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terça-feira, 29 de outubro de 2013

Resenha: ANALISE DA OBRA DE JOSÉ AMÉRICO DE ALMEIDA (A BAGACEIRA) FEITA POR SILVANO SANTIAGO NO LIVRO UMA LITERATURA NOS TRÓPICOS

Paulo Monteiro dos Santos[1]








REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

SANTIAGO, Silvano: A bagaceira: fábula moralizante. In:____. Uma literatura nos trópicos. 2ª ed. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.



ANALISE DA OBRA DE JOSÉ AMÉRICO DE ALMEIDA (A BAGACEIRA) FEITA POR SILVANO SANTIAGO NO LIVRO UMA LITERATURA NOS TRÓPICOS

Ao aborda a obra de José Américo de Almeida, A bagaceira, Silvano Santiago explora as varias vertentes de como o leitor pode ver o discurso que se é entendido dentro do texto: “(...) janelas por onde, ao mesmo tempo, olhar para fora de dentro e para dentro de fora do texto.” (SANTIAGO, 2000). E explora, no exemplo que extrai do livro, sobre Dagoberto (personagem de A bagaceira) como nós, leitores, olhamos esta dualidade, “este meio termo da janela”, no caso, daquele que lê a obra: “janela onde (se) olha o texto.” (p. 104)
Silvano evoca na obra A bagaceira, a importância das reticências, que no livro é frequentemente utilizado pelo autor. E de como estas reticências (que na obra mostra omissão de fala ou de pensamento) provoca no leitor dúvidas e leituras a parte, dando ao leitor a oportunidade de participar da obra e criar sua própria leitura diante do personagem. Neste caso será o leitor, que em dúvida, “sem saber o que exatamente o personagem disse,” (p. 104) faz com que o leitor participe da narrativa, juntamente com o narrador, criando um universo seu para com a obra.
Outro aspecto analisado por Silvano é a necessidade de o narrador querer explicitar no inicio da obra que sua narrativa se desenlaça em torno de mentira. Mas está mentira, “outorgou-se a si o direito de dizer a verdade dissimulada” (p. 107).
Por outro lado, vestindo desde o inicio a máscara da mentira, a ficção (como o louco nos textos medievais) outorgou-se a si o direito de dizer a verdade dissimulada, sem que sofra choques absurdos ou repressivos- diz a verdade da mentira, a verdade pela mentira, a verdade dentro da mentira. (SANTIAGO, 2000, p.107)

Silvano explora outros autores como Graciliano Ramos, na obra Caetés e São Bernardo, e José Lins do Rego em Menino de Engenho, afirmando que tais autores tentam mostra em suas obras a verdade diante da ficção, coisa que no autor de A bagaceira, o narrador tenta mostrar o contrário, ou seja, ela, sua narrativa, gira em torno da mentira. Afirma Silvano que: “No caso de A Bagaceira, faz-se ficção de propósito, pois é a maneira mais persuasiva de dizer a verdade.” (p. 111).
O autor retoma também os contrastes da trama amorosa que envolver Lúcio, Dagoberto e Soledade, personagens principais do romance. Recorda o autor que Lúcio é filho de Dagoberto, e este mesmo Lúcio, apaixonado por Soledade, vê-la casada com seu próprio pai.
Outro personagem intrínseco na trama de A bagaceira é Pirunga, irmã de criação de Soledade, primos em verdade. Este Pirunga é apaixonado por Soledade. Então, aborda o autor, colocando que “Soledade é a virgem cobiçada pelo esposo, pelo filho, e pelo irmão” (p. 117).
Esta frase de Silvano é de certa forma um trocadilho hiperbólico, que ele usa na tentativa de demonstrar a catarse da trama, pois sabemos que Lucio não era de fato filho de Soledade, muito menos Pirunga era de fato irmão. Porém a trama descrita por José Américo é tão complexa e envolvente que o leitor se vê emaranhado com a obra.
Observa-se também na analise de Silvano, uma distinção entre a natureza, que esta na essência de Lucio, e sua visão perante a qualidade desta mesma natureza. Mais ainda a sua visão da natureza humana. Também da natureza como próprio elemento físico na formação e confronto com o próprio ser do homem, ou sua própria natureza, natureza psíquica.
Para concluir, é certo dizer que o estudo de Silvano Santiago é profundamente marcado por uma analise psicológica da obra A bagaceira, tanto quando fala sobre a trama do personagem, como as tramas que acontece na mente do leitor, ao ler as reticências que se encontram no texto. Reticências que esconde uma verdade ao leitor, obrigando-o há construir sua própria realidade diante de um texto que é pura ficção.

REFERÊNCIA

SANTIAGO, Silvano. Uma literatura nos trópicos. 2ª ed. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.







[1] Graduando do Curso de letras Vernáculas na Universidade do Estado da Bahia- (UNEB) Campus XXII.

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