Paulo
Monteiro dos Santos[1]
INTRODUÇÃO
Jürgen Habermas (1929 Alemanha) é um filósofo da Linguagem, mas
sua leitura é política. Para este pensador a filosofia deve contribuir para o
entendimento, político- intersubjetivo, entre as pessoas. Devemos chegar a um
consenso pelo debate só assim é que se pode surgir a democracia. Habermas é um
filosofo continental. Para entendermos isso devemos explicar resumidamente a
problemática entre filósofos continentais e analíticos.
Há duas divisões no século
XX sobre o estudo da Filosofia da Linguagem: 1) Continental: preocupava-se com
a linguagem, mas com o seu uso sobre: poder, ideologia, e tudo que pode ser
influenciado pelo discurso. Esses filósofos são de maioria franceses e alemães.
Geralmente se concentravam no estudo da fenomenologia e da hermenêutica. São da
parte do continente europeu, daí serem chamados de continentais. 2) Os
Analíticos: Esses filósofos estão preocupados com uma análise lógica da linguagem
– Semântica; sintaxes. Estão tentando descobrir uma essência da linguagem. Esta
filosofia se desenvolver na Inglaterra, por isso a diferença de ela não ser
continental. Essa é uma diferença puramente didática, não se quer dizer que
todos os filósofos do continente eram puramente continentais e os filósofos fora
do continente eram todos analíticos.
Habermas é um dos
participantes da Escola de Frankfurt da segunda geração. Na verdade Habermas é
o herdeiro dessa escola. Essa escola foi fundada por Adorno, Horkheimer e
Marcuse. Essa escola formalizou uma teoria que criticava a sociedade
positivista, cientificismo, o racionalismo kantiano, o capitalismo, o
iluminismo moderno, e o tecnicismo. A escola era adepta do romantismo. (Durante
o século XX tivemos varias escolas: Círculo de Viena; Positivismo e a Escola
Romântica).
Os teóricos da Escola de
Frankfurt estavam preocupados em saber o porquê o Iluminismo Moderno não
vingou, e, ao invés de um homem livre, o que nasceu foi o Totalitarismo. A
Razão da modernidade transformou o sujeito em um homem pior e não melhor.O
projeto iluminista falhou. Kant no texto O que é o esclarecimento, prometera
que pela autonomia da razão nós nos livraríamos do mal, mas chegando o século
XX, conseguimos apenas transformar os problemas para pior que antes; num vazio
de poder, segundo Arendt. Os regimes totalitaristas são um vazio de poder, e
nesse vazio de ideias, nasce o messias que prega a salvação. A Filosofia, a
Religião, e a Política estam todas em Crise. Por isso nasce um novo Deus: O
dinheiro, Hitler, as ontologias do futuro, as quais prometem nossa salvação.
Mas esse projeto da modernidade falhou. A razão que nasceu na modernidade é uma
razão egoísta. Só quer o bem egocêntrico, solipcista: “ Tudo é meu, eu existo
os outros não sou eu.”
Os teóricos da Escola de
Frankfurt pensavam que o marxismo poderia ser a salvação, mas depois eles
começaram a ver que o marxismo transformou-se em Ideologia, funcionava na
teoria, mas na prática não dava certo.
Nesse sentido a Escola adota
um pensamento pessimista: Não havia solução. Para eles o século XX era uma
fatalidade inevitável. A razão está podre. Há uma maquinaria, um círculo
vicioso. A arte perdeu sua beleza. Tudo agora faz parte de uma indústria
cultura, onde a mídia manipula o homem a seu prazer. Pode-se até fazer uma
resistência, mas não se pode resistir por muito tempo.
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UMA SOLUÇÃO PROPOSTA POR HABERMAS
Habermas é um filósofo que
acredita que se pode haver uma solução, e essa solução passa pelo uso da
linguagem. Devemos dialogar para chegarmos a um entendimento. Para Habermas o
projeto da modernidade está inacabado. Kant não terminou seu projeto, diz
Habermas. Habermas se propõe a fechar esse projeto. Para esse pensador deve-se
haver uma Virada Lingüística.
Antes, na Modernidade, havia
uma consciência do Eu/Sujeito/cogito, Habermas diz que não se pode haver mais
essa consciência. Kant se equivocou. Kant dizia que o esclarecimento está no
sujeito, mas segundo Habermas, nós devemos é tornar a sociedade esclarecido.
E como fazer? Por meio de uma Agir Comunicativo. Quando isso
acontecer não haverá mais a necessidade de regimes totalitaristas.
Todos nós temos que nos
tornar esclarecidos; “Dizer é fazer.” Temos que sairmos do
mundo do “Eu”, para entrar no mundo do “outro”. A teoria ética de
Habermas é uma teoria da ética do discurso.
Para Habermas a razão que
vigora é Instrumental, tem fins especificamente, econômicos. As pessoas
buscam a razão apenas para ter dinheiro. “Eu faço medicina não para ajudar o
outro, mas para ganhar dinheiro.” O mundo perdeu a razão filosófica. O
conhecimento perdeu sua razão que buscava conhecer apenas por conhecer. Assim
Habermas divide a razão de duas formas: 1) Razão Filosófica: forma humanos; 1) Razão
Instrumental: forma técnicos.
