Paulo
Monteiro dos Santos[1]
INTRODUÇÃO
Wittgenstein (1889-1951)
Nasceu em Áustria – Viena. Era de família abastarda e viveu em pleno auge da
Segunda Guerra Mundial. Estudou com Hitler e o filósofo Frege. Foi à Inglaterra
e se tornou aluno de Russel.
Nessa época aconteceu a
Primeira Guerra Mundial e Wittgenstein se alista como soldado. Durante o
termino do curso de filosofia ele, como o apoio de Russel, escreve sua
obra-prima o Tractatus:
Logico-Philosophicus em forma de
aforismo (pensamentos soltos).
Wittgenstein é entendido por
dois momentos: O Wittgenstein do Tractatus é considerado o primeiro
Wittgenstein, em seguida, depois que Wittgenstein entra para o circulo de Viena
e escreve Investigações Filosófica, temos o segundo Wittgenstein.
1 O
PRIMEIRO WITTGENSTEIN
O primeiro Wittgenstein
desenvolve uma filosofia lógica, em uma Linguagem
formal onde a Sintaxe e a Semântica são importantes para resolver
os problemas filosóficos e evitar erros na linguagem. Wittgenstein trata que
deve-se haver uma relação da linguagem com o mundo, uma Isomorfia. Temos aqui uma preocupação com a Essência da Linguagem. O
segundo Wittgenstein está preocupado com a Linguagem mas em relação ao seu uso Pragmático. Wittgenstein não está mais
preocupado com a essência da Linguagem. A linguagem e o mundo tem uma relação
mais ou menos adequada com o Mundo. Tratemos agora mais a finco o
primeiro Wittgenstein com mais detalhes.
No Tractatus, Wittgenstein
se preocupa com os problemas da Linguagem de forma Lógica. Qual é o grande
problema da Linguagem no Tractatus? A Linguagem tem um caráter amplo. Nós a
usamos para falar tudo: 1) Ciência, 2) Religião, 3) Arte, 4) Filosofia.
Wittgenstein vai tentar dar um limite.
Veja, tem coisa que não tem
sentido! Observando as regras da gramática nós podemos falar de tudo, e nessa
ânsia de falar, nós falamos bobagens. Os filósofos abusaram da Linguagem e
acumularam, em suas falas, bobagens. Esses abusos geraram os problemas da Filosofia.
Os filósofos fizeram mau uso da Linguagem. Então para Wittgenstein, quando
analisarmos os problemas da Linguagem, vamos resolver todos os problemas do
mundo, pois para ele o problema da humanidade é o mau uso da linguagem.
A Linguagem é formada por Proposições, um enunciado quer propor algo.
Mas as proposições do cotidiano é carregada de sentimentos, imaginação, paixão,
superstições, falta-lhe um caráter de verdade. Outra coisa são as proposições
da Ética, que na verdade são apenas
juízos de que é bom ou do que é mau. Também há as preposições da Estética, que assim como na ética tem um
critério Subjetivo: Feio, Belo.Existem também as preposições da Religião, nela
cada um diz como é seu Deus. Qual preposição está correta? Para Wittgenstein
nenhuma dessas preposições leva a nada, só causam abusos na Linguagem. Por fim
temos as preposições da Ciência que para Wittgenstein são as mais adequadas,
pois essas visam de fato os objetos.
Para os positivistas tudo o
que vejo eu posso enunciar, verificar no mundo, e tudo tem um valor de verdade.
Wittgenstein acredita que a Ciência tem as melhores proposições, porque eu só
posso falar sobre as coisas que eu analiso no mundo. Não devemos falar em
Ética, Estética, ou Religião. Eu devo mostrar em minha vida esses valores. Eu
só posso falar sobre as proposições e as ideias metafísicas eu apenas tenho que
vivê-las. Não posso dizer por que elas não estão no mundo, apenas em minha
cabeça. É preciso então delimitar a Linguagem. 1º) Com sentido: Ciência; e 2º) sem sentido: Metafísica. Porém para
delimitar eu preciso saber qual é o limite da Linguagem. Como delimitar aquilo
que pode e o que não pode ser dito? O Limite da Linguagem é o limite do mundo.
