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quarta-feira, 28 de agosto de 2013

RESENHA SOBRE O CONTO PAI CONTRA MÂE DE MACHADO DE ASSIS










O conto Pai Contra Mãe de Machado de Assis nos mostra com muita ênfase um aspecto curioso da época da escravidão no Brasil, mais propriamente a decadência da escravidão. Não é um fato perceptível no primeiro momento, já que o autor fala de Candido que além de ser desempregado é preguiçoso e não está muito a fim de arrumar emprego, e começar a trabalhar com “ofício de pegar escravos fugidos”. (MACHADO, p.1).
Candido casa-se com Clara que mora com a tia Mônica. Estas duas pobres mulheres trabalham duramente enquanto Candido vagabundeia pelas ruas do Rio de Janeiro. Porém o conto não é apenas uma questão monótona do cotidiano, mas como o próprio autor relata no texto em momento em que Candido está a capturar um escravo fugitivo:
Certa vez capturou um preto livre; desfez-se em desculpas, mas recebeu grande soma de murros que lhe deram os parentes do homem. (MACHADO, p.6)

            Este trecho remete-nos a entender fatos que talvez não sejam de louvor poético, mas demasiadamente irônico, ou que não sejam realmente fatos a ser considerados, se é que a escravidão no período em que Machado tenha escrito este conto já tinha acabado, mas uma coisa peculiar e que nos chamou a atenção é o modo como ele escreve sobre a questão da escrava Arminda quando esta diz que está grávida:

Estou grávida, meu senhor! Exclamou. Se Vossa Senhoria tem algum filho, peço-lhe por amor dele que me solte; eu serei tua escrava, vou servi-lo pelo tempo que quiser. Me solte, meu senhor moço! -- Siga! repetiu Cândido Neves. --Me solte! --Não quero emoras; siga! (MACHADO, p.10)

            Um fato curioso de se notar é que os dois personagens têm filhos. A captura da escrava pelas mãos de Cândido iria lhe trazer uma recompensa que ajudaria na melhoria de sua família, mas esta captura fez com que a escrava Arminda abortasse a criança que ela trazia no ventre.
            O movimento realista e o gênio de Machado de Assis não lhe faz transpor no texto sentimento, e não é isso também o que sugerimos ao observar esta questão. Atentamos ao leitor para a seguinte reflexão que cremos ser a mesma de Machado naquela época: O que seria dos escravos depois que acabasse a escravidão?
            É notável o romantismo nos personagens: Clara e Cândido e a rigidez de tia Mônica, e neste aspecto a ruptura do Romantismo para o Realismo, mas isso já o era uma verdade normal nesta época dos movimentos deterministas que estavam emergindo da Europa. Porem acreditamos que este conto vai além de meras observações momentâneos, pois Machado era descendente de escravos e ter convivido com esta realidade aflorou o seu sentimento de protesto, mesmo que escondido sobre a conotação da ironia, figura de linguagem que o genial Machado Assis usava com maestria.
            Neste conto há uma critica social muito forte, ainda mais quando ele diz sem nenhum pudor a última frase do conto: “Nem todas as crianças vingam.” [...] (MACHADO, p.11)
            Uma critica social até para a época, e o mestre o fez bem, pois a escreve sem demonstrar nenhum sentimento, característica dos grandes gênios da literatura realista, quem que ele era desprovido de sentimentos, mas que a morbidez dos fatos era, a sociedade era, então assim deveria ser.
            Podemos até questionar que talvez Machado não estivesse falando sobre a questão da escravidão, argumentaríamos para o fator psíquico do ser de Candido e Clara e tia Mônica, mas isso já é visível à sociedade da época.
            Tudo isso já torna-se um fato claro do cotidiano deste período, acreditamos veementemente que Machado de Assis não iria escrever apenas um conto simplório, já que sendo um escritor universalista se ateu as mínimas coisas em uma obra que tem como fundo uma sociedade que já mostrava um declínio social no sentido de princípios morais e humanos influenciada pelo crescente domínio do capitalismo do final do século XIX.


REFERÊNCIA

  MACHADO, Assis. Pai contra mãe. A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro 
 A Escola do Futuro da Universidade de São Paulo DISPONÍVEL EM: <http://www.bibvirt.futuro.usp.br>

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