Para Habermas há duas esferas:
1)
Trabalho; 2) Interação. A Esfera do trabalho é da relação afim, a da
Interação é da esfera da linguagem. Habermas diz que a esfera do trabalho
levou-nos a uma tecnocracia. As regras da esfera do trabalho influenciam na
interação da cultura. A tecnocracia não se preocupa com o homem, mas apenas com
a economia. A lógica do mundo é a do mercado. Os direitos do outro agora é
apenas um produto.
Habermas diz que o trabalho
é importante, mas a vida não é apenas isso. O homem tem também que redescobrir
a esfera da interação. O povo tem que entender a democracia porque a democracia
é essencialmente deliberativa. Um dialogo entre poder e sociedade para o bem de
todos
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TEORIA DO AGIR COMUNICATIVO
A teoria de Habermas
chama-se: Teoria do Agir Comunicativo/ Ação Comunicativa. Sua filosofia da
linguagem, neste sentido, é a da pragmática: “Dizer é fazer”.
Habermas faz uma crítica à escola de Frankfurt, ele quer apresentar uma
resposta ao problema apresentado por essa escola. A escola diz que os modernos
desenvolveram uma racionalidade instrumental. Cujo fim na verdade era o lucratismo.
A tecnologia da modernidade se voltou para a economia e não para a melhoria da
vida do homem e isso ocasionou o surgimento dos regimes totalitários.
A racionalidade está
comprometida com o Agir Estratégico. Que
visa o sucesso individual em um contexto instrumental. Kant de certa forma
contribuiu para o aflorecimento dessa ideia, quando escreveu o texto sobre o
Esclarecimento. O sujeito tem que ser autônomo, ele deve se auto legislar. Usar
de sua razão e ser autônomo. Temos que romper com a menoridade e atingir uma
maioridade. Devemos romper com as tutelas internas subjetivas: Medo, preguiça,
covardia, comodismo. Devemos romper também com as tutelas externas: Religião a
Política.
A escola de Frankfurt
criticava o solipcismo, pois se assim for caímos em uma ideia de heteronímia,
ou seja, aquele que pensa com uma razão reprodutiva. Nós não pensamos, mas
apenas reproduzimos pensamentos.
Veja, então como que fica a minha razão
autônoma diante daquilo que a instituição me impõe? O projeto era torna o
sujeito autônomo, esclarecido, mas o projeto fracassou, justamente porque o
sujeito esclarecido fez de seu pensamento uma razão instrumental.
O que fez surgir o capitalismo,
o cientificismo e a revolução científica. Assim surge a teoria crítica da
escola: o sujeito foi seqüestrado de sua razão, e a razão está doente e acabou
gerando o totalitarismo. Adorno achava que a melhor forma era resgatar a
filosofia de Nietzsche, o espírito dionisíaco.
O homem é vontade, desejo, ele não é apenas
razão. Resgatar Dionísio é resgatar o homem da doutrinação da razão. E o
espírito do homem está enjaulado nessa doutrina. Há uma engenharia e uma
arquitetura para manter a engrenagem girando.
Habermas concorda com
Adorno, a razão é instrumentalizada e estruturada, mas existe solução. O
problema de Kant foi ter centralizado a razão apenas no sujeito. Habermas
propõe uma nova visão, uma reviravolta. O esclarecimento dito por Kant apenas
no sujeito deve ser social. O Agir deve ser comunicativo. Devemos ter um
consenso, um dialogo Intersubjetivo.
Mas para Habermas, esse
acordo deve ser visto e revisto na linguagem. Assim Habermas inaugura um novo
paradigma. Antes havia o seguinte paradigma: 1) A razão instrumental: uma
filosofia da consciência: (autonomia do sujeito). Habermas inaugura uma
nova concepção, um novo paradigma da razão: 2) Razão comunicativa: o agir deve
ser comunicativo. Autonomia social, não mais autonomia do sujeito. O
agir deve ser uma agir comunicativo multou.
CONCLUSÃO
Habermas quer construir uma
democracia legitima. Para ele vivemos em uma democracia disfarçada de
tecnocracia onde a regra é o dinheiro; a economia. Onde o poder é biológico,
pois se preocupa em controlar a vida das pessoas. Como diria Foucault: o
biopoder. Neste sentido podemos dizer que Deus não está mais morto, ele
apenas se transformou em dinheiro. “Nietzsche errou”, afirma Habermas. A
tecnocracia faz do direito humano um produto, um exemplo é a aposentadoria: é
um direito, mas aos poucos vai se transformando em produto, onde, como
principio a aposentadoria deveria assegurar a vida daqueles que não podem mais
se auto-sustentar, mas agora tornou-se negócio.
O grande problema é que a
esfera do trabalho oprime a da linguagem. O sistema tecnocrata não quer
dialogo, pois se o homem começar a discutir política ele vai prejudicar o
sistema. A razão instrumental é importante, mas o homem precisa de dialogo.
Habermas propõe uma democracia deliberativa pensando o bem comum: Devemos criar um
conselho onde o povo deve fazer parte e onde todos devem ter direito a palavra.
Dessa forma os direitos humanos não serão violados. Devemos discutir de forma
honesta e intelectualmente nesse conselho, só assim chegamos a um Entendimento,
como sonhou Kant.
Referências
WIGGERSHAUS,
Rolf. A escola de Frankfurt: História,
desenvolvimento teórico, significado político. Rio de Janeiro: DIFEL, 2002.
Paulo Monteiro dos Santos
[1] Graduado em Letras Vernáculas pela UNEB (Universidade
do Estado da Bahia;