Anunciante

quinta-feira, 16 de julho de 2020

CRÔNICA: COMO VENCER UM JOGO DE FUTEBOL

Experiência de quem já jogou: Mesmo que eu tenha bons jogadores, mas um foi expulso, a vitória não vai está tão assegurada assim.

Digamos que eu tenha onze jogadores e nenhum foi expulso, mas me faltam jogadores bons em suas áreas específicas, a vitória também não estará tão assegurada.

Digamos que tenha os onze jogadores, todos bons em suas áreas específicas, mas não tenha um bom técnico, ou uma mente estrategista, a vitória ainda não está assegurada.

Digamos que tenha tudo isso, porém, se o entrosamento da equipe não for bom, não tenho ainda segurança de uma vitória.

Digamos ainda que tenha tudo isso, mas se não tiver ainda uma boa disposição psicológica nos jogadores, tão pouco tenho segurança na vitória.

Moral da história: Em um jogo de futebol é mais inteligente pensar na derrota para assegurar a vitória.


 

Paulo Monteiro dos Santos

Graduado em Letras e Filosofia

Email: paulus.monterum@gmail.com


terça-feira, 7 de julho de 2020

RESENHA: PSICOLOGIA DO INCONSCIENTE DE CARL G. JUNG

PAULO MONTEIRO DOS SANTOS[1]

 

 

CREDENCIAS DO AUTOR

 

Carl Gustav Jung (1875-1961) nasceu na Suíça, foi um psiquiatra e psicoterapeuta discípulo de Freud, de qual rompeu e depois formulou suas próprias teorias sobre o inconsciente. 

                                                                                    http://obviousmag.org/alfredo_passosbr/2017/os-filmes-influenciados-por-carl-gustav-jung.html

REFERÊNCIA DA OBRA

 

JUNG, C. G. Psicologia do Inconsciente. Tradução de Maria Luiza Appy. Petrópolis, Vozes, 1987.


RESUMO: Psicologia do Inconsciente é a obra em que Jung tenta fazer o que se chamaria de sua teoria geral do Inconsciente. Geral a que se refere aqui, é sua visão não restrita a um tema em específico do inconsciente, mas algo que abrange tudo um esquema, ou uma espécie de mapa conceitual e complementar da teoria freudiana.

 

Na primeira parte, chamada A Psicanálise, Jung descreve a teoria de Freud, como um método no tratamento das neuroses e psicoses. Esse método, como o próprio nome já diz, é analítico. Tal método criado por Freud tinha como principio lançar a base para uma psicologia das neuroses (p.1-2). Mais adiante, Jung, em observações clínicas, chega à constatação, que a maioria dos traumas humanos, de certa maneira, se relacionam com conflitos eróticos em nossa psiquê, e que o amor tem um grande significado na vida do ser humano, mas não apenas o amor. (p.10)

 

Jung intitula a segunda parte de Teoria do Ego. Neste capítulo, retoma sua constatação anterior e começa a analisar que uma neurose é um conflito entre duas potencias no sujeito: a natureza e a cultura. Recorda-se aqui que uma parte deste conflito é erótica. Como então resolvê-lo através da psicanálise? (p.13) O autor aponta que pelo estudo dos sonhos, desenvolvidos por Freud, se foi possível chegar aos verdadeiros problemas das neuroses: “O sonho é a via regia para chegarmos ao inconsciente.” (p.13) Sendo assim, os casos de uma neurose ou mesmo de uma psicose, estão relacionados com o inconsciente, e mais: o inconsciente faz um conflito com o consciente, o qual pede quase sempre que reprima os seus desejos mais profundos. Para Jung, a terapia do sonho é a única forma eficaz no tratamento da neurose. Tais problemas estão intrinsecamente ligados a questão da sexualidade, mas que não é algo anormal, pelo contrário, é super normal, alias um conflito da natureza humana com sua cultura; um conflito do interior (inconsciente) com o meio exterior (consciente). O orgulho que o ser humano tem, às vezes é encarado como algo consciente, e pode-se associar esta consciência como algo bom ou de uma sã psicologia, sobre isso Jung protesta afirmando: “O excesso de animalidade deforma o homem cultural; o excesso de cultura cria animais doentes.” (p.20) Assim, se deve ter muito cuidado ao criar uma idéia de que todo que depende da razão é algo bom, mas se deve, antes de qualquer coisa, perceber e dar um equilíbrio entre a razão cultural com o inconsciente.

 

Na terceira parte, Outro ponto de vista, a vontade de poder, Jung vai expor, como o próprio nome sugere, outra análises sobre os conflitos entre instinto e cultura, que nos seus primórdios, não estão ligados apenas a questões eróticas, como assim afirmava Freud. Como exemplo Jung trás a vida e teoria do filósofo Nietzsche: Este filósofo viveu para além dos seus instintos e da moral cristã, mas tentar romper com tais conflitos lhe custou um preço. A filosofia de Nietzsche revela que no fundo do inconsciente humano, dorme um dragão que busca apenas o poder (p.23). Jung não descarta a questão do Eros freudiano, mas revela em seus primórdios que também o poder que se envolve nas crises neuróticas. O Eros seria apenas uma meta a ser atingido o poder do Eu. O que são as neuroses no fundo? Manobras que o inconsciente utiliza espertamente para atingir seus fins, tão somente vencer (p.32). Com essa teoria de Adler, Jung muda o foco do Eros, o qual Freud não deu a devida importância nos conflitos que surgem no sujeito a partir da disputa do poder.

