RESUMO: Este artigo tem por objetivo dissertar, de forma sintética, sobre o tema
da Matéria e Forma na Filosofia de Aristóteles, tendo em vista as implicações
que esta teoria põem em discussão, o problema do Ato e Potência, Substância e o Motor
Imóvel. Também se buscou, neste artigo, mostrar uma breve demonstração da
crítica que Aristóteles faz a teoria do mundo das Ideias de Platão, e de como
Aristóteles faz surgir uma nova análise sobre a Metafísica, a tal ponto que
está Metafísica, proposta por Aristóteles, mudou de maneira radical o modo como
vemos a Matéria e o mundo das Formas.
INTRODUÇÃO
Aristóteles (385 a.C) nasceu em Estagira, na
Macedónia. Estagira era uma cidade considerada grega, pois foi fundada
pelos gregos de cultura jônica. Por ser de uma família que
tinha tradição na medicina, Aristóteles manifestou
interesse também na natureza. Seu pai, Nicômaco, era médico
e foi consultou do rei da Macedônia. Nos seus 18 anos, Aristóteles vai para
Atenas, onde passa a estudar na academia de Platão. (CHAUÍ, 2000, p.334).
Platão o influenciou de maneira tal que a marca platônica
ficou em sua filosofia, mesmo Aristóteles superando-o em muitos pontos, as
influências de Platão e sua característica metafísica acompanharam
Aristóteles, e foi o que de mais se discutiu em sua obra até os dias de hoje.
Aristóteles morreu em 321 a.C, com a idade de 63 anos. (CHAUÍ, 2000, p. 334).
Neste pequeno texto trataremos do tema Matéria e Forma
em Aristóteles. Sendo esse assunto um conteúdo que corresponde a todo um
sistema ontológico, faz-se necessário tratar do tema da Metafísica, com o
objetivo apenas de conceituar esses dois elementos, matéria e forma,
na filosofia aristotélica.
Vele lembrar que o termo Metafísica não foi usado por
Aristóteles. Esse termo foi usado por um organizador das obras de
Aristóteles, Andrônico de Rodes, que no século I catalogou as obras
de Aristóteles. Este Andrônico, utilizou o termo metafísica para
classificar os textos aristotélicos como aquela ciência que
está além das ciências físicas. Aristóteles chamou
essas ciências, na verdade, de ciências primeiras. (CHAUÍ,
2000).
1
CRÍTICA A TEORIA DE PLATÃO SOBRE O MUNDO DAS IDEIAS
Antes de iniciarmos, alguns pontos devem ser
colocados principalmente pelo fato de a teoria de Aristóteles ser uma crítica
a teoria de Platão. Conforme essa crítica
Aristóteles constrói toda a sua teoria metafísica.
Ora, ao dar
às Formas um estatuto ontológico forte – elas são o ser – e separá-las num
mundo inteligível eterno à parte, Platão impossibilitou que elas
pudessem explicar o mundo sensível, pois nada há em comum entre eles. O
sensível se reduz a uma aparência degradada ou uma deformação do inteligível
e o filósofo é convidado a abandoná-la em lugar de compreendê-lo.
Epistemologicamente, a teoria das Ideias é inútil. (CHAUÍ, 2000, p.352)
Sendo o mundo sensível um mundo apenas de sombras, não se
pode conhecer nem analisar tal mundo. Dessa forma realmente é inútil, pois
sendo as Ideias realidades em si mesmo, não servem para conhecermos a realidade
em nosso mundo. Para Aristóteles as Formas não são realidades em si mesmo, mas
são " [...] a unidade inteligível da multiplicidade
sensível [...]" (CHAUÍ, 2000, p.352).
Aristóteles critica vários pontos em Platão.
Primeiro é a duplicação desnecessária da realidade. Platão duplica a realidade
em dois mundos e com isso não consegue resolver a aporia que é
apresentada no mundo sensível, já que essas aporias se apresentam no mundo das
Ideias. Um exemplo é a Ideia de identidade; multiplicidade e de diferença.
Aporias suscitadas em Heráclito e Parmênides. Ou seja,
as antinomias que se apresentam no mundo
sensível, também se apresentam no mundo inteligível. (CHAUÍ,
2000, p.352).
