RESUMO: Abordamos aqui um autor que desenvolveu no
interior da Bahia, a literatura de cordel
com sublime maestria. Destacando em sua obra quase sempre o tema Canudos, ou a
Guerra de Canudos. O nome deste grande cordelista é José Aras, o qual escreveu
entre tantos: folhetos de cordel e dois livros autobiográficos, Sangue de Irmão e No Sertão do Conselheiro, também a obra
que damos desataque, Meu Folclore.
Nestes livros o poeta expõe suas experiências no sertão e a riqueza cultural de
sua época. São livros de memorais, e conta através de relatos, como era os
sertões na época pós-guerra de Canudos.
PALAVRAS-CHAVES: Guerra. Canudos.
Poética.
INTRODUÇÃO
Abordamos
aqui um autor que desenvolveu no interior da Bahia a literatura de cordel com uma
sublime maestria. Destacando em sua obra quase sempre o tema Canudos, ou a
Guerra de Canudos. O nome deste grande cordelista é José Aras, que escreveu
entre tantos: folhetos de cordel, dois livros autobiográficos, Sangue de Irmão, No Sertão do Conselheiro, e a obra
que damos destaque, Meu Folclore.
Nestes
livros, o poeta expõe suas experiências no sertão e a riqueza cultural de sua
época. São obras de memorais, e conta, através de relatos, como era os sertões
na época pós-guerra de Canudos.
Nosso objetivo não é os livros
de memórias do poeta José Aras, mas, através do poema intitulado Meu Folclore, o qual fez parte de uma
coletânea de cordel reunidas pelo professor e historiador José Calasans, trata do tema Guerra de Canudos, e expôs a criatividade deste grande poeta
baiano. A coletânea de José Calasans, a qual esta inserida o poema de José
Aras, chama-se: Canudos na Literatura de
Cordel, (1984), que alem do poema de José Aras, Meu Folclore, há outros
poemas de cordel, de outros escritores, tais como Euclides da Cunha, etc... e retratam memórias da
guerra através de poemas de cordéis.
1 SOBRE JOSÉ ARAS
Como fora dito antes, o poeta José Aras nasceu em 28 de julho de 1893
no sertão baiano, mais
propriamente, no “Sítio Lagoa da Ilha, Cumbe, (hoje
Euclides da Cunha), município de Monte Santo naquele ano, freguesia da
Santíssima Trindade de Massacará.” (CAMPUS. 2010). Seu nome de batismo era José
Soares Ferreira Aras. O poeta nasceu a quatro anos antes do acontecimento
histórico que seria tema para a maioria das obras que escreveu, a Guerra de
Canudos.
Apesar de não ter visto a guerra de perto, José Aras deve
ter presenciado fatos que foram importantes no desenrolar deste acontecimento.
Por este motivo, sua obra é carregada de personagens reais que se tornaram
mitos, até mesmo para o próprio autor, como se pode notar nos versos que se
seguem:
Tomaram
todo armamento
Víveres e
munição
E
espalharam boatos
Que D.
Rei Sebastião
Chegou em Belos Montes
Transformou
a água das fontes
Em leite
e as pedras em pão.
( ARAS, 1984,
p. 89)
O mito descrito aqui é o rei Dom Sebastião que iria
voltar e restaurar a monarquia imperial e destruir a república vista por
Conselheiro como um regime do Cão. Está provavelmente uma lenda portuguesa utilizada
no imaginário do povo de Canudos.
Alem de poeta
e historiador José Aras foi também um desbravador dos sertões ajudou a fundar
muitos povoados e a cidade de Euclides da Cunha. Foi um autodidata. Começo seus
primeiros versos “aos 06 anos de idade (...) a caminho da feirinha de Cumbe.”
(CAMPUS, 2010)
“Tinha
inteligência, memória e sensibilidade telepática impressionante. Embrenhava-se
pelos sertões do nordeste brasileiro chegando a indicar mais de cinco mil
fontes. Previa, com incrível exatidão, o veio de água, a profundidade, o tipo
de solo ou formação granítica e a qualidade da água.
Previu a existência do grande lençol de água do Jorro e a construção da
barragem de Cocorobó, além de outros fatos.
Em 1948, desbravou a caatinga, no cruzamento das estradas transnordestina e
transversal, próximo ao local da guerra, fundando, ali o povoamento de Bendegó.
Tendo feito o Censo na região do conflito, em 1920, iniciou a coleção de
material bélico usado pelo exército e pelo conselheiristas, criando e
instalando no vilarejo o Museu Histórico da Guerra de Canudos” (CAMPUS, 2010)
Suas obras se
identificam com o povo de sua terra. O poeta foi um importante estudioso dos
costumes de seu povo, principalmente do povo de Canudos, cujo o qual, defendeu
exaustivamente. O Poeta José Aras faleceu na cidade de Euclides da Cunha, Bahia,
em 18 de outubro de 1979.
2 A JORNADA ÉPICA DA GUERRA DE CANUDOS SEGUNDO JOSÉ ARAS
O poema Meu Folclore escrito por José Aras sob o
pseudônimo de José Sara, segundo o Professor José Calasans, (1984), tem sua data
de publicação em 1957, e se encontrava no Museu do Arraial Bendengó.
