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quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Artigo: A SEMÂNTICA NO LIVRO DIDÁTICO












PAULO MONTEIRO DOS SANTOS[1]







1 INTRODUÇÃO

Antes de adentrarmos o estudo da semântica nos livros didáticos, é importante falarmos também do que vem a ser a semântica como processo evolutivo no estudo do significado. E como se desenvolveu suas pesquisas ao longo de uma história que só se firmou, não como ciência, mas como objeto de estudo científico,  durante o século XX.
            Os estudos semânticos provem de muitos séculos atrás. Datados do período V a.c, que, segundo a professora Maria Helena Duarte Marques, “ registra-se, entre os filósofos gregos, preocupação com a linguagem.” ( MARQUES, 2001 p.26).
Até aqui o termo semântica não era usado, e se tinha como um estudo de linguagem em que se apresentava uma visão analógica. “Se aos elementos do mundo correspondem nomes, um dos aspectos fundamentais do estudo da linguagem era determinar se as palavras associavam naturalmente as coisas a que se referiam.” (MARQUES, 2001, p.26). Daí temos uma visão análoga onde as palavras se associavam as coisas através de convenção.
Esta visão sofre algumas mudanças no século XIX com a descoberta do sânscrito, antiga língua sagrada da Índia. “O sânscrito apresentava traços comuns ao grego e ao latim, de forma semelhante a traços comuns idênticos nas línguas de origem latinas.” (MARQUES, 2001 p.31). Isso faz com que estudiosos procurem nas línguas traços relacionados, e nesta perspectiva dar-se inicio as pesquisas da lingüística ou filologia comparada, “cujo os estudos se concentravam em aspectos gramaticais, em geral fonéticos e morfológicos.” ( MARQUES, 2001 p.31). 
Durante o século XIX Michel Bréal com base nos estudos de Reisig e Hermann Paul, introduz o termo “semântica” “e propõe a nova ‘ciência das significações’” (MARQUES, 2001, p.33). Para tanto, “o trabalho dos semanticista era dar enfoque a natureza psicológica da linguagem, a relacioná-la com os fenômenos históricos e socioculturais.” MARQUES, 2001, p.33).
Os estudos da semântica vem a ter mais ênfase durante o século XX com as idéias de Ferdinand de Saussure na Europa e com Leonard Bloomfield nos Estados Unidos. Seus estudos podem ser englobados no campo da linguagem ao qual se direcionam também ao estudo do estruturalismo, tais estudos favorecem a analise das áreas gramaticais, fonológicos e morfossintáticas. As idéias de Saussure e de Bloomfield contribuíram para a semântica e o estudo do significado, mas foram criticadas em alguns pontos, deixando lacunas na questão de tentativas de explicar o significado. A autora Maria Helena Duarte Marques nos diz que: “Verifica-se, pelo exposto, que até a década de 1960, pelo menos, a lingüística norte-americana e a européia não conseguem desenvolver formas de tratamento abstrato-conseitual para a semântica e, consequentemente, não atribuem ao estudo do significado importância equivalente à que dão aos demais planos da língua, para os quais elaboram teorias e princípios de análises rigorosos, que permitem a descrição e o conhecimento de propriedades da estrutura morfossintática e fonológicas de várias línguas.” ( MARQUES, 2001, p.50).
É importante também ressaltar que houve uma evolução no estudo semântico em relação ao livro didático. Se olharmos os estudos da semântica moderna iremos chegar a observações cognitivas e não só gramatical e figurativa. A Semântica Cognitiva que vem sendo estudada desde a década de 70 e 80 do século passado é uma mostra de como o estudo dos significados tem se adaptado ao livro didático.
            Sem querer nos alongarmos muito no assunto histórico e teórico sobre a semântica, já que nos falta uma teoria cientifica e específica, a qual ainda estamos navegando em campos rasteiros e inferiores para questionarmos hipóteses como a que a professora Marques acabou de nos mostra sobre um olhar crítico apurado, ficaremos em uma analise mais simples sobre o estudo da semântica e seu objeto que é o significado, mais precisamente o significado das palavras. E tomamos as palavras de Bréal no que se refere à semântica, já que dar resposta a questão sobre, o que é o significado, nos equivaleria dizer que não sabemos, ou melhor, depende do contexto, do seu referente, de onde se encontra tal palavra e em que contexto ela está sendo referida.
Tomamos a afirmação de Bréal apenas para um consenso superficial do que vem a ser semântica, mas no dizer da professora Marques: “Não há consenso entre os especialistas quanto a uma definição de semântica e tampouco, quanto à delimitação do que seria objeto da semântica. (...) Parece, então, muito simples chegar à conclusão de que a semântica tem por objeto o estudo do significado (sentido, significação) das formas lingüísticas: morfemas, vocábulos, locuções, sentenças, conjunções de sentenças, textos etc., suas categorias e funções na linguagem.” Porem ”(...) Um exame mais detido iria mostrar, contudo, que essas definições de semântica e a delimitação do objeto da semântica que delas se infere são parciais e insuficientes.” (MARQUES, 2001, p.15).
Por tais complexidades nosso trabalho será limitado ao estudo da semântica no livro didático, para isso escolhemos dois livros do ensino fundamental, do 6º e do 7º ano. Só ratificando que o 6º ano equivale a 5ª série e o 7º ano a 6ª série.
Os livros em questão foram elaborados pelos professores William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães (2009). O título é: Português, Linguagens. Sua edição é de 2009 e vem sendo trabalhado na cidade de Euclides da Cunha, Bahia, como material didático nas escolas publicas do município. É também de extrema relevância adiantar que o material trás no final de cada capítulo uma seção intitulada Semântica e Discurso, dedicado ao estudo de texto, sentenças e palavras. Englobam-se também textos verbais e não verbais.
Nosso objeto de estudo nos levou ao aluno das séries inicias pelo motivo de destacar o significado das palavras por uma visão mais cognitivista da semântica, mas precisamente a seguinte questão: Como o aluno em seu processo de desenvolvimento mental descreve o sentido de um texto e da palavra? Como é visto para ele aquela determinada palavra? Em seu meio cultural, como o livro didático pode ajudá-lo no seu conhecimento de mundo? São tais questões que nos levaram a tomarmos a atitude de investigar os processos semânticos nas séries inicias abordando a temática prática da semântica, ou seja, a palavra como um canal entre a fala, a escrita, e nos dias atuais, a palavra no campo virtual.