 

A quarta parte: O problema dos tipos de atitude, o autor vai mais afundo na discussão das teorias de Freud sobre o Eros, e de Adler sobre o poder. Jung aponta que as duas teorias têm razão entre si quando aplicadas ao universo do inconsciente em relação as neuroses. De um lado Adler diz que o sujeito tenta manter sua superioridade sobre o objeto; Freud diz o contrário, que muitas das vezes é o objeto que mais influencia o sujeito. Jung observa que estas duas teorias são diferentes, mas que tem um ponto em comum. Conclui o autor que existem dois tipos de indivíduos: Um que se interessa pelo objeto e outros por si mesmo.[2] Este é o estudo de Jung sobre os dois tipos básicos de comportamento: A Introversão e a Extroversão (p.36). O primeiro com um comportamento mais intimista reflexivo, e o segundo um sujeito mais aberto que não tem medo dos riscos e que se adapta melhor. Dentro desses dois tipos, o neurótico age de forma muito inconsciente, por isso não se sabe, pelo fato de sua neurose, se a pessoa pode ser introvertido ou extrovertido, pois a mesma pode está escondendo sua personalidade. Por isso se diz que o sujeito assume uma dupla personalidade (p.36). Porém, a neurose pode ter seus pontos positivos, diz Jung: “Às vezes ajuda em alguns momentos e nos serve para entendermos que somos humanos, propensos aos erros” (p.36). Jung aponta, partindo do que foi dito antes, que o sujeito não tem controle total de sua energia psicológica, e o inconsciente pode se manifestar como uma energia que se mostra demasiada escapando do controle, tornando-se um transtorno neurótico. Desta maneira, é preciso uma canalização saudável dessa energia, a qual possa unir os dois pólos contrários. Duas pessoas só podem ter equilíbrio quando forem de pólos opostos: introvertido e extrovertido. Mas, sinaliza o autor: pode haver atritos, no entanto há um equilíbrio. “É no oposto que se ascende à chama da vida (p.45)”.

 

Na quinta parte, O inconsciente pessoal e o inconsciente supra pessoal ou coletivo, Jung divide o inconsciente em duas partes: 1) O pessoal, que diz respeito aos traumas e lembranças infantis, paixões da alma, etc; 2) O inconsciente coletivo, o qual tem uma espécie de reminiscência primordial, baseado em um passado que não é do próprio sujeito, mas sócio-cultural. Adverte-se aqui que esta memória coletiva é inconsciente. Explica-se: Esse inconsciente coletivo se liga ao mitológico: O inconsciente cria fantasias mágicas sobre uma situação: visões de fantasmas; manifestações transcendentes etc. mas tudo isso se deve apenas a esse tipo de inconsciente “onde jazem adormecidas as imagens universais (p.57)”. Jung, para provar sua teoria, diz que é como surgem nas teorias antropológicas dos mitos suas semelhanças e suas relações, graças a esse inconsciente coletivo: Hércules (mito grego), Sanção (mito hebraico) seria um exemplo de comparação.

 

No plano relacionado à questão da neurose, não só desta, mas as influencias que esta divisão do inconsciente (coletivo e pessoal) provoca no ser humano, põe em evidencia, no sujeito, uma luta de contrários: 1) período da juventude; 2) período da maturidade. O da juventude se caracteriza por uma fase natural: ter filhos, trabalhar, casar, (instintivo de procriação); A fase da maturidade é mais cultural, onde o sujeito precisa conservar valores. Jung defende que as neuroses sempre acontecem nesta fase da maturação, pois muitas pessoas em tal período querem manter-se jovens e se agarram a um momento estagnado da sua mocidade. Surgem assim uma crise de contrários, pois o inconsciente tenta voltar a uma vida passada e ao mesmo tempo reprimi-la. Nesse tempo é que começa um período de radicalização, conversões religiosas, rompantes amorosos, alcoolismo etc. Antes os ídolos eram outros, agora surgem novos, ou mesmo precisa-se mantê-los. Porém é preciso haver essa oposição interior de contrários no ser humano porque é ela quem garante a energia no sujeito. “Tudo que é humano é relativo (p.67)”, diz Jung, em uma relação de contrários. “Tudo isso significa ruptura e conflito consigo mesmo (p.68)”.

 

Neste capitulo, Jung fala também sobre sua teoria dos Arquétipos. Quando se regressa as recordações infantis e depois se avança para as pré-infantis, o sujeito se depara com o seu inconsciente coletivo, o qual são lembranças não vividas pelo individuo, mas que lhe serve como modelo, por isso Jung aponta-os como arquétipos. São memórias culturais que fomos introduzindo em nosso inconsciente e encarnando em nosso modo de ser e viver. Pode surgir como uma fase espiritual no sujeito, ou menos nos sonhos. Importante dizer que tudo se da de maneira inconsciente. (p.69).

