Paulo Monteiro
dos Santos[1]
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
SANTIAGO, Silvano: A bagaceira: fábula
moralizante. In:____. Uma literatura nos
trópicos. 2ª ed. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.
ANALISE
DA OBRA DE JOSÉ AMÉRICO DE ALMEIDA (A
BAGACEIRA) FEITA POR SILVANO SANTIAGO NO LIVRO UMA LITERATURA NOS TRÓPICOS
Ao
aborda a obra de José Américo de Almeida, A
bagaceira, Silvano Santiago explora as varias vertentes de como o leitor
pode ver o discurso que se é entendido dentro do texto: “(...) janelas por
onde, ao mesmo tempo, olhar para fora de dentro e para dentro de fora do
texto.” (SANTIAGO, 2000). E explora, no exemplo que extrai do livro, sobre
Dagoberto (personagem de A bagaceira)
como nós, leitores, olhamos esta dualidade, “este meio termo da janela”, no
caso, daquele que lê a obra: “janela onde (se) olha o texto.” (p. 104)
Silvano
evoca na obra A bagaceira, a importância das reticências, que no livro é
frequentemente utilizado pelo autor. E de como estas reticências (que na obra
mostra omissão de fala ou de pensamento) provoca no leitor dúvidas e leituras a
parte, dando ao leitor a oportunidade de participar da obra e criar sua própria
leitura diante do personagem. Neste caso será o leitor, que em dúvida, “sem
saber o que exatamente o personagem disse,” (p. 104) faz com que o leitor
participe da narrativa, juntamente com o narrador, criando um universo seu para
com a obra.
Outro
aspecto analisado por Silvano é a necessidade de o narrador querer explicitar
no inicio da obra que sua narrativa se desenlaça em torno de mentira. Mas está
mentira, “outorgou-se a si o direito de dizer a verdade dissimulada” (p. 107).
Por outro lado,
vestindo desde o inicio a máscara da mentira, a ficção (como o louco nos textos
medievais) outorgou-se a si o direito de dizer a verdade dissimulada, sem que sofra
choques absurdos ou repressivos- diz a verdade da mentira, a verdade pela
mentira, a verdade dentro da mentira. (SANTIAGO, 2000, p.107)
Silvano
explora outros autores como Graciliano Ramos, na obra Caetés e São Bernardo, e
José Lins do Rego em Menino de Engenho,
afirmando que tais autores tentam mostra em suas obras a verdade diante da
ficção, coisa que no autor de A bagaceira,
o narrador tenta mostrar o contrário, ou seja, ela, sua narrativa, gira em
torno da mentira. Afirma Silvano que: “No caso de A Bagaceira, faz-se ficção de propósito, pois é a maneira mais
persuasiva de dizer a verdade.” (p. 111).
O
autor retoma também os contrastes da trama amorosa que envolver Lúcio,
Dagoberto e Soledade, personagens principais do romance. Recorda o autor que Lúcio
é filho de Dagoberto, e este mesmo Lúcio, apaixonado por Soledade, vê-la casada
com seu próprio pai.
Outro
personagem intrínseco na trama de A
bagaceira é Pirunga, irmã de criação de Soledade, primos em verdade. Este
Pirunga é apaixonado por Soledade. Então, aborda o autor, colocando que
“Soledade é a virgem cobiçada pelo esposo, pelo filho, e pelo irmão” (p. 117).
Esta
frase de Silvano é de certa forma um trocadilho hiperbólico, que ele usa na
tentativa de demonstrar a catarse da trama, pois sabemos que Lucio não era de
fato filho de Soledade, muito menos Pirunga era de fato irmão. Porém a trama
descrita por José Américo é tão complexa e envolvente que o leitor se vê
emaranhado com a obra.
Observa-se
também na analise de Silvano, uma distinção entre a natureza, que esta na
essência de Lucio, e sua visão perante a qualidade desta mesma natureza. Mais
ainda a sua visão da natureza humana. Também da natureza como próprio elemento
físico na formação e confronto com o próprio ser do homem, ou sua própria natureza,
natureza psíquica.
Para
concluir, é certo dizer que o estudo de Silvano Santiago é profundamente
marcado por uma analise psicológica da obra A
bagaceira, tanto quando fala sobre a trama do personagem, como as tramas
que acontece na mente do leitor, ao ler as reticências que se encontram no
texto. Reticências que esconde uma verdade ao leitor, obrigando-o há construir
sua própria realidade diante de um texto que é pura ficção.
REFERÊNCIA
SANTIAGO, Silvano. Uma literatura nos trópicos. 2ª ed. Rio
de Janeiro: Rocco, 2000.
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