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quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Resenha: SOBRE O TEXTO DE ANTOINE COMPAGNOM O DEMONIO DA TEORIA: PRIMEIRO CAPITULO

Andrezza Miranda[1]
Paulo Monteiro dos Santos[2]



Quando falamos em literatura logo remitimo-nos as artes literárias ou o ardo ofício da escrita como ato de escrever, ou seja, escrever romance, poesia, conto e outros gêneros textuais. Tratamos a literatura como uma espécie de ofício que se respalda no simples desenvolver-se escrito.
                                                                     

A obra do teórico Antonine Compagnom (1999), O Demônio da Teoria: Literatura e Senso Comum, vem nos mostrar que deve-se observar a literatura com o olhar da teoria e o fazer científico, não apenas com o olhar do senso comum.
Veremos aqui, o primeiro capítulo que se divide em sete tópicos. Primeiro; A Literatura; Segundo: A extensão da literatura; Terceiro: Compreensão da literatura: Função; - Quarto: Compreensão da Literatura: Forma do conteúdo; - Quinto: Compreensão da literatura: A forma da expressão; - Sexto: Literatura ou preconceito; e Sétimo: Literatura é Literatura;
No primeiro tópico, Compagnom (1999) irá trazer como ponto inicial a seguinte indagação: mas a final o que é literatura? Nesta afirmação de Compagnom é possível ver que diante de qualquer análise devemos prestar a atenção na definição deste objeto de estudo literário, no caso o texto literário, e sua definição na qualidade literária deste texto. Outro ponto é definir o objeto a ser estudado pela literatura.

Os estudos literários falam na literatura das mais diferentes maneiras. Concordam, entretanto, num ponto: diante de todo estudo literário, qualquer que seja seu objetivo, a primeira a ser colocada, embora pouco teórica, é a definição que ele fornece (ou não) de seu objeto: ou texto literário. O que torna esse estudo literário? Ou como ele define as qualidades literárias do texto literário? Numa palavra, o que é para ele, explicita ou implicitamente, a literatura? (p. 29)

Observemos que o foco se simplifica a definir o texto como respaldo literário. Mas o que é a literatura quando nos reportamos ao texto como objeto de estudo? Por esta razão se inquieta o autor em indagar: “Numa palavra, o que é para ele, explicita e implicitamente, a literatura?” (COMPAGOM, 1999, p. 29)
É preciso que se defina a literatura e seu objeto de estudo, mas esta definição pode acarretar normas extraliterárias, ou seja, mais definições com elementos que abarcaria um profundo conhecimento de mundo social, histórico, etc. Tendo em vista que não se tem ainda um aprofundamento sobre qual é o objeto de sua análise.

No sentido mais amplo, literatura é tudo que é impresso (ou mesmo manuscrito), são todos os livros que a biblioteca contem (incluindo-se ai o que se clama literatura oral, doravante consignada). Essa acepção corresponde à noção clássica de “belas-letras” as quais compreendiam tudo o que a retorica e a poética podiam produzir, não somente a ficção, mas também a história, a filosofia e a ciência, e, ainda, toda a eloquência.” (p.31)

O segundo tópico aborda a literatura em seu sentido mais amplo, dizendo que esta era quase tudo dentro filosofia, ciência, história, e poética. A partir do século XIX esta definição lhe é negada. O termo literatura se baseava a tudo que era impresso, não apenas a gêneros literários. Sendo assim tudo o que se tinha como escrito era, de certa forma, literatura.
Compagnom nos diz que a literatura ganhou, na era moderna uma nova acepção, novas definições que vinha desde Aristóteles aos dias de hoje, como formulas poéticas e de imitações, e o sentido vem a ser inseparável do romantismo, este congratula o termo na pré era da modernidade.Lembrando que a literatura também se remetia aos gêneros nacionais, por este motivo o termo ganha novos aspectos durante o período romântico enquadrando-se a literatura como o cânone de uma sociedade, a literatura como aspectos nacionais.
                                                                       

Segundo Compagnom (1999) literatura são os grandes escritores, esta também é uma concepção romântica, mas não se pode esquecer, como assim nos informa o autor, que a mesma, é uma generalização canônica daquilo que tratamos aqui, a literatura. Então o que podemos dizer da literatura que não pertence ao cânone? Compagnom nos trás esta inquietação, e reporta ao poeta T.S Eliot dizendo que a literatura rompe as barreiras, e pode se esconder em outras obras não pertencentes ao cânone, mas que poderam ser canônicas, fazendo rupturas e refazendo a literatura em uma eterno retrocesso entre o novo e o antigo.
                                                                

O terceiro tópico o autor se pergunta:o que faz a literatura? Qual é seu traçodistinto? Compagnom (1999) cita Aristóteles dizendo que a literatura provem de elementos que visavam instruir agradando.