Ainda segundo
Calasans, o poema era uma “ Biografia de Antonio Conselheiro. Sua vida em sua
terra, o Ceará. Cocorobó destruirá Canudos e restabelecerá os Belos Montes.”
(CALASANS, 1984, p. 67)
Como falamos
antes, este incrível poema narra a guerra de Canudos descrita por um autor que,
alem de ter visto certos acontecimentos, morava na região. O poema tem como
personagens, tanto os soldados quanto os jagunços, mas Aras defende os
conselheiristas, que em sua visão foram “o heroísmo do sangue brasileiro.”
(ARAS, 1984, p. 76)
O poema começa
contando a biografia daquele que Euclides da Cunha chamou de “o anacoreta sombrio”, Antônio Conselheiro.
Nasceu
Antonio Conselheiro
No estado
do Ceará
Na Vila
de Quixeramobim,
Pertinho
do Quixadar
De
família pobre e fiel
Descende
dos Maciel
Muito
conhecida lá.
(ARAS,
1984, p. 67-68)
Mostra os fatos que o Conselheiro passou em sua vida, os
dramas, as mortes, as acusações feitas pelo governo, e suas prisões.
E com
falsa precatória
O juiz
mandou-o prender
E
remetido ao Ceará
Pra suas
culpas responder,
Enviado a
Fortaleza
Nem mesmo
sua defesa
Não fez,
queria sofrer.
(ARAS,
1984, p.71)
O que se segue
no poema é o conflito que já temos conhecimento em muitos outros escrito, no
mais conhecidos destes escritos temos o livro Os Sertões de Euclides da Cunha, que narra com maestria os
acontecimentos da guerra nos sertões de Canudos.
O que mais se
destaca neste brilhante poema são as lendas históricas da guerra, narradas por
um homem que cresceu ouvido isso dos moradores mais velho de Canudos.
O imaginário
se entrelaça com o real, o fantástico envolvido com aquele povo que desafiou todo
um país:
“Canudos
já acabado
Quando o
reforço chegou
Na manhã
do outro dia
Todo o
exercito cercou
Canudos
ficou com nome
O resto
morreu de fome
Canudos
não se entregou.”
(ARAS,
1984, p. 97)
Assim com este mesmo espírito guerrilheiro que os
conselheiristas despertaram, até mesmo para seus inimigos, Euclides da Cunha, encera
sua obra prima dizendo que “Canudos não se redeu” 2012. O poeta José Aras
sentiu tal força para retratada quase da mesma forma a gloria do seu povo:
“Canudos não se entregou.” (ARAS, 1984)
A obra cordelistica de José Aras não é apenas uma
narrativa histórica ao gosto popular, é uma obra estilística que mostra com
universalização todo um padrão patriótico, filosoficamente falando, e com
estilo provindo da literatura oriunda do povo.
Se poderia
afirmar que José Aras seria um poeta original, neste poema? Esteticamente podemos dizer que sim, pois fez uma obra que está para alem de seu alcance histórico
e para alem daquilo que quer realmente nos mostrar, ou seja a guerra enquanto
guerra, e o que ela modificou no povo que se fez presente em tal evento. Por
isso tomamos este poema como uma referencia ao poeta José Aras e o relato mais
estilístico de sua obra na Literatura de Cordel.
CONCLUSÃO
O cordel quase sempre foi visto como uma literatura
“secundaria” remetida ao “populacho”, ou seja, uma obra produzida pelo povo. Na
Bahia temos grandes cordelistas, os quais não são reconhecidos como poetas, mas
como coadjuvantes de uma literatura sem prestigio.
Para isso é
importante mostrar a beleza da poética de José Aras em seu cordel Meu Folclore. Uma poética realizada no
sertão baiano, por um escritor que viu de perto a herança de uma guerra tirana
sobre um povo forte e que não desistiu e nem abdicou de seus ideais, lutou até
o fim.
José Aras, o “poeta
conselheirista” (José Calasans, 1984) é o desbravador, tanto do cordel como da
história de seu povo. Registrou o pensamento da “gente” de Conselheiro, como
eles queriam que terminasse esta guerra, e assim como deferia ser dito a toda
uma nação.
A versão de
José Aras sobre a guerra enaltece os conselheiristas como heróis e não como
bandidos, por isso se há a necessidade de observamos com um olhar mais profundo
este trabalho poético de José Aras.
PAULO MONTEIRO DOS SANTOS
Graduado em Letras e Filosofia; Email: paulus.monterum@gmail.com
REFERÊNCIA
ARAS, José. No Sertão do Conselheiro. Salvador:
Contexto e Arte, 2003.
ARAS, José. Sangue de Irmãos. Feira de Santana: EMAGRAE,
2009.
CAMPUS,
Ney. JOSÉ ARAS- BIOGRAFIA.
Disponível em: http://www.museudocumbe.com/2010/09/jose-aras-biografia.html
< Acessado em 15 de Ago. 2012>
CALASANS,
José. Canudos na Literatura de Cordel.
São Paulo: Ática, 1984.
CUNHA,
Euclides, Os Sertões. Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000153.pdf < Acessado em
15 de Ago. 2012>
CUNHA,
Euclides da, Os Sertões. 6ª ed. Rio
de Janeiro: Record, 2003