2  A EVOLUÇÃO SEMÂNTICA NO LIVRO DIDÁTICO PARA COM O ALUNO

Para chegarmos à evolução semântica no livro didático, pesquisamos dois livros do ensino fundamental, o 6º e o 7º ano do Fundamental II. Como esboçamos no início, estes livros são dos autores William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães. 
Os livros pesquisados suportam em seu conteúdo uma seção no final de cada capítulo com um espaço só dedicado ao estudo semântico de frases, palavras e sentenças. Dentro deste estudo abordado pelos autores, se destaca elementos de significados relacionados a ambigüidades e as figuras de linguagens, o que nos implicaria dizer que tal produção toma formas tradicionais no processo do significado.
Há também um detalhe que chama a atenção no livro destes dois autores que é os elementos de linguagem não verbal. Este é um fato elementar que observamos por se adequar a Semântica Cognitiva, que toma o significado como elemento mais importante na linguagem. Esta teoria vai de encontro ao modelo gerativista que centraliza a Sintaxe.
Com o elemento referencial do texto, verbal e não-verbal, os dois livros mostram uma simplória conexão no campo visual e escrito, tal fator acarreta uma série de significações semântico-analógicas as quais despertam no expectante uma leitura de mundo na perspectiva prática. Um exemplo disso é as charges que se encontram no conteúdo dos livros.
Com elementos humorísticos, a abordagem destes textos não verbalizados, mas visuais, buscam mostra de um modo crítico a realidade social dos alunos e leitores de modo geral.
No que se refere à evolução do material didático, podemos notar esta adaptação dos livros para melhor se adequarem a realidade cognitiva do aluno, já que o significado depende de um referencial para se ter um significado, mas o que propriamente vai significar para nós é nossas percepções sensório-motoras, ou nosso conhecimento de mundo.
Os dois autores também abordam de modo singular os textos verbais e suas possíveis ambigüidades no entendimento daquele que vai ler tais textos. A análise por parte dos alunos nos enunciados das questões lhes dará uma leitura mais ortodoxa do texto em si, e sabemos que a leitura é imprescindível para o melhor desenvolvimento a que diz respeito ao conhecimento, mas quando um termo pode ser entendido sobre um significado ao qual não lhe foi impregnado, inferido em um determinado texto, por razões de conhecimento de mundo, há um acarretamento destorcido daquilo que se foi escrito, falado, e anunciado. 
Os livros apresentam uma melhor adaptação ao alunado, e acreditamos que nos dias atuais com a revolução da informática, em que já se há uma quase condenação ao livro didático, o material em formato de papel a que vemos hoje dará lugar a tablet e a computadores conectados a Internet, mas em si, o formato do livro não importa, mas sim o conteúdo a que estará em seu interior. E esta correspondência com o cotidiano do alunado a que os livros, como os dos escritores Cereja e Cochar nos mostra, é que dará ao ser cognoscente motivo para o bom entendimento do significado das palavras.
Independentemente de qualquer revolução informatizada o material didático é ainda imprescindível na formação do aluno, que a cada dia vai se adaptando a realidade das evoluções humanas.


