viveram em diferentes culturas. Pessoa morou na África do Sul, falava inglês e viajou por varias partes. Camões da mesma forma. O poeta Camões em especial é um profundo conhecedor de varias culturas por ter combatido e morando em partes da rota marítima feita pelos portugueses. Isso lhe deu o privilégio de conhecer o mundo.
O que se evidencia nas obras aqui discutidas é o globalismo que falamos antes, como Fernando Pessoa viu este fenômeno em Camões e sua ligação com a união de povos e culturas em uma cadeia global antes desconhecida do mundo tido como moderno que era a Europa. 

CONCLUSÃO

É evidente que Camões e Pessoa viveram em períodos diferentes, mas sendo os dois poetas de uma criatividade estupenda, observamos que sempre estavam preocupados com seu povo, sua pátria e sua cultura. Portanto, a obra destes dois vultos da literatura portuguesa se mostra para alem de um simples regionalismo, se englobam em um contexto muito mais universal que nacional.
O que se diferencia nestes dois poetas é este universalismo que trabalharam em suas obras, enaltecendo Portugal, e a contribuição que seu país deu ao mundo explorando e mostrando suas culturas.
Logicamente que não podemos deixar de lado as tragédias causada pelas explorações feita por Portugal em suas colônias, mas de certa forma, temos que reconhecer que houve sim uma integração entre os povos.
A obra de Fernando Pessoa localiza a mensagem na obra de Camões, e qual é esta mensagem? A de novas conquistas, novas terras, novas culturas, em um globalismo, de ligação entre povos e nações emergentes, e um novo olhar sobre a língua portuguesa. 


REFERÊNCIA

PESSOA, Fernando. Mensagem. Disponível em: < http://www.cfh.ufsc.br/~magno/mensagem.htm > Acesso em 10 de jul. 2013.

CAMÕES, Luis Vaz. Os Lusíadas. Disponível em: < www.nead.unama.br > Acesso em 12 de jul. 2013.

RAMOS, Manuel Paulo. A vida de Camões. Coimbra: Porto, 1973.

CUNHA, Euclides da. Os Sertões. São Paulo: Martins Claret, 2002

MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa.  São Paulo: Cultrix, 2005.
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. disponível em:  < http://www.priberam.pt/dlpo/ > Acesso em 12 de jul. 2013.










  


[1] Graduando do 6º semestre do curso de Letras Vernáculas na Universidade do Estado da Bahia- UNEB- Campus XXII- Euclides da Cunha/BA- E-mail: damaris_dam15@hotmail.com
[2] Graduando do 6º semestre do curso de Letras Vernáculas na Universidade do Estado da Bahia- Campus XXII- Euclides da Cunha/BA- E-mail: gilvanete_girl@hotmail.com
[3] Graduando do 6º semestre do curso de Letras  Vernáculas na Universidade do estado da Bahia- UNEB- Campus XXII- Euclides da Cunha/BA- E-mail: paulmontec@hotmail.com

[4]  Poema que inicia a primeira parte do livro Mensagem de Fernando Pessoa.