INTRODUÇÃO Nesta
pequena reflexão iremos abordar o julgamento de Jesus e vamos fazer uma
comparação, do mesmo, com o julgamento de Sócrates. Nosso objetivo com este
conteúdo é mostrar que Jesus, diferentemente de Sócrates, foi um transgressor,
mas que esta transgressão fora necessária para resgatar a dignidade do povo
sofredor em seu tempo. Contrariamente,
mas não menos virtuoso, Sócrates buscava salvar a democracia ética da cidade
contra a corrupção individualista dos maus sofistas. Deste modo, acreditamos
que os temas são distintos, mas cada um com sua nobreza e valor. Ratificamos
que nosso foco não é teológico, porém, de certa forma,
político-social. Não descartamos a teologia, no entanto, vamos usá-la como
ponto de apoio ao assunto aqui explorado. 1 O JULGAMENTO
SOCRÁTICO O
primeiro ponto é sabermos que Sócrates não foi condenado por uma espécie de
heresia em si, mas por ensinar aos jovens doutrinas ateístas, o que na verdade,
e Platão tenta demonstrar na Apologia a
Sócrates,[2]
tal acusação é mentirosa, pois foi justamente o próprio oráculo de Delfos (por
uma prática religiosa) quem anunciou a Sócrates que ele era o mais sábio dos
homens. Assim,
e há muitas mais provas sobre o fato, Sócrates não pode ser considerado um
transgressor de valores, mas ao contrário: Sócrates foi o mártir dos costumes
éticos atenienses, pois o mesmo acusou, em seu julgamento, que eram os sofistas
os quais feriram a democracia de Atenas quando passaram a cobrar por seus
ensinamentos, fato que era absurdo para o regime de Atenas. Analisemos
isso: Sócrates morreu por defender os valores éticos morais da república contra
as falsas doutrinas. Logo em seguida, o filósofo não recusou a sua pena.
Quando, segundo Platão, seus discípulos o aconselharam a fugir, Sócrates
recusou esta atitude e abraçou a morte sem arrependimentos. Morrer por crer que
a maioria, e esta era a República, o condenava a morte.[3] 2 O CASO JESUS O
caso de Jesus é parecido ao de Sócrates, mas não é o mesmo. Primeiro que não
havia uma república em Israel no tempo de Jesus; Segundo: os grupos sociais
políticos eram distintos dos de Atenas; Quarto: Jesus de fato transgrediu-o os
valores dos regimes judaicos. Vamos entender tudo isso. Israel
era uma monarquia, a qual estava fragmentada em dois reinos: do Sul e do Norte,
Judá e Samaria; Além disso era dominada por outro império: O romano. Não havia em
Israel uma unidade governamental. Opostamente a classe ateniense onde todos
eram cidadãos e tinham a palavra no senado, Israel era formado por vários grupos: Saduceus: espécie de aristocratas; Fariseus: os chamados mestres
da lei; Os rebeldes Zelotes; e religiosos extremistas como os Essênios. Por
último e menos importantes estavam os Anawin: os chamados pobres de Javé. Essa
era a situação sócio-política em Israel.[4] Jesus logicamente nasceu neste contexto e e era um dos pobres de Javé. Nasceu neste contexto e
transgrediu os valores quando afirmou abertamente no templo que ele era o Filho
de Deus. E para confirmamos esta transgressão, observamos que antes, no monte
das Oliveiras, quando os guardas perguntaram entre os discípulos de Jesus, quem era Jesus o Nazareno? O próprio Jesus responde: “Eu sou”, pronunciando o nome
de Deus a sua pessoa. Ato criminoso. Além de ter confirmado no próprio pátio do
sinédrio essa mesma blasfêmia. Sem
sombra de dúvidas, a acusação fez a parte dela em mostrar que diante da lei
Jesus estava errado. Mas porque Jesus fez tal heresia? Talvez a resposta esteja
nestes pobres de Javé, os anawin. Quem eram estes pobres? Eram os leprosos
retirados das cidades e que ninguém tocava; eram as viúvas doentes que os
fariseus não atendiam; eram os pescadores explorados pelos cobradores de
impostos; eram as prostitutas que sofriam com seus transtornos sexuais; Eram os
josés carpinteiros; as marias desamparadas; os cegos na porta
do Templo; os coxos que sofriam por acreditarem que seus problemas físicos
eram a culpa de seus pais. Jesus transgrediu os valores por esta gente. De
certa maneira, Jesus morreu para cumprir uma nova aliança entre Deus e os
pobres anawin que padeciam no deserto. Ainda antes de morrer, apareceu o último
pobre, o ladrão arrependido! Ora, um criminoso arrependido não é digno do perdão? Parece que para Jesus era. 3 JESUS O TRANSGRESSOR Parece-nos
que Jesus morreu transgredindo todos os valores em Israel. Já em seu nascimento
começa as primeiras transgressões. Sua mãe Maria e seu pai José, são os
primeiros a irem de encontro a estes valores: José, criminosamente protege
Maria a qual teve um filho fora do casamento. Outra transgressão de Jesus era
de ser chamado, mesmo pelos fariseus, de Rabi: mestre das escrituras sem nunca
ter estudado numa escola de tradição farisaica. Depois, e aqui se aumenta as
transgressões, Jesus trabalha no sábado; toca no leproso impuro; na prostituta;
e o mais absurdo das transgressões para os doutores da lei: perdoa pecados.
Assim, diziam os fariseus: “Quem é este homem que perdoa pecados? Que loucura
é essa?”[5] Jesus sistematicamente,
rompe todos os valores possíveis do seu tempo em nome de uma causa: Os pobres
de Javé: Anawin. E
qual a causa de tudo isso? Jesus queria lhes dá uma esperança, um motivo para
viver, uma dignidade. A dignidade do Pai para aqueles que mais padeciam em
Israel, por isso prometia a estes pobres uma ressurreição dos mortos. Até seu último ato foi o de proteger seus pobres no monte das Oliveiras: “Os amou e os
amou até o fim”, exalta o os Evangelhos. CONCLUSÃO Evidentemente
que o compromisso total de Jesus era dar esperança ao seu povo, mesmo que isso
lhe custasse a vida. Enquanto que Sócrates tentava manter os valores, Jesus
tentava rompê-los, pois os mesmos eram injustos. Duas atitudes nobres, mas um
foi mantenedor, o outro transgressor. Sócrates morreu para a dignidade da
pólis; Jesus pela dignidade das pessoas. Concluímos afirmando que os
atos podem ter seus motivos parecidos, mas são bastante
diferentes em linhas políticas e sociais. [1] Graduado em Letras (UNEB); Graduado
em Filosofia (FAVI). E-mail: paulus.monterum@gmail.com [2] PLATÃO. Apologia de Sócrates. Trad. Manuel de Oliveira Pulquério. Edições
70. Lisboa, 2009. [3] PLATÃO, República. Tradução Maria Helena da Rocha Pereira. 9. ed. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbbenkian, 2001. [4]Bíblia
de Tradução Ecumênica, TEB, São Paulo: Loyola, 1994. [5] BÍBLIA – Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002.
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