 

Na sexta parte, O método sintético ou construtivo, Jung expõe o método que utilizou em suas pesquisas sobre o inconsciente. Claramente o método é o sintético, o qual decompõe as partes, estudando-as separadamente, para depois reuni-las numa ideia geral. Porém tal ideia não descarta a forma analítica. Explica-se: Apenas em um método de análise, pode se ocorrer o risco de não levar em consideração a experiência do paciente. Tão somente uma análise do sonho não é suficiente para chegar à raiz dos problemas neuróticos. Por essa razão, Jung leva em consideração não só o sonho do sujeito, mas também seu passado, infância e sua cultura. E o paciente precisa, por ele mesmo, se auto conhecer. Jung acredita que o método analítico, limita ao terapeuta a somente uma leitura do problema, por isso é importante decompor as partes em uma análise construtiva entre paciente e terapeuta. Não é correto fazer um diagnóstico com uma análise apenas do sonho, é preciso conhecer também a parte consciente do sujeito, e desta, fazer uma integração com o seu eu profundo.

 

A sétima parte, Teoria dos arquétipos do inconsciente coletivo, um dos capítulos mais significativos da obra, aborda com mais afinco a teoria sobre os arquétipos. O que são anjos, demônios, deuses? Será que tais seres existem? Para Jung, a maioria dos homens atuais diria que não. As pessoas antes do apogeu do Iluminismo e do racionalismo, na Europa da Idade Média, acreditavam no demônio, deuses e anjos, mas Jung aponta que tais fatos são arquétipos de nosso inconsciente coletivo, que foram sendo acrescentados por meio de uma cultura passada de geração em geração pela cultura. Quando houve a ascensão do racionalismo, não teve mais espaço para os arquétipos no inconsciente, porém não foi isso que a história mostrou. Jung sugere que estes arquétipos eram nossa irracionalidade a qual foi suprimida por um racionalismo moderno. Pela experiência da psicanálise, tudo o que é reprimido volta como neurose, assim esse irracionalismo voltou e causou as grandes guerras e as revoluções. Guerras irracionais, mas que foram justificadas por uma razão dominante. O autor diz que se pode concluir todo esse desequilíbrio na humanidade como uma neurose coletiva da repressão dos arquétipos. (p.81-103).

 

Na oitava parte, A interpretação do inconsciente: noções gerais da terapia, o autor salienta que o inconsciente não pode ser tratado como algo inofensivo, ou como um brinquedo, é preciso estar atento para as neuroses que o inconsciente pode apresenta, pois tais casos, quando não tratados, podem evoluir para uma psicose. Até mesmo pessoas que se julgam racionais, e não terem neuroses, podem estar guardando uma psicose latente, oculta (p.104). Assim, também um tratamento mal feito por parte do psicólogo pode afetar alguém ou mesmo o profissional da área.

 

Jung diz que um dos perigos do inconsciente, em ralação as neuroses, são as questões dos acidentes, sejam domésticos, automobilísticos, etc. Às vezes o inconsciente já vem planejando esses acidentes meses antes, ou mesmo anos: “Examinei grande número de casos dessa ordem, e pude comprovar que muitas vezes, semanas antes, os sonhos já revelaram uma tendência autodestrutiva. (p.105).” Mas não se deve com isso, protesta Jung, apenas olhar a parte negativa do inconsciente. Este, por sua vez, tem todo o acumulo de uma conhecimento coletivo, conhecimento que pode beneficiar o consciente em seu transcender e sublimação. O que se pode fazer é uma integração entre inconsciente e consciente na ajuda ao sujeito de tratar sua neurose ou psicose.

 

Concluindo, Jung fala que o tratamento terapêutico pode ser descrito como algo muito difícil de ser feito na práxis, o que não parece quando é descrito em trabalhos acadêmicos, mas se faz em um processo delicado. O tratamento da neurose pode ajudar alguém de forma rápida, ou de forma lenta, dependendo do sujeito. “No fundo, tudo é experiência nessa psicologia. (p.107).”

 

INDICAÇÃO DA OBRA

Este texto é indicado para pessoas que trabalham e estudam na área da Psicologia, Pedagogia e mesmo para um público que procura conhecer melhor as teorias em torno do seu inconsciente.     

 

 



[1] Graduado em Letras (UNEB) e Filosofia (FAVI)

Email: paulus.monterum@gmail.com

[2] Depois desta crítica de Jung, Freud escreveu a obra Introdução ao Narcisimo, e nesta obra Freud faz um estudo geral sobre estas duas tendências.


terça-feira, 30 de junho de 2020

PEQUENO ENSAIO SOBRE O ATEÍSMO CRIACIONISTA CIENTIFICISTA DE RICHARD DAWSKINS

PAULO MONTEIRO DOS SANTOS[1]

 Antes de abordarmos nosso tema devemos definir de modo geral o que vem a ser o ateísmo. O ateísmo é um movimento que não crê em religião, nem no sobrenatural (RODRIGUES, 2018, p. 61). Sobre esse aspecto devemos defini-lo também como na não crença em Deus, ou em qualquer outra forma de transcendente.

Embora, a palavra sobrenatural remeta a algo que é paranormal, definida como aquilo que está além da natureza, não invalida o fato que este é algo transcendente, e de certa forma, metafísico. Mas com bases filosóficas, não podemos cair no erro de dizer que a Metafísica é o sobrenatural.

É salutar pensarmos que o ateísmo científico nega a existência de Deus, das religiões e de qualquer tipo de transcendente. Isso é fato. Mas de acordo com o texto de Rodrigues (2018), as ideias ateísta baseadas na biologia de Darwin, e professadas por Richard Dawskins, não abandona a ideia da criação.Devemos aqui lembrar que esta ideia, por sua vez, foi introduzida pela religião semita hebraica. 

Parece-nos que foi abandonado a ideia de um ser criador (RODRIGUES, 2018, p. 61), mas não se abandonou a ideia de criatura. Abandonou-se a ideia de um engenheiro do relógio, mas não abandonou-se a ideia da engenharia do relógio. E se somos criaturas ficou a lacuna do criador.

Pensamos que existe um problema, que já Sartre apontava em o Ser e o Nada, o qual: se devemos abandonar a ideia de Deus, devemos abandonar a ideia de criação, e de qualquer forma, da lei necessária, ou seja, de qualquer axioma para explicar a realidade, pois esta se mostra puramente contingente, e os seres no mundo, em-si, estão em ato puro (SARTRE, 1997). Explico-me?

Mas qual é o problema da ideia de criação? É que tal ideia remete a pressupor o “nada” – ex nihilo fit – ens creatum. Mas para qualquer lugar que se olhe, não se vê esse “nada”. Tal fato é absurdo. Essa ideia não é nossa, mas de Sartre (1997) e Heidegger (1969). Desta forma, caímos novamente no homem como centralidade (o sujeito transcendental de Kant).

O nada, nesse sentido, é como se fosse um local onde as coisas fossem modeladas, criadas, emanadas, plasmadas e etc. Mas que local? Se digo que há um local eu já pressuponho espaço-tempo, e se afirmo isso digo que o espaço-tempo seria um “nada” absoluto. E assim a coisa vai ao infinito e suscita paradoxos absurdo, diga-se de passagem, se analisados com maior precisão.

O que queremos colocar é que, se for negado a ideia de Deus e pressupor a ideia de “criação”, e quase um erro redutivo, pois, é preciso explicar como se deu essa “criação” e como "o nada" pode se criar a si mesmo– “ex nihilo nihil fit[2]” (HEIDEGGER, 1969).

Assim a ideia do neo-ateísmo, cai em máximas relativistas. E a ciência passa a se propor como sendo ela uma religião onde não prova a “não existência de Deus”, e no mais, coloca outra coisa no lugar de Deus, que seria outro deus.

 

REFERÊNCIAS

 

HEIDEGGER, Martin. Que é metafísica. Tradução de ErnildoStein. São Paulo: Livraria duas Cidades, 1969.

SARTRE, Jean-Paul. O Ser e o Nada: Ensaio de ontologia fenomenológica. Tradução de Paulo Perdigão. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

RODRIGUES, S. G. F. Alister McGrath versus Richard Dawkins. In: VALLE, Edenio. (Org.). Ateísmos e irreligiosidades: tendências e comportamentos. São Paulo: Editora Paulinas, 2018.   



[1] Graduado em Letras (UNEB); Graduado em Filosofia (FAVI); Email: paulus.monterum@gmail.com

[2] Heidegger usa o termo, segundo ele vindo da Filosofia Antiga Grega, para dizer que do nada nada vem (HEIDEGGER, 1969, p. 40).


segunda-feira, 29 de junho de 2020

A ÉTICA KANTIANA: TEORIA CONTRATUALISTA DE IMMANUEL KANT

        

PAULO MONTEIRO DOS SANTOS[1]


             Kant afirma que o estado de natureza é social, mas limitado em leis que podem ser perfeitas ou imperfeitas. Existe sociedade no Estado de Natureza e se neste estado tudo vai bem, não se há a necessidade de mudar as coisas.

Na lei perfeita temos um preceito e uma sanção que faz a lei ser cumprida; nas leis imperfeitas temos preceitos, mas não há uma sanção, isso torna a lei enfraquecida.

O poder coato é uma força que obriga as pessoas a cumprirem a sanção da lei. A coação é justa quando ela restaura a liberdade; é injusta quando a coação restringe a liberdade de alguém. O que celebra o contrato é a obrigação moral das pessoas a cumprirem a lei.

O Estado surge através do poder Coato para garantir a nossa Liberdade. Essa Liberdade será do Uso público da Razão (Crítico) ou do Uso Privado (Instrumental).

O Uso publico da razão é um uso Crítico, ou seja, a discussão de uma regra de ser aberta a todos, e deve afetar, ou contemplar a toda a comunidade. O Uso privado da Razão é o uso instrumental: A discussão da regra só afeta o sujeito ou um determinado grupo, a cumprir uma tarefa para a qual ele se dispõem a fazer.

Agir pela lei significa que eu devo agir para respeitar o outro: eu obrigo a mim mesmo; Agir conforme a lei significa: agir porque a lei me obriga a fazer, do contrario sofro punição.  

A estrutura da Lei Moral e Jurídica, diz respeito ao agir. 1º) Na Lei Moral o agir é interno: a lei como uma obrigação do eu-com-eu: agir pela Lei; 2º) Na Lei Jurídica o agir é externo: É um agir conforme a lei. Eu não faço como uma obrigação por mim mesmo, mas porque posso sofrer uma pena se não agir de acordo com a regra.

No Imperativo Categórico a lei está no interior: é uma ordem ética dentro do Eu. No Imperativo Hipotético a lei está no exterior: a ordem que agi no sujeito é uma imposição da lei. É de fora para dentro.

Segundo Kant: para agir moralmente, tem que ter uma alma Santa: “O céu estrelado sobre mim e a lei moral dentro de mim,” e isso é quase impossível de ser feito. Por isso Kant coloca a metáfora da alma santa. A definição do Bem é impossível porque transcende os limites da razão, e a razão não pode conhecer a Metafísica, isso para Kant.

