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quinta-feira, 16 de julho de 2020

CRÔNICA: COMO VENCER UM JOGO DE FUTEBOL

Experiência de quem já jogou: Mesmo que eu tenha bons jogadores, mas um foi expulso, a vitória não vai está tão assegurada assim.

Digamos que eu tenha onze jogadores e nenhum foi expulso, mas me faltam jogadores bons em suas áreas específicas, a vitória também não estará tão assegurada.

Digamos que tenha os onze jogadores, todos bons em suas áreas específicas, mas não tenha um bom técnico, ou uma mente estrategista, a vitória ainda não está assegurada.

Digamos que tenha tudo isso, porém, se o entrosamento da equipe não for bom, não tenho ainda segurança de uma vitória.

Digamos ainda que tenha tudo isso, mas se não tiver ainda uma boa disposição psicológica nos jogadores, tão pouco tenho segurança na vitória.

Moral da história: Em um jogo de futebol é mais inteligente pensar na derrota para assegurar a vitória.


 

Paulo Monteiro dos Santos

Graduado em Letras e Filosofia

Email: paulus.monterum@gmail.com


terça-feira, 7 de julho de 2020

RESENHA: PSICOLOGIA DO INCONSCIENTE DE CARL G. JUNG

PAULO MONTEIRO DOS SANTOS[1]

 

 

CREDENCIAS DO AUTOR

 

Carl Gustav Jung (1875-1961) nasceu na Suíça, foi um psiquiatra e psicoterapeuta discípulo de Freud, de qual rompeu e depois formulou suas próprias teorias sobre o inconsciente. 

                                                                                    http://obviousmag.org/alfredo_passosbr/2017/os-filmes-influenciados-por-carl-gustav-jung.html

REFERÊNCIA DA OBRA

 

JUNG, C. G. Psicologia do Inconsciente. Tradução de Maria Luiza Appy. Petrópolis, Vozes, 1987.


RESUMO: Psicologia do Inconsciente é a obra em que Jung tenta fazer o que se chamaria de sua teoria geral do Inconsciente. Geral a que se refere aqui, é sua visão não restrita a um tema em específico do inconsciente, mas algo que abrange tudo um esquema, ou uma espécie de mapa conceitual e complementar da teoria freudiana.

 

Na primeira parte, chamada A Psicanálise, Jung descreve a teoria de Freud, como um método no tratamento das neuroses e psicoses. Esse método, como o próprio nome já diz, é analítico. Tal método criado por Freud tinha como principio lançar a base para uma psicologia das neuroses (p.1-2). Mais adiante, Jung, em observações clínicas, chega à constatação, que a maioria dos traumas humanos, de certa maneira, se relacionam com conflitos eróticos em nossa psiquê, e que o amor tem um grande significado na vida do ser humano, mas não apenas o amor. (p.10)

 

Jung intitula a segunda parte de Teoria do Ego. Neste capítulo, retoma sua constatação anterior e começa a analisar que uma neurose é um conflito entre duas potencias no sujeito: a natureza e a cultura. Recorda-se aqui que uma parte deste conflito é erótica. Como então resolvê-lo através da psicanálise? (p.13) O autor aponta que pelo estudo dos sonhos, desenvolvidos por Freud, se foi possível chegar aos verdadeiros problemas das neuroses: “O sonho é a via regia para chegarmos ao inconsciente.” (p.13) Sendo assim, os casos de uma neurose ou mesmo de uma psicose, estão relacionados com o inconsciente, e mais: o inconsciente faz um conflito com o consciente, o qual pede quase sempre que reprima os seus desejos mais profundos. Para Jung, a terapia do sonho é a única forma eficaz no tratamento da neurose. Tais problemas estão intrinsecamente ligados a questão da sexualidade, mas que não é algo anormal, pelo contrário, é super normal, alias um conflito da natureza humana com sua cultura; um conflito do interior (inconsciente) com o meio exterior (consciente). O orgulho que o ser humano tem, às vezes é encarado como algo consciente, e pode-se associar esta consciência como algo bom ou de uma sã psicologia, sobre isso Jung protesta afirmando: “O excesso de animalidade deforma o homem cultural; o excesso de cultura cria animais doentes.” (p.20) Assim, se deve ter muito cuidado ao criar uma idéia de que todo que depende da razão é algo bom, mas se deve, antes de qualquer coisa, perceber e dar um equilíbrio entre a razão cultural com o inconsciente.