As definições de literatura segundo sua função parecem relativamente estáveis, quer essa função seja compreendida como individual ou social, privada ou pública. [...] Aristotéles, além disso, colocava o prazer de aprender na origem da arte poética (1448b 13): instruir ou agradar (prodesse alt delectare), ou ainda instruir agradando, serão as duas finalidades, ou a dupla finalidade, que também Oracio reconhecerá na poesia, qualificada de dulce et utile. (Ars Poetica [Arte Poética] v.333 e 343).” (p.35)

Esta definição de Aristóteles é dita por Compagnom se baseando na obra Poética e Retórica do filósofo grego. Diz Compagnom que a literatura envolve o outro, e que quando nos deparamos com o texto literário, já não podemos dizer que é apenas uma pessoa que habita em nós, mas muitos outros mundos, pensamentos. Definindo: Literatura é o outro, diz-nos o autor.
No quarto tópico, o autor cita novamente Aristóteles dizendo que a literatura consistia, na era clássica,como modelo através da imitação, pois isso era aquilo que, para os gregos, tinha-se como o mais perfeito, neste caso o poeta Homero em Ilíada e Odisseia. Imitar os grandes clássicos era motivo para se dizer que aquilo era literatura. (mimèsis) (COMPAGNOM, 1999, p. 38) Com o romantismo e depois a era moderna, isso se modificou, a literatura ganhou novos termos se adaptando as realidades do mundo moderno.

Da Antiguidade à metade do século XVIII, a literatura-sei que a palavra é anacrônica, mas suponhamos que ela designe o objeto da arte poética-foi geralmente definida como imitação ou representação (mimèsis) de ações humanas pela linguagem.(p.38)

O quinto tópico Compagnom traz ainda o romantismo, dizendo que “a literatura é simplesmente o ‘uso estético da linguagem escrita’”. (COMPAGNOM, 1999, 39) Compagnom informa ainda sobre os formalistas russos, dizendo que o objeto de estudo da literatura não é a literatura em si, mas a literariedade. “[...] Ou seja, o que faz de uma determinada obra uma obra literária, ou [...] o que faz de uma mensagem verbal uma obra de arte.” COMPAGNOM, 1999, p. 39)

Os formalistas russos deram ao uso propriamente literário da língua, logo a propriedade distintiva do texto literário, o nome de literariedade. Jakobson escrevia em 1919: “O objeto da ciência literária não é a literatura mas a literarieade, ou seja o que faz de uma determinada obra uma obra literária”; ou, muito tempo depois, em 1960: “o que faz de uma mensagem verbal uma obra de arte”. A teoria da literatura, no sentido de crítica da crítica, e a teoria literária, no sentido de formalismo, parece se encontrarem nesse conceito, que também é tático e polêmico.” (p.40-41) 

No sexto tópico Compagnom nos dá uma definição de literatura,só que ao definirmos o que teoricamente seja literatura caímos em afirmativas de exclusão por parte do objeto de estudo da literatura, e é sempre um preconceito, pois a mesma,cabe a um sentido mais amplo mais universal, ou seja, como disse antes o autor, um sentido extraliterário.

Infelizmente, mesmo esse critério flexível e moderado de literariedade é refutável. Mostrar contra-exemplos é fácil. Por um lado, certos textos literários não se afastam da linguagem cotidiana (como a escritura branca, ou a behaviorista, a de Hemingway, a Camus). Sem dúvida, é possível reintegra-los, acrescentando que a ausência de marca é, ela mesma, uma marca que o cumula da desfamiliariazação é familiaridade absoluta (ou o cumulo da obscuridade, a insignificância) mas a definição de literariedade no sentido restrito como traços específicos ou flexíveis como organização especifica, não é menos contraditória. Por outro lado, não somente os traços considerados mais literários se encontram também na linguagem não literária, mais ainda, às vezes são nela mais visíveis, mais densas que na linguagem literária como é o caso da publicidade. (p. 43)
                                   


O último tópico se concentra em definir que Literatura é literatura, aquilo que os professores e editores, enfim, aquilo que está no cânone, ou que se pode vir a ser cânone, desde de elementos extraliterários, ou não.
O que vem a ser literatura, elevando os níveis de contextualização, estilo, etc?Diz Compagnom que, aquilo que a sociedade faz de seu texto literário, sem se preocupar, a princípio, com sua origem, mas avaliando seu nível de contextualização, é que se define o que é ou não um texto classificado como texto literário, ou sua literariedade.

[...] O contexto pertinente para o estudo literário de um texto literário não é contexto de origem desse texto, mas a sociedade que faz dele um uso literário separando-o de seu contexto de origem. Assim, a crítica biográfica ou sociológica, ou a que explica a obra pela tradição literária (Sainte-Beuve, Taine, Brunetière), todas elas variantes da crítica histórica, podem ser consideradas exteriores à literatura. (p. 45)

Para concluir, devemos nos ater o que estamos estudando sobre o que vem a ser este termo que tanto entra em definições ampla e profundamente restrita. Compagnom neste capitulo enfatiza o paradoxo a que pode levar-nos as várias definições sobre o que é a Literatura.





REFERÊNCIA

COMPAGNOM, Antoine. O demônio da Teoria: Literatura e senso comum. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2001.
___________________. O demônio da Teoria: Literatura e senso comum. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999.











[1] Graduando do curso de Letras pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB
[2] Graduando do curso de Letras pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB