Andrezza Miranda[1]
Paulo Monteiro dos Santos[2]
Quando falamos em literatura
logo remitimo-nos as artes literárias ou o ardo ofício da escrita como ato de
escrever, ou seja, escrever romance, poesia, conto e outros gêneros textuais.
Tratamos a literatura como uma espécie de ofício que se respalda no simples
desenvolver-se escrito.
A obra do teórico Antonine
Compagnom (1999), O Demônio da Teoria:
Literatura e Senso Comum, vem nos mostrar que deve-se observar a literatura
com o olhar da teoria e o fazer científico, não apenas com o olhar do senso
comum.
Veremos aqui, o primeiro capítulo que se
divide em sete tópicos. Primeiro; A Literatura; Segundo: A extensão da
literatura; Terceiro: Compreensão da literatura: Função; - Quarto: Compreensão
da Literatura: Forma do conteúdo; - Quinto: Compreensão da literatura: A forma
da expressão; - Sexto: Literatura ou preconceito; e Sétimo: Literatura é
Literatura;
No primeiro tópico,
Compagnom (1999) irá trazer como ponto inicial a seguinte indagação: mas a final
o que é literatura? Nesta afirmação de Compagnom é possível ver que diante de
qualquer análise devemos prestar a atenção na definição deste objeto de estudo
literário, no caso o texto literário, e sua definição na qualidade literária
deste texto. Outro ponto é definir o objeto a ser estudado pela literatura.
Os estudos literários falam na
literatura das mais diferentes maneiras. Concordam, entretanto, num ponto:
diante de todo estudo literário, qualquer que seja seu objetivo, a primeira a
ser colocada, embora pouco teórica, é a definição que ele fornece (ou não) de
seu objeto: ou texto literário. O que torna esse estudo literário? Ou como ele
define as qualidades literárias do texto literário? Numa palavra, o que é para
ele, explicita ou implicitamente, a literatura? (p. 29)
Observemos que o foco se
simplifica a definir o texto como respaldo literário. Mas o que é a literatura
quando nos reportamos ao texto como objeto de estudo? Por esta razão se
inquieta o autor em indagar: “Numa palavra, o que é para ele, explicita e
implicitamente, a literatura?” (COMPAGOM, 1999, p. 29)
É preciso que se defina a
literatura e seu objeto de estudo, mas esta definição pode acarretar normas
extraliterárias, ou seja, mais definições com elementos que abarcaria um
profundo conhecimento de mundo social, histórico, etc. Tendo em vista que não
se tem ainda um aprofundamento sobre qual é o objeto de sua análise.
No sentido mais amplo, literatura é
tudo que é impresso (ou mesmo manuscrito), são todos os livros que a biblioteca
contem (incluindo-se ai o que se clama literatura oral, doravante consignada).
Essa acepção corresponde à noção clássica de “belas-letras” as quais
compreendiam tudo o que a retorica e a poética podiam produzir, não somente a
ficção, mas também a história, a filosofia e a ciência, e, ainda, toda a
eloquência.” (p.31)
O segundo tópico aborda a
literatura em seu sentido mais amplo, dizendo que esta era quase tudo dentro
filosofia, ciência, história, e poética. A partir do século XIX esta definição
lhe é negada. O termo literatura se baseava a tudo que era impresso, não apenas
a gêneros literários. Sendo assim tudo o que se tinha como escrito era, de
certa forma, literatura.
Compagnom nos diz que a
literatura ganhou, na era moderna uma nova acepção, novas definições que vinha
desde Aristóteles aos dias de hoje, como formulas poéticas e de imitações, e o
sentido vem a ser inseparável do romantismo, este congratula o termo na pré era
da modernidade.Lembrando que a literatura também se remetia aos gêneros
nacionais, por este motivo o termo ganha novos aspectos durante o período
romântico enquadrando-se a literatura como o cânone de uma sociedade, a literatura
como aspectos nacionais.
Segundo Compagnom (1999)
literatura são os grandes escritores, esta também é uma concepção romântica,
mas não se pode esquecer, como assim nos informa o autor, que a mesma, é uma generalização
canônica daquilo que tratamos aqui, a literatura. Então o que podemos dizer da
literatura que não pertence ao cânone? Compagnom nos trás esta inquietação, e
reporta ao poeta T.S Eliot dizendo que a literatura rompe as barreiras, e pode
se esconder em outras obras não pertencentes ao cânone, mas que poderam ser
canônicas, fazendo rupturas e refazendo a literatura em uma eterno retrocesso
entre o novo e o antigo.
O terceiro tópico o autor se
pergunta:o que faz a literatura? Qual é seu traçodistinto? Compagnom (1999)
cita Aristóteles dizendo que a literatura provem de elementos que visavam
instruir agradando.