3 A EVOLUÇÃO NOS ESTUDOS DA SEMÂNTICA E SUA A RELAÇÃO COM O LIVRO DIDÁTICO NO DESENVOLVIMENTO DO ALUNO

            Quando nós observamos o estudo semântico de hoje e o desenvolvimento do aluno, chegamos a uma conclusão máxima que é a semântica inter-relacional na vida cotidiana destes alunos. Um dos estudos que mais contribui para esta evolução é o estudo da Semântica Cognitiva que tem como marco inicial publicações na década de 80 do século passado por autores como George Lakff e Mark Johnson que, segundo Fernanda Mussalim  e  Ana Christina Bentes diz respeito a significação como um processo cognitivo do funcional: “ A significação lingüística emerge de nossas significações corpóreas, dos movimentos de nossos corpos em interação com o meio que nos circunda.” (MUSSALIM, BENTES, 2006, p34). O que se implica dizer que o significado emerge de dentro para fora e não o contrario, e é motivado.
A hipótese central de que o significado é natural e experiencial se sustenta na constatação de que ele se constrói a partir de nossas interações físicas, corpóreas, com o meio ambiente em que vivemos. O significado, enquanto corpóreo, não é nem exclusivo, nem prioritariamente lingüístico. (MUSSALIM, BENTES, 2006, p34).

Este estudo semântico a que se refere à parte da cognição se implica hoje aos livros didáticos por apresentar textos ilustrados, não só com desenhos, mas também gravuras que estão relacionadas a seu meio social e cultural. Um exemplo disso é elementos visuais de placa de transito, e outros sinais importantes para identificar a que natureza se corresponde: produtos, restrições, placa de perigo, etc.
Tais linguagens emergem, como diz os autores, de dentro para fora por estarem ligados ao campo imagético da criança, “memória de movimento,” (MUSSALIM, BENTES, 2006, p34). Inferido em seu envolvimento com o mundo.
 Só ratificando que o que tomamos como significados em nossa infância, vão formando-se gradativamente por meio de correspondência a outras significações já absorvidas. Este condicionamento é exposto ao alunado ou a criança em si, através do seu meio físico e espacial. Daí a sua acepção a estes elementos a que são referidos para o ser cognitivo do alunado.  Neste caso temos outro fator imparcial no aluno perante o significado de tais termos que é a sua experiência de absorção de um determinado signo e suas farias referencias fenomenológicas, pode-se até ter uma relação entre a Semântica Cognitiva e a Semântica Formal no que se refere a questão gradativa no sujeito.
Assim sendo, o significado lingüístico não é arbitrário, porque deriva de esquemas sensórios-motores. São, portanto, as nossas ações no mundo que nos permitem aprender diretamente esquemas imagéticos espaciais e são esses esquemas que dão significado às nossas expressões lingüísticas. (MUSSALIM, BENTES, 2006, p34).

            Se olharmos o livro didático, ou até mesmo outros matérias didáticos, vamos ver que há uma relação efetiva nesta área de semântica cognitiva, que trata da capacidade do aluno na acepção e não na absorção de conteúdos, o que isso quer dizer? Implica dizer que o aluno aprende ao movimento do estar no mundo, aquele determinado conteúdo não lhe é imposto e sim estimulado a partir de uma pragmática do seu meio com o meio didático.
E notável que o livro didático tenha esta visão de se adequar ao aluno no sentido de adaptar-se a realidade social e cotidiana sem perder o foco dos estudos das varias tendências, tanto da Semântica Cognitiva como da Semântica Gerativista e Estrutural.
Os livros de Cereja e Magalhães são hoje em dia uma referência no que se refere a estes modelos de semântica ditos aqui como processo de evolução no estudo semântico para com o livro didático. Tais autores conseguiram transpor para seu material um estudo do significado para a convivência aos processos empíricos já existentes no meio sócio-cultural do aluno.