O Dever moral surge quando há dentro do sujeito uma autonomia: “Agir de tal forma que a máxima de tua ação possa tornar-se um principia universal de conduta. Agir pela lei”. Uma alma santa é: Agir de forma ética a fim de que esta ação torne-se um principio ético universal de conduta dentro do sujeito. Na alma santa não há mais um imperativo Categórico, há uma consumação do Sumo-Bem. 

Para Kant, temos três postulados: 1) Existe o Sumo-Bem; 2) A Liberdade; 3) A Imortalidade da Alma. Mas essas coisas só podem ser postuladas, nunca poderão ser provadas, pois elas caem sempre em aporias e contradições. Mas veja que ninguém pode postular algo que não existe.

O Esclarecimento é ser iluminado por uma racionalidade, tornar as coisas visíveis pela razão. Uma Autonomia da Razão.    

Quando temos uma sociedade incapaz de se direcionar sem uma autoridade, e precisa do discernimento racional de um tutor, temos uma sociedade, ou indivíduos dotados de menoridade: Uma incapacidade de tomar por sua própria razão, decisões. Fazer um julgamento de determinado assunto.

O tutor não é esclarecido, porque o esclarecimento está em movimento continuo, por isso não temos um esclarecimento definido. Muito menos uma tutoria esclarecida. Porque o sujeito que age como que se precisasse de um tutor, tem preguiça de pensar e tomar suas decisões.

Devemos ousar saber, se arriscar a experimentar na nossa razão, ter autonomia para decidir sem a tutela do outro. Assim poderemos ser mais esclarecidos.

O Estado não pode interferir na atitude do individuo pois, se assim for, ele aprisiona o sujeito em uma menoridade, castrando sua liberdade, ou seja, o estado não deve influenciar no pensamento das pessoas.

        O bom legislado, para melhorar a sociedade, deve fazer-se do uso publico da razão e garantir a liberdade das pessoas, por isso se cria as leis. A Lei no Estado de Natureza tem preceitos, mas não sanção. O legislador precisa criar leis que funcione e sejam sancionadas pelo poder coato, mas essas leis não pode favorecer a um bem individual, e sim geral, que atenda a toda a sociedade. Então, o uso publico vai garantir a cada sujeito particular sua liberdade. Mas a lei neste sentido, deve ser comum a todos, ela será Universal e dará garantia de qualidade a cada pessoa.   

Porque, um contrato que vai de encontro a liberdade de todos, não existe logicamente, e atende ao uso particular. Em outros termos: É um crime que tenta se impor como lei sem atender o uso publico da razão. O contrato é nulo quando não tem efeito: É um contrato ilícito; Anulado é um contrato que existe e pode ser corrigido, retificado, e pode tornar-se lei quando atende ao uso geral.

Para Kant, a lei foi feita para garantir a liberdade das pessoas (Entendemos liberdade como autonomia da razão, esclarecimento). Quando a lei restringe o pensamento das pessoas, ela impede o bem máximo da garantia de liberdade, e isso para Kant é um paradoxo. A lei não pode impedir o livre pensamento das pessoas. 



[1] Graduado em Filosofia (FAVI); Graduado em Letras (UNEB)

Email: paulus.monterum@gmail.com


REFERÊNCIAS

KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. In: ______.  Immanuel Kant. Tradução de Valerio Rohden e Udo Baldur Moosburger. São Paulo: Abril Cultura, 1980. v. 1. (Coleção Os pensadores).

KANT, Imannuel. O que é o esclarecimeno? In: ____. Textos Seletos. Tradução de Floriano de Souza Fernandes. 4. Ed. Petropolis: Vozes, 2010. p.63-71.

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario.  História da Filosofia: Filosofia pagã antiga. Tradução de Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 2003a. v. 1. (História da Filosofia).

 ______. História da Filosofia: Patristica e Escolástica. Tradução de Ivo Storniolo.São Paulo: Paulus. 2003b. v. 2. (História da Filosofia).

 ______. Históriada Filosofia: Do humanismo a Descarte.  Tradução de Ivo Storniolo.São Paulo: Paulus, 2004. v. 3. (História da Filosofia).

 ______. Históriada Filosofia: De Freud a atualidade.  Tradução de Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 2006. v. 7. (História da Filosofia).

PASCAL, Georges. Compreender Kant. Tradução de Raimundo Vier. 6. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.

 

quarta-feira, 20 de maio de 2020

O QUE É A FILOSOFIA?

PAULO MONTEIRO DOS SANTOS[1]

 

Resposta a questão: O que é Filosofia? A Filosofia é um ramo do conhecimento humano que estuda, ou se preocupa, com o Ser. Sobre isso é bom levarmos em consideração que essa disciplina não significa “Amor a Sabedoria”. Tal afirmação é o significado etimológico da palavra Filosofia. Heidegger[2] fez, em seu livro Conceitos Fundamentais da Metafísica[3], uma divisão do conhecimento humano que acreditamos ser bem sugestiva e oportuna:

1) Religião: a qual se preocupa com o Sagrado;

2) Filosofia: a qual se preocupa com o Ser;

3) Ciência: a qual se preocupa no estudo objetivo dos fenômenos;

4) Arte: esta se preocupa no fazer e na criação artística.

Pensamos que está é uma boa orientação para sabermos o que é a Filosofia.

Podemos ainda, dividir a Filosofia talvez[4] em dois blocos (não descartando outras divisões, esta é apenas uma forma didática):

a) Oriental: de caráter, por assim dizer, mais de uma análise mística;

b) Ocidental: de caráter mais racional, ou analítico.

A Filosofia Ocidental, cuja qual nós herdamos dos gregos e que estudamos nas salas de aula, abarca em suas análises cinco áreas que se preocupam com o estudo do Ser: 1) Ontologia; 2) Gnosiologia; 3) Estética; 4) Lógica; 5) Ética.

a)    A Ontologia estuda o Ser enquanto Ser;

b)    A Gnosiologia se preocupa no conhecimento do Ser;

c)    A Estética estuda a aparência do Ser;

d)    A Lógica na ordenação ou estrutura do Ser;

e)    E a Ética no comportamento do Ser;

Estas áreas também podem ser abarcadas em duas grandes áreas: I - De Condições naturais: Ontologia e Estética; II - De Condições Humanas: Gnosiologia, Lógica e Ética. Mas, todavia, isso não quer dizer que tais disciplinas não precisem nem do conhecer humano ou das condições naturais, porém existe entre elas uma mescla do Ser: enquanto Humano, enquanto Objeto (fenômeno).

A Filosofia estuda o Ser. Mas o que é o Ser? Se fizer uma análise ao longo da História da Filosofia, vamos concluir que o Ser sempre se diz indeterminado[5], embora filósofos tentassem determiná-lo, cada um em sua época e dentro de seu contexto. E por que o Ser é indeterminado? Porque a Filosofia não é Ciência, por essa razão não pode determinar o seu objeto de estudo (se é que podemos dizer que o Ser é um objeto como os fenômenos complexos da natureza).

Mas a Filosofia pode transformar-se em Ciência? Acreditamos que sim. O filósofo Austin[6] em sua teoria dos atos de fala[7] nos confirma tal feito quando tentou sistematizar a Linguagem em atos discursivos da fala. É possível também o contrário: a Ciência transformar-se em Filosofia? Sim. Um exemplo claro é a teoria das Cordas na Física, a qual beira a explicações quase que de caráter metafísico e que por sua caracterização Cosmológica, transcende ao conhecimento humano.   

Para ajudar, podemos ver está diferença entre Filosofia e Ciência em dois pensadores do século XX: Noam Chomsky[8] e Michel Foucault[9]: O primeiro afirma que por meios de mecanismos biológicos e sociais, o ser humano tem condições inatas para obter a estrutura da Linguagem; Foucault, diz que de alguma forma a própria cultura é quem determina a linguagem no homem e não o contrário. A explicação de Chomsky tem características mais científicas, pois tenta delimitar ao máximo a Linguagem ao homem, já Foucault tenta teorizar a Linguagem em um sentido de estrutura indeterminada.


           Tentamos sistematizar o significado do estudo de Filosofia para facilitar na sua compreensão, embora como observamos, qualquer tentativa de determinar a Filosofia seria um trabalho em vão já que está não é Ciência.


[1] Graduado em Letras (UNEB); Graduado em Filosofia (FAVI); E-mail: paulus.monterum@gmail.com

[2] Martin Heidegger (1889-1976)

[3] HEIDEGGER, Martin. Os conceitos fundamentais da metafísica: mundo, finitude, solidão. Tradução de Marcos Antônio Casanova. Rio de Janeiro: Forense, 2003.

[4] Esta divisão é nossa idéia.

[5] HEIDEGGER, Martin. Que é metafísica. Tradução de Ernildo Stein. São Paulo: Livraria duas Cidades, 1969.

[6] J. L. Austin (1911-1960)

[7] AUSTIN, John L. How to do things with words. New York Press, 1965. 

[8] Noam Chomsky (1928).

[9] Michel Foucault (1926-1984)


sexta-feira, 24 de abril de 2020

ENSAIO: RELAÇÃO JESUS E SÓCRATES; JESUS O TRANSGRESSOR DE VALORES, SÓCRATES O MANTENEDOR DE VALORES


PAULO MONTEIRO DOS SANTOS[1]
 

INTRODUÇÃO
 
            Nesta pequena reflexão iremos abordar o julgamento de Jesus e vamos fazer uma comparação, do mesmo, com o julgamento de Sócrates. Nosso objetivo com este conteúdo é mostrar que Jesus, diferentemente de Sócrates, foi um transgressor, mas que esta transgressão fora necessária para resgatar a dignidade do povo sofredor em seu tempo.
            Contrariamente, mas não menos virtuoso, Sócrates buscava salvar a democracia ética da cidade contra a corrupção individualista dos maus sofistas. Deste modo, acreditamos que os temas são distintos, mas cada um com sua nobreza e valor. Ratificamos que nosso foco não é teológico, porém, de certa forma, político-social. Não descartamos a teologia, no entanto, vamos usá-la como ponto de apoio ao assunto aqui explorado.
 

1 O JULGAMENTO SOCRÁTICO
 
            O primeiro ponto é sabermos que Sócrates não foi condenado por uma espécie de heresia em si, mas por ensinar aos jovens doutrinas ateístas, o que na verdade, e Platão tenta demonstrar na Apologia a Sócrates,[2] tal acusação é mentirosa, pois foi justamente o próprio oráculo de Delfos (por uma prática religiosa) quem anunciou a Sócrates que ele era o mais sábio dos homens.
            Assim, e há muitas mais provas sobre o fato, Sócrates não pode ser considerado um transgressor de valores, mas ao contrário: Sócrates foi o mártir dos costumes éticos atenienses, pois o mesmo acusou, em seu julgamento, que eram os sofistas os quais feriram a democracia de Atenas quando passaram a cobrar por seus ensinamentos, fato que era absurdo para o regime de Atenas.
            Analisemos isso: Sócrates morreu por defender os valores éticos morais da república contra as falsas doutrinas. Logo em seguida, o filósofo não recusou a sua pena. Quando, segundo Platão, seus discípulos o aconselharam a fugir, Sócrates recusou esta atitude e abraçou a morte sem arrependimentos. Morrer por crer que a maioria, e esta era a República, o condenava a morte.[3]
 
2 O CASO JESUS
 
            O caso de Jesus é parecido ao de Sócrates, mas não é o mesmo. Primeiro que não havia uma república em Israel no tempo de Jesus; Segundo: os grupos sociais políticos eram distintos dos de Atenas; Quarto: Jesus de fato transgrediu-o os valores dos regimes judaicos. Vamos entender tudo isso.
            Israel era uma monarquia, a qual estava fragmentada em dois reinos: do Sul e do Norte, Judá e Samaria; Além disso era dominada por outro império: O romano. Não havia em Israel uma unidade governamental. Opostamente a classe ateniense onde todos eram cidadãos e tinham a palavra no senado, Israel era formado por vários grupos: Saduceus: espécie de aristocratas; Fariseus: os chamados mestres da lei; Os rebeldes Zelotes; e religiosos extremistas como os Essênios. Por último e menos importantes estavam os Anawin: os chamados pobres de Javé. Essa era a situação sócio-política em Israel.[4]
            Jesus logicamente nasceu neste contexto e e era um dos pobres de Javé. Nasceu neste contexto e transgrediu os valores quando afirmou abertamente no templo que ele era o Filho de Deus. E para confirmamos esta transgressão, observamos que antes, no monte das Oliveiras, quando os guardas perguntaram entre os discípulos de Jesus, quem era Jesus o Nazareno? O próprio Jesus responde: “Eu sou”, pronunciando o nome de Deus a sua pessoa. Ato criminoso. Além de ter confirmado no próprio pátio do sinédrio essa mesma blasfêmia.
            Sem sombra de dúvidas, a acusação fez a parte dela em mostrar que diante da lei Jesus estava errado. Mas porque Jesus fez tal heresia? Talvez a resposta esteja nestes pobres de Javé, os anawin. Quem eram estes pobres? Eram os leprosos retirados das cidades e que ninguém tocava; eram as viúvas doentes que os fariseus não atendiam; eram os pescadores explorados pelos cobradores de impostos; eram as prostitutas que sofriam com seus transtornos sexuais; Eram os josés carpinteiros; as marias desamparadas; os cegos na porta do Templo; os coxos que sofriam por acreditarem que seus problemas físicos eram a culpa de seus pais. Jesus transgrediu os valores por esta gente.
            De certa maneira, Jesus morreu para cumprir uma nova aliança entre Deus e os pobres anawin que padeciam no deserto. Ainda antes de morrer, apareceu o último pobre, o ladrão arrependido! Ora, um criminoso arrependido não é digno do perdão? Parece que para Jesus era.
 
3 JESUS O TRANSGRESSOR
 
            Parece-nos que Jesus morreu transgredindo todos os valores em Israel. Já em seu nascimento começa as primeiras transgressões. Sua mãe Maria e seu pai José, são os primeiros a irem de encontro a estes valores: José, criminosamente protege Maria a qual teve um filho fora do casamento. Outra transgressão de Jesus era de ser chamado, mesmo pelos fariseus, de Rabi: mestre das escrituras sem nunca ter estudado numa escola de tradição farisaica. Depois, e aqui se aumenta as transgressões, Jesus trabalha no sábado; toca no leproso impuro; na prostituta; e o mais absurdo das transgressões para os doutores da lei: perdoa pecados. Assim, diziam os fariseus: “Quem é este homem que perdoa pecados? Que loucura é essa?”[5] Jesus sistematicamente, rompe todos os valores possíveis do seu tempo em nome de uma causa: Os pobres de Javé: Anawin.
            E qual a causa de tudo isso? Jesus queria lhes dá uma esperança, um motivo para viver, uma dignidade. A dignidade do Pai para aqueles que mais padeciam em Israel, por isso prometia a estes pobres uma ressurreição dos mortos. Até seu último ato foi o de proteger seus pobres no monte das Oliveiras: “Os amou e os amou até o fim”, exalta o os Evangelhos.
 
CONCLUSÃO
 
            Evidentemente que o compromisso total de Jesus era dar esperança ao seu povo, mesmo que isso lhe custasse a vida. Enquanto que Sócrates tentava manter os valores, Jesus tentava rompê-los, pois os mesmos eram injustos. Duas atitudes nobres, mas um foi mantenedor, o outro transgressor. Sócrates morreu para a dignidade da pólis; Jesus pela dignidade das pessoas. Concluímos afirmando que os atos podem ter seus motivos parecidos, mas são bastante diferentes em linhas políticas e sociais.         

