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terça-feira, 30 de junho de 2020

PEQUENO ENSAIO SOBRE O ATEÍSMO CRIACIONISTA CIENTIFICISTA DE RICHARD DAWSKINS

PAULO MONTEIRO DOS SANTOS[1]

 Antes de abordarmos nosso tema devemos definir de modo geral o que vem a ser o ateísmo. O ateísmo é um movimento que não crê em religião, nem no sobrenatural (RODRIGUES, 2018, p. 61). Sobre esse aspecto devemos defini-lo também como na não crença em Deus, ou em qualquer outra forma de transcendente.

Embora, a palavra sobrenatural remeta a algo que é paranormal, definida como aquilo que está além da natureza, não invalida o fato que este é algo transcendente, e de certa forma, metafísico. Mas com bases filosóficas, não podemos cair no erro de dizer que a Metafísica é o sobrenatural.

É salutar pensarmos que o ateísmo científico nega a existência de Deus, das religiões e de qualquer tipo de transcendente. Isso é fato. Mas de acordo com o texto de Rodrigues (2018), as ideias ateísta baseadas na biologia de Darwin, e professadas por Richard Dawskins, não abandona a ideia da criação.Devemos aqui lembrar que esta ideia, por sua vez, foi introduzida pela religião semita hebraica. 

Parece-nos que foi abandonado a ideia de um ser criador (RODRIGUES, 2018, p. 61), mas não se abandonou a ideia de criatura. Abandonou-se a ideia de um engenheiro do relógio, mas não abandonou-se a ideia da engenharia do relógio. E se somos criaturas ficou a lacuna do criador.

Pensamos que existe um problema, que já Sartre apontava em o Ser e o Nada, o qual: se devemos abandonar a ideia de Deus, devemos abandonar a ideia de criação, e de qualquer forma, da lei necessária, ou seja, de qualquer axioma para explicar a realidade, pois esta se mostra puramente contingente, e os seres no mundo, em-si, estão em ato puro (SARTRE, 1997). Explico-me?

Mas qual é o problema da ideia de criação? É que tal ideia remete a pressupor o “nada” – ex nihilo fit – ens creatum. Mas para qualquer lugar que se olhe, não se vê esse “nada”. Tal fato é absurdo. Essa ideia não é nossa, mas de Sartre (1997) e Heidegger (1969). Desta forma, caímos novamente no homem como centralidade (o sujeito transcendental de Kant).

O nada, nesse sentido, é como se fosse um local onde as coisas fossem modeladas, criadas, emanadas, plasmadas e etc. Mas que local? Se digo que há um local eu já pressuponho espaço-tempo, e se afirmo isso digo que o espaço-tempo seria um “nada” absoluto. E assim a coisa vai ao infinito e suscita paradoxos absurdo, diga-se de passagem, se analisados com maior precisão.

O que queremos colocar é que, se for negado a ideia de Deus e pressupor a ideia de “criação”, e quase um erro redutivo, pois, é preciso explicar como se deu essa “criação” e como "o nada" pode se criar a si mesmo– “ex nihilo nihil fit[2]” (HEIDEGGER, 1969).

Assim a ideia do neo-ateísmo, cai em máximas relativistas. E a ciência passa a se propor como sendo ela uma religião onde não prova a “não existência de Deus”, e no mais, coloca outra coisa no lugar de Deus, que seria outro deus.

 

REFERÊNCIAS

 

HEIDEGGER, Martin. Que é metafísica. Tradução de ErnildoStein. São Paulo: Livraria duas Cidades, 1969.

SARTRE, Jean-Paul. O Ser e o Nada: Ensaio de ontologia fenomenológica. Tradução de Paulo Perdigão. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

RODRIGUES, S. G. F. Alister McGrath versus Richard Dawkins. In: VALLE, Edenio. (Org.). Ateísmos e irreligiosidades: tendências e comportamentos. São Paulo: Editora Paulinas, 2018.   



[1] Graduado em Letras (UNEB); Graduado em Filosofia (FAVI); Email: paulus.monterum@gmail.com

[2] Heidegger usa o termo, segundo ele vindo da Filosofia Antiga Grega, para dizer que do nada nada vem (HEIDEGGER, 1969, p. 40).


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