4 A RELAÇÃO ENTRE O ESTUDO SEMÂNTICO PARA A DIDÁTICA APLICADO AO ALUNO

            O que temos hoje no livro didático, no melhoramento do estudo semântico, é uma forma gradativa das Semânticas Cognitiva, Estrutural e Gerativista, mas no entanto, o estudo da Semântica Cognitiva tem um papel primordial no desenvolvimento do aluno por melhor inserir no seu conhecimento uma analise mais precisa do mundo que o circunda. “A linguagem articulada não é mais que uma das manifestações superficiais da nossa estruturação cognitiva, que lhe antecede e dá consistência.” (MUSSALIM, BENTES, 2006, p35).
            Uma das coisas que mais se verifica nos livros didáticos de hoje, não só nos de Cereja e Magalhães, é uma tendência a esta evolução semântica para atender uma demanda de alunos informatizados.  Uma demanda de alunos que já buscam no meio do campo virtual um novo significado para as palavras escrita e oral.
Pode-se até dizer que isto já é uma área que tende a ser estudado, já que o livro didático, e falamos no livro não generalizando o livro em si, mas somente o livro didático que um dia ira dar lugar a outros elementos tecnológicos como abordamos na introdução deste artigo.
A semântica que foi referida neste aspecto tem por base a pragmática, não só no campo referencial, mas no imagético do aluno, ou qualquer outro individuo. Tem por base, mostra ao sujeito a importância do estar no mundo e conviver com suas sensações para a acepção dos significados da linguagem, para só depois uma introdução a esta mesma linguagem, tanto que se predispõe de elementos metafóricos e metonímicos para uma compreensão melhor colocada do que vem a ser um determinado contexto.
            Falamos antes desta evolução no estudo semântico do livro didático para o desenvolvimento do aluno no que se refere a sua concepção de significado das palavras e das sentenças, mas esta relação deve ter fundação em um estudo mais de interação entre aluno e o mundo que o cerca, porque tal fator implica no significado. Não há razão de significado sem a linguagem e sem o espaço a que estamos inseridos. Por isso a Semântica Cognitiva privilegia a questão corpórea com linguagem.
Relevantemente devemos contemplar nos dias de hoje a evolução de matérias para as escolas públicas que, de certa forma exaustiva, tenta se adequar as varias manifestações de linguagens verbais e não verbais.
Em fim, esta linguagem às vezes se modifica e se adequada no espaço social, e pra se ter uma estudo semântico condizente com tais modificações é preciso sempre de uma reciclagem de adaptações por parte destes mesmos materiais didáticos.
            Sabemos, no entanto, que o estudo da semântica, independente do que vem a ser no livro didático, ainda não se tem consenso e na maioria das vezes acaba sendo dado na sala de aula para alunos do fundamental e médio como um fator secundário e não de prioridade consecutiva, justamente porque não se tem uma explicação de relevância científica - ortodoxa do que vem a ser significado, dando ao estudo da linguagem no livro didático relevância mais as áreas gramaticais e sintáticas para explicar nas frases e palavras o que vem a ser, ou o que é o significado de determinada situação na sentença ou no contexto a que foi anunciado.


5 CONCLUSÃO

            Houve varias evoluções no ramo do estudo semântico para a melhoria do livro didático, pois tais melhorias foram, e são necessárias para uma melhor abordagem em relação aos materiais letivos nas escolas.
As adaptações e as figuras não verbalizadas transpõem esta adaptação a um público que vem se modernizando a cada dia, e pede sempre para isso modernização também nos livro e matérias didáticos.
            No que diz respeito ao estudo semântico, ainda há discordância entre os semanticistas sobre o que vem a ser o significado, mas tais discordâncias só ajudam ainda mais o objeto de estudo da semântica. E este objeto vem sendo tratado nos conteúdos para o ensino fundamental com resoluções lógicas e cognitivas, sempre havendo, na maioria das vezes um processo de concordância entre a formalidade e as acepções do conhecimento psíquico-cognoscitivo.
Há uma relação entre o estudo da semântica e entre os livros didáticos, isto é visível quando passamos, muitas das vezes, a observar o livro didático e como ele é tratado. Mas devemos também lembrar que alguns livros que são chamados de estudos semânticos dizem mais respeito a elementos conteúdistas que semânticos, e há ainda quem acredite fielmente que a semântica está apenas relacionada à gramática, sendo que a semântica tem no significado um amplo estudo envolvendo todo um complexo de significações, tanto gramaticais quanto analógicas.
           
6 REFERÊNCIAS

CEREJA, William Roberto. MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: Linguagens, 6º ano. 5ª. ed. São Paulo: Atual, 2009.

CEREJA, William Roberto. MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: Linguagens, 7º ano. 5ª. ed. São Paulo: Atual, 2009.

MARQUES, Maria Helena Duarte. Iniciação a Semântica. 5ª. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 2001.

MUSSALIM, Fernanda. BENTES, Anna Christina. Introdução a Lingüística: Domínios e Froteiras. 5ª. ed. São Paulo: Cortez, 2006.

DICIONÁRIO PRIBERAM DA LÍNGUA PORTUGUESA: Disponível em:
http://www.priberam.pt/DLPO/




           
           


















                    
  




[1] Graduando do curso de Letras Vernáculas da Universidade do Estado da Bahia- UNEB