Eu só posso dizer aquilo que está no mundo, mas aquilo que não está eu não
posso falar “devo me calar”. Os fatos estão no mundo, mas os valores éticos são
colocados no mundo pelos homens. Estamos em um mundo doente que faz mal uso da
Linguagem, e a Filosofia por conseqüência, não deve ser uma teoria do mundo,
deve ser uma terapia do mundo.
O mundo e a Linguagem têm
uma relação, como dissemos antes, uma Isomorfia. “Veja, quando digo: “João é
justo”, isso não é um fato no mundo, mas se eu disser: “ A vaca come capim”,
isso é um fato no mundo, uma isomorfia. “ A Joana é bonita”, como se pode
representar isso no mundo? Impossível! Quando falamos em fato, dizemos que fato
é um estado
de coisas que estão no mundo.
Temos as proposições que
podem ser atômicas que se
correspondem com no mundo. Nos fatos há os objetos/corpos. Nas proposições há o
sujeito e os predicados. O que é um estado de coisas? Aquilo que acontece no
mundo. Estas coisas são as possibilidades lógicas de acontecer. No Tractatus
Wittgenstein defende que há uma Essência
da Linguagem. Para Wittgenstein só
devemos falar o que está no mundo. Wittgenstein então define a Linguagem da
seguinte forma no Tractatus: 1) Sentença;
2) Proposição 3) Argumento.
Uma sentença nasce de uma
gramática. É todo enunciado que não tem valor de verdade. Uma sentença não
precisa ter significado ou sentido.
A proposição é mais
complexa: É toda sentença declarativa. Ela propõem algo sobre o mundo, por isso
ela tem valor de verdade. Há dois tipos de proposições: a) Atômicas e b) Compostas. Atômicas são elementares,
e compostas são moleculares. A composta
se compõe por mais de uma oração; a atômica é composta por apenas uma oração,
por isso chama-se atômica. Aqui devemos salientar que existe 5 orações que não
são proposições:
1) Ordem:
Não propõem nada sobre o mundo;
2) Pergunta:
Não propõem, apenas pergunta;
3) Tautologia:
Tautologia são frases em que tudo é verdadeiro, por isso não é uma preposição.
Exemplo: “Todo círculo é redondo.”
4) Contradição:
Uma contradição é sempre algo falso e verdadeiro, elas não propõem, ela só
desmente a si mesmo.
5) Paradoxo:
Paradoxos não propõem nada porque a própria frase entra em uma petição de
principio e cai em contradição.
O Argumento é um conjunto de
proposições. Ele não tem valor de verdade, só tem valor de verdade às
proposições. Os argumentos são válidos ou inválidos. Sua estrutura é quem
valida o argumento e também lhe dar forma. O argumento metafísico para Wittgenstein
é sempre inválido.
Wittgenstein dividiu o
Tractatus em aforismo da seguinte forma:
1º O mundo é tudo o que é o
caso;
2º O que é o caso, o fato, é
a existência de estado de coisas;
3º Figuras lógicas dos fatos
é o pensamento;
4º O pensamento é a
proposição com sentido;
5º A proposição é uma função
de verdade das proposições elementares;
6º A formula geral da função
de verdade é [P£N(£)]
7º Sobre aquilo que não se
pode falar deve-se me calar.
A metafísica deve ser
demonstrada e não falada, pois aquilo que não esta no mundo é místico. O mundo
são fatos, o místico é de aspecto do metafísico.
Resumindo: Sendo uma
filosofia lógica será um pouco mais difícil compreender o Tractatus.
Wittgenstein está convencido que os problemas da filosofia são
pseudos-problemas. São erros do mau uso da linguagem. Devemos fazer uma terapia
da linguagem. O mundo está doente de metafísica. Não devemos trazer para o
mundo ideias de Deus, amor, bem, mal. Nós discutimos, mas deveríamos viver e
não discutir. Não existem valores no mundo, é o homem que acrescenta estas
coisas.
Veja, viver valores é bom,
mas discutir tais valores como verdades metafísicas, é cair no erro. Teorizar
sobre tais fatos, fazer juízos sobre Estética, Ética, Religião é um erro, diz
Wittgenstein: é um absurdo! Temos então que criar os limites para a linguagem.
Tem coisas que só podemos mostrar, e outras apenas dizer. Sobre a metafísica,
só podemos mostrar, não podemos dizer, pois não existem critérios para avaliar
esses discursos.
Eu só posso falar de
Fenômenos. Os limites de minha linguagem são os limites do mundo. Só posso
falar de proposições, propor algo sobre o mundo. Há então apenas os fatos das ciências naturais.
2 O
SEGUNDO WITTGENSTEIN
No segundo Wittgenstein de
Investigações Filosóficas, (década de 30 do século XX), dá-se um abandono de
algumas de suas teorias do Tractatus. Ao se encontrar com um amigo estudioso,
Piero Sraffa (Turim,
1898 - Cambridge, 1983), Wittgenstein faz uma revisão em sua teoria.
Sraffa propõe a Wittgenstein
para analisar os gestos do napolitano, e pergunta a Wittgenstein qual é a forma
lógica dos gestos dos napolitanos. Wittgenstein percebe que gestos não têm
significados lógicos, e assim abandona sua teoria na questão da a) sentença da b) lógica e da c) semântica.
Abandona por assim, a ideia de uma Essência
da Linguagem. Para Wittgenstein o que existe na verdade é uma Conversão, e uma Pragmática da Linguagem.
O uso da linguagem está
dentro de uma comunidade. Não existe uma essência da linguagem, o que existe é A Linguagem. Agora há uma reabilitação
da Linguagem. Agora sim pode-se falar em Ética, Estética, e Religião, só que
este discurso se limita em determinado lugar. Pode ser dito, mas dentro de um
determinado grupo humano, e que tenha uma mesma cultura; dentro de uma
comunidade hermenêutica que fala a mesma língua, ou seja, cada um com sua forma de vida.
Filósofos falam com
filósofos, matemáticos com matemáticos, mas estas formas de vidas têm regras,
limites. No Tractatus a linguagem tinha um limite: o mundo, mas agora o limite
é a forma de vida. A regra está em cada comunidade de vida e cada uma com sua linguagem.
Os limites são as concordâncias, e cada comunidade tem
uma concordância entre as comunidades. Então aqui cabe a questão: Quando nascem
os problemas filosóficos? Wittgenstein diz que: nascem quando quebramos as
regras.
Quando saímos e vamos de encontro
aos valores ditos pelos costumes da comunidade a que pertencemos. Podemos assim
dizer que para Wittgenstein a Linguagem não é mais Isomórfica, ela agora é uma Caixa de Ferramentas, onde você deve
conhecer a língua e a cultura da comunidade para assim poder resolver os
problemas que ai se apresentam.
Assim, no segundo
Wittgenstein, temos um certo relativismo que se apresenta em sua teoria. As
regras na comunidade devem-se impor ao sujeito e todos devem ter uma semelhança em família. Nas
Investigações Filosóficas, a Preposição não é mais lógica, mas ela deve se
adequar a realidade. Há, de certa forma, nessa análise, uma visão
antropológica.
CONCLUSÃO
Assim podemos concluir o
pensamento de Wittgenstein dizendo que: no Tractatus
temos um homem fora do mundo analisando a linguagem, mas nas Investigações é o homem que está dentro
do mundo, e por meio dele e de sua cultura, se comunica com os demais homens.
REFERÊNCIAS
VALLE,
Bortolo; BRÍGIDO, Edimar. Wittgenstein a
ética e a constituição do gênio. Curitiba. Editora CRV, 2018.
REALE,
Giovanni; ANTISERI, Dario. História da
Filosofia: De Nietzsche à Escola de Frankfurt. São Paulo. Paulus, 2006.(Coleção
história da filosofia; 6)
WITTGENSTEIN,
Ludwig. Investigações Filosóficas.
São Paulo. Nova Cultura, 1999.
_____________________. Tractatus Logico-Philosophicus. São Paulo. Companhia Editora
Nacional, 1968.
Paulo Monteiro
[1] Graduado em Letras pela UNEB
(Universidade do Estado da Bahia); Graduando do curso de Filosofia pela FAVI
(Faculdade Vicentina). E-mail: paulus.monterum@gmail.com
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