[1] Graduado em Letras (UNEB); Graduado em Filosofia (FAVI). E-mail: paulus.monterum@gmail.com
[2] PLATÃO. Apologia de Sócrates. Trad. Manuel de Oliveira Pulquério. Edições 70. Lisboa, 2009.
[3] PLATÃO, República. Tradução Maria Helena da Rocha Pereira. 9. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbbenkian, 2001.
[4] Bíblia de Tradução Ecumênica, TEB, São Paulo: Loyola, 1994.
[5] BÍBLIA – Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002.

domingo, 5 de abril de 2020

RESENHA CRÍTICA SOBRE DO TEXTO INDÚSTRIA CULTURAL DE HORKHEIMER E ADORNO


Paulo Monteiro dos Santos[1]

 


CREDENCIAIS DOS AUTORES
 

Max Horkheimer (1895-1973. Nasceu em Nuremberga, Alemanha) e Theodor W. Adorno (1903-1969. Nasceu em Frankfurte, Alemanha) são dois grandes filósofos e os principais representantes da Escola de Frankfurt na Alemanha.


HORKHEIMER, Max & ADORNO, Theodor. A Indústria Cultural: O Iluminismo como Mistificação de Massas. Pp. 169-214. In: LIMA, Luiz Costa. Teoria da Cultura de Massa. São Paulo: Paz e Terra, 2002. 364p.



RESUMO: O texto de Horkheimer e Adorno: “A Indústria Cultural: O Iluminismo como Mistificação de Massas”, expõe como principal conteúdo: o monopólio dos meios de comunicação, o qual se funda em transmitir uma cultura de dominação e retardação social, que tem por fim, atrofiar o sujeito em um eterno consumismo.



Horkheimer e Adorno, a princípio, apontam que a cultura atual não é um caos, embora possa parecer, mas tem um centro, o qual se fundamenta na verdade do negócio. Por trás desta cultura existe uma racionalidade técnica, e nesta técnica, o talento pertence não mais a cultura, mas a uma determinada indústria, porém quem manda são as grandes potencias do mercado.

Cinema, TV, (e em nossos dias a internet), defendem algo diferenciado e democrático, porém essa uniformização é contraditoriamente igual. O mundo não é diferente do que passa na TV nem no Cinema, mas o espectador acredita que seja, e que o seja ainda como uma extensão de sua própria vida, que no fundo não é.

A racionalidade técnica só serve a economia, e a indústria cultural está muito distante da arte, no entanto, dela se serve. A TV, imprimi a força maior da indústria cultural, pois nela está contida: a imagem, o texto, o som, o filme (hoje é a internet que faz esse papel). A racionalidade da indústria cultural passou-se a ser uma irracionalidade. Todo o mundo passou pelo crivo desta industrialização, e esta, atrofiou o espírito criativo do homem.

A indústria cultural é também uma negação de estilo. Este, e seja qual for o estilo, deve se reconciliar com a universalidade autêntica, mas a arte, em si, tem de está em confronto com a tradição, pois assim, ela transcende e rompe com a tradição. Se a arte ficar somente no poder universalizante da indústria cultural, a arte passa a ser tão somente ideologia.

A indústria cultural nos deixa livres para viver qualquer estilo, mas nos expulsa de um grupo se não nos adequarmos aquela tal cultura. Nos convence facilmente, através da mídia de massa, de que somos insignificantes e substituíveis. A indústria cultural regula sua relação com o passado para não deixar o novo surgir, no entanto é apenas uma repetição do que os autores chamam de arte leve. Esta, priva dos consumidores aquilo que ela promete, e tenta excluir a técnica do homem para que lhe atrofie em seu sistema.

Outro ponto é a questão sexual: A indústria cultura não sublima o sexo, mas o sufoca, já que mostra explicitamente o filme pornô. Mas isso apenas aguça o desejo daquilo que não é real de fato, ou seja, oferece sexo, mas ao mesmo tempo nos priva o desejo.

A indústria cultural nos quer que transformemo-nos em eternos consumidores. Oferece-nos sairmos da vida cotidiana, só que no fundo é o contrario: ela nos afoga ainda mais nesta vida monótona e ensina-nos a tolerar; obrigando a sempre estarmos alegres e divertirmos, só que, divertir-se é não pensar no desagradável, mas é fato que o desagradável sempre vai existir no esforço da vida social. Assim as pessoas vão trocando a ideia do esforço por uma ideia do prêmio que lhes são oferecidos pelo filme, TV, Radio, etc.

O cinema tenta colocar em nossas cabeças que podemos viver uma vida fácil, e que o real pode ser sempre repetido, e quase todos os filmes são repetições, mas isso é apenas uma formula de domar nossos instintos criativos. A indústria cultural nos mostra que é possível viver uma vida desumana e que esta é tolerável. Por 50 dólares se pode ver um filme que custou milhões para ser feito.

A indústria cultural assume uma onipresença e a publicidade é o seu elixir da vida. Na verdade, hoje em dia, a publicidade é o elixir para a vida de todos. A publicidade é a arte por excelência. Assim, a comunicação de massa, em nossos dias, está nessa etapa, onde todos são livres, mas para “sempre” iguais.

INDICAÇÃO DA OBRA


O texto trás bastante informação e faz uma crítica reveladora a sociedade. É indicado a estudantes de todas as áreas, seja nas áreas das ciências humanas até mesmo nas exatas. É um tema bastante amplo.








[1] Graduado em Letras Vernáculas (Universidade do Estado da Bahia - UNEB); Graduado em Filosofia (Faculdade Vicentina - FAVI) e graduando em Teologia (ITESP).