 

Na terceira parte, Outro ponto de vista, a vontade de poder, Jung vai expor, como o próprio nome sugere, outra análises sobre os conflitos entre instinto e cultura, que nos seus primórdios, não estão ligados apenas a questões eróticas, como assim afirmava Freud. Como exemplo Jung trás a vida e teoria do filósofo Nietzsche: Este filósofo viveu para além dos seus instintos e da moral cristã, mas tentar romper com tais conflitos lhe custou um preço. A filosofia de Nietzsche revela que no fundo do inconsciente humano, dorme um dragão que busca apenas o poder (p.23). Jung não descarta a questão do Eros freudiano, mas revela em seus primórdios que também o poder que se envolve nas crises neuróticas. O Eros seria apenas uma meta a ser atingido o poder do Eu. O que são as neuroses no fundo? Manobras que o inconsciente utiliza espertamente para atingir seus fins, tão somente vencer (p.32). Com essa teoria de Adler, Jung muda o foco do Eros, o qual Freud não deu a devida importância nos conflitos que surgem no sujeito a partir da disputa do poder.

 

A quarta parte: O problema dos tipos de atitude, o autor vai mais afundo na discussão das teorias de Freud sobre o Eros, e de Adler sobre o poder. Jung aponta que as duas teorias têm razão entre si quando aplicadas ao universo do inconsciente em relação as neuroses. De um lado Adler diz que o sujeito tenta manter sua superioridade sobre o objeto; Freud diz o contrário, que muitas das vezes é o objeto que mais influencia o sujeito. Jung observa que estas duas teorias são diferentes, mas que tem um ponto em comum. Conclui o autor que existem dois tipos de indivíduos: Um que se interessa pelo objeto e outros por si mesmo.[2] Este é o estudo de Jung sobre os dois tipos básicos de comportamento: A Introversão e a Extroversão (p.36). O primeiro com um comportamento mais intimista reflexivo, e o segundo um sujeito mais aberto que não tem medo dos riscos e que se adapta melhor. Dentro desses dois tipos, o neurótico age de forma muito inconsciente, por isso não se sabe, pelo fato de sua neurose, se a pessoa pode ser introvertido ou extrovertido, pois a mesma pode está escondendo sua personalidade. Por isso se diz que o sujeito assume uma dupla personalidade (p.36). Porém, a neurose pode ter seus pontos positivos, diz Jung: “Às vezes ajuda em alguns momentos e nos serve para entendermos que somos humanos, propensos aos erros” (p.36). Jung aponta, partindo do que foi dito antes, que o sujeito não tem controle total de sua energia psicológica, e o inconsciente pode se manifestar como uma energia que se mostra demasiada escapando do controle, tornando-se um transtorno neurótico. Desta maneira, é preciso uma canalização saudável dessa energia, a qual possa unir os dois pólos contrários. Duas pessoas só podem ter equilíbrio quando forem de pólos opostos: introvertido e extrovertido. Mas, sinaliza o autor: pode haver atritos, no entanto há um equilíbrio. “É no oposto que se ascende à chama da vida (p.45)”.

 

Na quinta parte, O inconsciente pessoal e o inconsciente supra pessoal ou coletivo, Jung divide o inconsciente em duas partes: 1) O pessoal, que diz respeito aos traumas e lembranças infantis, paixões da alma, etc; 2) O inconsciente coletivo, o qual tem uma espécie de reminiscência primordial, baseado em um passado que não é do próprio sujeito, mas sócio-cultural. Adverte-se aqui que esta memória coletiva é inconsciente. Explica-se: Esse inconsciente coletivo se liga ao mitológico: O inconsciente cria fantasias mágicas sobre uma situação: visões de fantasmas; manifestações transcendentes etc. mas tudo isso se deve apenas a esse tipo de inconsciente “onde jazem adormecidas as imagens universais (p.57)”. Jung, para provar sua teoria, diz que é como surgem nas teorias antropológicas dos mitos suas semelhanças e suas relações, graças a esse inconsciente coletivo: Hércules (mito grego), Sanção (mito hebraico) seria um exemplo de comparação.

 

No plano relacionado à questão da neurose, não só desta, mas as influencias que esta divisão do inconsciente (coletivo e pessoal) provoca no ser humano, põe em evidencia, no sujeito, uma luta de contrários: 1) período da juventude; 2) período da maturidade. O da juventude se caracteriza por uma fase natural: ter filhos, trabalhar, casar, (instintivo de procriação); A fase da maturidade é mais cultural, onde o sujeito precisa conservar valores. Jung defende que as neuroses sempre acontecem nesta fase da maturação, pois muitas pessoas em tal período querem manter-se jovens e se agarram a um momento estagnado da sua mocidade. Surgem assim uma crise de contrários, pois o inconsciente tenta voltar a uma vida passada e ao mesmo tempo reprimi-la. Nesse tempo é que começa um período de radicalização, conversões religiosas, rompantes amorosos, alcoolismo etc. Antes os ídolos eram outros, agora surgem novos, ou mesmo precisa-se mantê-los. Porém é preciso haver essa oposição interior de contrários no ser humano porque é ela quem garante a energia no sujeito. “Tudo que é humano é relativo (p.67)”, diz Jung, em uma relação de contrários. “Tudo isso significa ruptura e conflito consigo mesmo (p.68)”.

 

Neste capitulo, Jung fala também sobre sua teoria dos Arquétipos. Quando se regressa as recordações infantis e depois se avança para as pré-infantis, o sujeito se depara com o seu inconsciente coletivo, o qual são lembranças não vividas pelo individuo, mas que lhe serve como modelo, por isso Jung aponta-os como arquétipos. São memórias culturais que fomos introduzindo em nosso inconsciente e encarnando em nosso modo de ser e viver. Pode surgir como uma fase espiritual no sujeito, ou menos nos sonhos. Importante dizer que tudo se da de maneira inconsciente. (p.69).

 

Na sexta parte, O método sintético ou construtivo, Jung expõe o método que utilizou em suas pesquisas sobre o inconsciente. Claramente o método é o sintético, o qual decompõe as partes, estudando-as separadamente, para depois reuni-las numa ideia geral. Porém tal ideia não descarta a forma analítica. Explica-se: Apenas em um método de análise, pode se ocorrer o risco de não levar em consideração a experiência do paciente. Tão somente uma análise do sonho não é suficiente para chegar à raiz dos problemas neuróticos. Por essa razão, Jung leva em consideração não só o sonho do sujeito, mas também seu passado, infância e sua cultura. E o paciente precisa, por ele mesmo, se auto conhecer. Jung acredita que o método analítico, limita ao terapeuta a somente uma leitura do problema, por isso é importante decompor as partes em uma análise construtiva entre paciente e terapeuta. Não é correto fazer um diagnóstico com uma análise apenas do sonho, é preciso conhecer também a parte consciente do sujeito, e desta, fazer uma integração com o seu eu profundo.

 

A sétima parte, Teoria dos arquétipos do inconsciente coletivo, um dos capítulos mais significativos da obra, aborda com mais afinco a teoria sobre os arquétipos. O que são anjos, demônios, deuses? Será que tais seres existem? Para Jung, a maioria dos homens atuais diria que não. As pessoas antes do apogeu do Iluminismo e do racionalismo, na Europa da Idade Média, acreditavam no demônio, deuses e anjos, mas Jung aponta que tais fatos são arquétipos de nosso inconsciente coletivo, que foram sendo acrescentados por meio de uma cultura passada de geração em geração pela cultura. Quando houve a ascensão do racionalismo, não teve mais espaço para os arquétipos no inconsciente, porém não foi isso que a história mostrou. Jung sugere que estes arquétipos eram nossa irracionalidade a qual foi suprimida por um racionalismo moderno. Pela experiência da psicanálise, tudo o que é reprimido volta como neurose, assim esse irracionalismo voltou e causou as grandes guerras e as revoluções. Guerras irracionais, mas que foram justificadas por uma razão dominante. O autor diz que se pode concluir todo esse desequilíbrio na humanidade como uma neurose coletiva da repressão dos arquétipos. (p.81-103).

 

Na oitava parte, A interpretação do inconsciente: noções gerais da terapia, o autor salienta que o inconsciente não pode ser tratado como algo inofensivo, ou como um brinquedo, é preciso estar atento para as neuroses que o inconsciente pode apresenta, pois tais casos, quando não tratados, podem evoluir para uma psicose. Até mesmo pessoas que se julgam racionais, e não terem neuroses, podem estar guardando uma psicose latente, oculta (p.104). Assim, também um tratamento mal feito por parte do psicólogo pode afetar alguém ou mesmo o profissional da área.

 

Jung diz que um dos perigos do inconsciente, em ralação as neuroses, são as questões dos acidentes, sejam domésticos, automobilísticos, etc. Às vezes o inconsciente já vem planejando esses acidentes meses antes, ou mesmo anos: “Examinei grande número de casos dessa ordem, e pude comprovar que muitas vezes, semanas antes, os sonhos já revelaram uma tendência autodestrutiva. (p.105).” Mas não se deve com isso, protesta Jung, apenas olhar a parte negativa do inconsciente. Este, por sua vez, tem todo o acumulo de uma conhecimento coletivo, conhecimento que pode beneficiar o consciente em seu transcender e sublimação. O que se pode fazer é uma integração entre inconsciente e consciente na ajuda ao sujeito de tratar sua neurose ou psicose.

 

Concluindo, Jung fala que o tratamento terapêutico pode ser descrito como algo muito difícil de ser feito na práxis, o que não parece quando é descrito em trabalhos acadêmicos, mas se faz em um processo delicado. O tratamento da neurose pode ajudar alguém de forma rápida, ou de forma lenta, dependendo do sujeito. “No fundo, tudo é experiência nessa psicologia. (p.107).”

 

INDICAÇÃO DA OBRA

Este texto é indicado para pessoas que trabalham e estudam na área da Psicologia, Pedagogia e mesmo para um público que procura conhecer melhor as teorias em torno do seu inconsciente.     

 

 



[1] Graduado em Letras (UNEB) e Filosofia (FAVI)

Email: paulus.monterum@gmail.com

[2] Depois desta crítica de Jung, Freud escreveu a obra Introdução ao Narcisimo, e nesta obra Freud faz um estudo geral sobre estas duas tendências.