Segundo ponto: Para Aristóteles a teoria da
participação de Platão não faz sentido já que "[...] para dizermos que uma
coisa particular é o que é porque participa de uma ideia com a qual tem
semelhança da cópia com o modelo, será preciso encontrar uma
terceira ideia, [...] mas, para dizer que uma ideia participa de
uma outra, precisamos de uma quarta ideia que sirva de modelo as outras
duas e assim indefinidamente. [...]" (CHAUÍ, 2000, p.352).
O terceiro problema que Aristóteles vê em Platão é: Se há
uma ideia para cada coisa no mundo então deve-se haver também uma
ideia de relação, mas uma relação não possui ideia de nada porque não
é uma coisa no mundo. "[...] Portanto, não pode haver ideia
de relação. [...]" (CHAUÍ, 2000, p.353). E sem a ideia de
relação como justificar a relação das coisas no mundo?
No quarto problema, Aristóteles fala que se
há a ideia do positivo, do belo e etc, deve-se haver também a ideia
do mal, do negativo. Se a ideia de beleza, deve-se haver a ideia da não-beleza.
Deve-se haver ideia não apenas para o negativo, mas para os modos das coisas,
assim essa concepção platônica acaba indo para um infinito mundo de ideias, o
que para Aristóteles é absurdo. (CHAUÍ, 2000, p.353).
No quinto problema, apontado por Aristóteles, a
teoria de Platão não diz como é a gêneses das coisas. As Ideias para
Platão são eternas e o Demiurgo apenas modela as coisas, que são
prontas e acabadas. A teoria de Platão não explica como o mundo
sensível da origem as coisas. Por fim, no sexto problema, as Ideias
impedem que o mundo sensível tenha inteligibilidade, assim o mundo sensível é
irracional e não pode ser conhecido. " [...] As ideias roubam o
sentido do mundo, em vez de dar-lhes sentido." (CHAUÍ, 2000, p.354).
Concluindo essa crítica as
teorias platônicas, Aristóteles vai dizer que a "forma (o eídos) [...]
determina a identidade de uma coisa, determina o que ela é em sua essência, e
se encontra na própria coisa, cabendo ao pensamento separar intelectualmente a
forma (universal) e a coisa (singular), isto é, separar a forma da
materialidade da coisa." (CHAUÍ, 2000, p.356).
2 A CONCEPÇÃO DE MATÉRIA E FORMA EM
ARISTÓTELES
Não existe para Aristóteles um mundo aparte de ideias. A
ideia está na própria coisa, unida entre forma e matéria, onde uma dá
sustento à existência da outra, cabendo ao pensamento fazer uma
abstração e separar as duas. Pelo pensamento é que podemos conhecer o
universal, aquilo que é necessário e que está na coisa sensível e não
em um mundo fora da materialidade. Passamos agora a analisar como
chegamos a ideia da forma e da matéria começando pela teoria das
Categorias de Aristóteles (CHAUÍ, 2000, p.357).
Aristóteles afirma que o ser se diz
de várias maneiras (CHAUÍ, 2000, p.358), mais propriamente em 10
categorias: 1) Substância, ou essência; 2) Quantidade; 3) Qualidade; 4) Relação;
5) Lugar; 6) Tempo; 7) Posição; 8) Posse; 9) Ação; 10) Paixão. Essas categorias
são os modos do ser e servem para que o pensamento possa conhecer este ser
e exprimi-lo.
Do ponto de
vista gramatical, as categorias correspondem ao substantivo, adjetivo, advérbio
e verbo. Essa unidade entre gramática e lógica indica não só a unidade
entre linguagem e pensamento, mas também a unidade entre dizer, pensar e ser.
[...] (CHAUÍ, 2000, p.360)
Destas categorias a mais importante é a da substância, pois
em ralação a ela as outras categorias são apenas predicadas ou atributos
da substância. A substância é um substrato que suporta as outras categorias.
Por isso se diz que as outras categorias são os acidentes da substância. (CHAUÍ,
2000, p.361). É na substância onde se há o
conjunto: matéria, forma e individualidade.