As definições de literatura segundo
sua função parecem relativamente estáveis, quer essa função seja compreendida
como individual ou social, privada ou pública. [...] Aristotéles, além disso,
colocava o prazer de aprender na origem da arte poética (1448b 13): instruir ou
agradar (prodesse alt delectare), ou
ainda instruir agradando, serão as duas finalidades, ou a dupla finalidade, que
também Oracio reconhecerá na poesia, qualificada de dulce et utile. (Ars Poetica [Arte Poética] v.333 e 343).” (p.35)
Esta definição de Aristóteles
é dita por Compagnom se baseando na obra Poética
e Retórica do filósofo grego. Diz
Compagnom que a literatura envolve o outro, e que quando nos deparamos com o
texto literário, já não podemos dizer que é apenas uma pessoa que habita em
nós, mas muitos outros mundos, pensamentos. Definindo: Literatura é o outro,
diz-nos o autor.
No quarto tópico, o autor
cita novamente Aristóteles dizendo que a literatura consistia, na era clássica,como
modelo através da imitação, pois isso era aquilo que, para os gregos, tinha-se
como o mais perfeito, neste caso o poeta Homero em Ilíada e Odisseia. Imitar
os grandes clássicos era motivo para se dizer que aquilo era literatura. (mimèsis) (COMPAGNOM, 1999, p. 38) Com o
romantismo e depois a era moderna, isso se modificou, a literatura ganhou novos
termos se adaptando as realidades do mundo moderno.
Da Antiguidade à metade do século
XVIII, a literatura-sei que a palavra é anacrônica, mas suponhamos que ela
designe o objeto da arte poética-foi geralmente definida como imitação ou
representação (mimèsis) de ações
humanas pela linguagem.(p.38)
O quinto tópico Compagnom
traz ainda o romantismo, dizendo que “a literatura é simplesmente o ‘uso
estético da linguagem escrita’”. (COMPAGNOM, 1999, 39) Compagnom informa ainda
sobre os formalistas russos, dizendo que o objeto de estudo da literatura não é
a literatura em si, mas a literariedade. “[...] Ou seja, o que faz de uma
determinada obra uma obra literária, ou [...] o que faz de uma mensagem verbal
uma obra de arte.” COMPAGNOM, 1999, p. 39)
Os formalistas russos deram ao uso
propriamente literário da língua, logo a propriedade distintiva do texto
literário, o nome de literariedade. Jakobson escrevia em 1919: “O objeto da
ciência literária não é a literatura mas a literarieade, ou seja o que faz de
uma determinada obra uma obra literária”; ou, muito tempo depois, em 1960: “o
que faz de uma mensagem verbal uma obra de arte”. A teoria da literatura, no
sentido de crítica da crítica, e a teoria literária, no sentido de formalismo,
parece se encontrarem nesse conceito, que também é tático e polêmico.”
(p.40-41)
No sexto tópico Compagnom nos
dá uma definição de literatura,só que ao definirmos o que teoricamente seja
literatura caímos em afirmativas de exclusão por parte do objeto de estudo da
literatura, e é sempre um preconceito, pois a mesma,cabe a um sentido mais
amplo mais universal, ou seja, como disse antes o autor, um sentido extraliterário.
Infelizmente, mesmo esse critério
flexível e moderado de literariedade é refutável. Mostrar contra-exemplos é
fácil. Por um lado, certos textos literários não se afastam da linguagem
cotidiana (como a escritura branca, ou a behaviorista, a de Hemingway, a
Camus). Sem dúvida, é possível reintegra-los, acrescentando que a ausência de
marca é, ela mesma, uma marca que o cumula da desfamiliariazação é
familiaridade absoluta (ou o cumulo da obscuridade, a insignificância) mas a
definição de literariedade no sentido restrito como traços específicos ou
flexíveis como organização especifica, não é menos contraditória. Por outro
lado, não somente os traços considerados mais literários se encontram também na
linguagem não literária, mais ainda, às vezes são nela mais visíveis, mais
densas que na linguagem literária como é o caso da publicidade. (p. 43)
O último tópico se concentra
em definir que Literatura é literatura, aquilo que os professores e editores, enfim,
aquilo que está no cânone, ou que se pode vir a ser cânone, desde de elementos
extraliterários, ou não.
O que vem a ser literatura,
elevando os níveis de contextualização, estilo, etc?Diz Compagnom que, aquilo
que a sociedade faz de seu texto literário, sem se preocupar, a princípio, com sua
origem, mas avaliando seu nível de contextualização, é que se define o que é ou
não um texto classificado como texto literário, ou sua literariedade.
[...] O contexto pertinente para o
estudo literário de um texto literário não é contexto de origem desse
texto, mas a sociedade que faz dele um uso literário separando-o de seu
contexto de origem. Assim, a crítica biográfica ou sociológica, ou a que
explica a obra pela tradição literária (Sainte-Beuve, Taine, Brunetière), todas
elas variantes da crítica histórica, podem ser consideradas exteriores à
literatura. (p. 45)
Para concluir, devemos nos
ater o que estamos estudando sobre o que vem a ser este termo que tanto entra
em definições ampla e profundamente restrita. Compagnom neste capitulo enfatiza
o paradoxo a que pode levar-nos as várias definições sobre o que é a Literatura.
REFERÊNCIA
COMPAGNOM, Antoine. O demônio da Teoria: Literatura e senso comum. Belo Horizonte: Ed.
UFMG, 2001.
___________________. O demônio da Teoria: Literatura e senso comum. Belo Horizonte: Ed.
UFMG, 1999.