O que vem a ser a Matéria para Aristóteles? A matéria
é a substancia como suporte, substrato. Sujeito que pode se conceber com
propriedades, "[...] justamente porque em si mesmo e por si mesmo ela não
possui nenhuma. [...]" (CHAUÍ, 2000, p. 392). O que vem a ser a
Forma? A forma é quem vai determinar, pois ela é a substancia como essência. É
ela quem dá atributos e propriedades a matéria.
Explicaremos melhor com as palavras de Nunes quando este
autor afirma que matéria é possibilidade dê, e a forma o ato: (NUNES, 2009, p.
27).
[...] Simples potencia ou possibilidade, a
matéria, cujo sentido metafísico tem por base a conotação artesanal de hyle, necessita de uma forma (morphe), que a delimite e
determine. Longe estamos, porém, do universo platônico, em que a forma, como
ideia, subsiste separada das coisas, num mundo inteligível. Para
Aristóteles, ela não é essência universal,
mas princípio ativo, verdadeiro ato que determina a matéria
ou potência, atualiza as aptidões nela esboçadas e produz um ser perfeito,
substancial. A forma é causa intrínseca do nascimento,
crescimento e conservação dos serres naturais. Ela
é, para empregarmos a palavra consagrada, que significa princípio originário e
organizador, enteléquia. (NUNES, 2009, p. 27)
Essa explicação nos leva a dizer que
a matéria tem em si a potência, e a forma a do ato. A
Matéria é atividade que possibilita algo. A Forma a, atualiza, a “coisa”,
(matéria). A palavra Matéria se origina da palavra madeira “[...] hyle, em grego. [...]" (NUNES, 2009,
p. 27). Acreditamos,
e essa é nossa opinião, que aquilo que reveste a matéria precisa de algo que
determine a possibilidade da matéria se atualizar, e atualizar aqui significar
mudar. A matéria precisa da Forma.
A Forma é (e partimos de Nunes (2009) nesta nossa
afirmação) um principio ativo na Matéria. É algo que da condição a
possibilidade da Matéria se atualizar. A grosso modo, a Forma é um principio originador
que faz a matéria se tomar em “forma”[1]. E aqui está um fundamento básico: A Matéria tem que ter uma
“forma”, pois sem “forma” ela é indeterminada. Por isso, a Matéria deve ser
determinada pela Forma, se não, fica-se impossível pensar a Matéria, porque sem
“forma” não há nada para se pensar. Por
essa razão Nunes (2009) afirma que é um principio originário e organizar. É
enteléquia, pensável.
Podemos
então dizer que a Forma, por exemplo no artista, é uma ideia que este modela e
atualizar na Matéria que ele trabalha (NUNES, 2009, p.27). Assim, a Natureza
também é uma matéria atualizada por Deus, um ato puro, Forma das formas. Assim,
chegamos a ideia de Aristóteles no Motor Imóvel. Pelo Motor Imóvel, Aristóteles
vai justificar a causa do movimento. Uma Causa final. (NUNES, 2009, p. 27). Neste ponto, se diz que a teoria aristotélica é determinista.
CONCLUSÃO
A teoria de Aristóteles sobre Matéria e Forma é apenas uma
parte de toda uma metafísica que, de certa forma, resolveu muitas lacunas que
antes se via na teoria platônica. A bem da verdade, Aristóteles modificou de
maneira radical as ideias de Platão, unindo a Forma (Ideias) a Matéria
(Sensivel), e eliminando o conceito de Sombras dito por Platão. Assim pela
Matéria como Potência e a Forma como Ato, Aristóteles garante o movimento no
mundo e os princípios lógicos da razão, unindo Heráclito a Parmênides.
REFERENCIAS
CHAUÍ, Marilena. Introdução à História da Filosofia: Dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
NUNES, Benedito. Introdução a Filosofia da Arte. São
Paulo: Editora Ática, 2009
PAULO MONTEIRO DOS SANTOS:
Graduado em Filosofia - FAVI; Graduado em Letras- UNEB;
Email: paulus.monterum@gmail.com
[1] Essa palavra
forma, com aspas, que dizer não ao conceito de forma em Aristóteles, mas ao
mudo corriqueiro.
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