Paulo Monteiro dos Santos[1]
RESUMO: O presente trabalho tem como fim: descrever a
crítica dada por Kant em relação á capacidade do conhecimento humano de saber sobre a
metafísica e até onde este se limita. Também tentou-se neste artigo fazer uma síntese sobre as discussões a metafísica, desde Platão até Hume. Notou-se, por fim, que
Kant bloqueia o conhecimento em relação a metafísica, mas não impossibilita sua existência.
PALAVRAS-CHAVES: Kant. Metafísica. Conhecimento
INTRODUÇÃO
O presente artigo faz um apanhado geral da crítica que faz
Kant a metafísica. Na primeira parte se pretende discutir a relação da
filosofia grega e da cristã, o que resultou de um mesmo significado, no que
tange a explicação da realidade pela teoria realista, mas estas diferem no que
diz respeito à explicação do mundo pela origem. A grega diz que a origem se dá
de forma emanentista; a cristã protesta, dizendo que a origem é criacionista,
onde Deus criou o mundo.
Logo em seguida, Descartes e Bacon, retiram a ideia de uma
explicação realista do mundo, afirmando que o mundo não é do jeito que vemos,
pois este pode nos enganar. Descartes e Bacon dá mais importância a razão. Por
ela devemos olhar o mundo livrando-o dos preconceitos.
Estes filósofos
revolucionam a ciência apresentando um novo modelo. Mas é Kant, com sua crítica ao conhecimento, quem fundamenta
a teoria dos juízos, porém sua teoria, de certo modo, condenou a possibilidade de
qualquer conhecimento a metafísica. Vamos entender como Kant chegou a tal conclusão.
1
HISTÓRICO DO PROBLEMA NA METAFÍSICA
Podemos perceber que a metafísica foi primeiro exposta por
Platão em sua teoria do mundo das formas, onde este filósofo tentou dar
uma explicação do tipo realista para descrever o mundo e a realidade que se mostra
ao homem. Neste sentido Platão divide a realidade em duas: 1) mundo das formas –
eidos - 2) mundo material – sombras - , onde o mundo material engana
nossos sentidos, e
por essa razão, devemos buscar o conhecimento no mundo das
formas, pois, nesse se encontra as verdades eternas e perfeitas (ANTISERI;
REALE, 1990). Essa explicação, embora não tenha um caráter sistemático como em
Aristóteles, foi a primeira grande síntese entre as filosofias de Heráclito, do
movimento, e de Parmênides, sobre o ser. Mas Platão não explica de forma clara
como se dá a passagem entre as formas e o mundo material. Colocando um deus
modelador, Demiurgo, ou explicando pelo mito da caverna (CHAUÍ, 2000, p. 352);
(CHAUÍ, 2000, p. 354)[2].
O primeiro a tentar fazer uma sistematização da metafísica foi Aristóteles, que
a chamou de filosofia primeira, ou teologia (ANTISERI; REALE, 1990, p. 179).
Este filósofo buscou estudar o ser, a substância e a essência. (ANTISERI;
REALE, 1990). Tentou também resolver a problemática deixada por Platão sobre a
questão do movimento entre matéria e forma, o qual ele explicou como ato e
potência.
Porém, com a mudança da perspectiva cultural do ocidente
entre o cristianismo e a cultura grega, a filosofia ganha uma nova leitura: Sai
o “logos” grego e entra o “logos” cristão, e para o cristianismo as coisas não
emanavam de um mundo das ideias ou de um motor imóvel, mas elas foram criadas
por um Deus que em si, é monoteísta. Embora a filosofia cristã tenha assimilado
muitas teorias do tipo platônicas, ela tinha uma enorme diferença em sua
explicação para a origem das coisas. E seu maior nome foi Santo Agostinho. Este
filósofo, com base em suas análises
hermenêuticas na Bíblia, vai dizer que Deus criou as coisas do “nada” (AGOSTINHO,
1975, p. 327). E aqui, ao menos é o que defendemos,
há uma cisão e negação da cultura grega. A metafísica deixa de ser uma
explicação da eminência para ter uma explicação criacionista. O cristianismo
passou a dar maior “liberdade” ao homem, e pensamos que não apenas ao homem,
mas também ao mundo (ANTISERI; REALE, 1990).
Santo Tomás de Aquino, outro grande nome da filosofia
cristã, vai assimilar a filosofia de Aristóteles e sua teoria do ato e
potência, à filosofia escolástica e mostrar pelo estudo da metafísica, a
existência de Deus, e explicar a realidade do mundo, sobre esse ponto de vista.
Mas tanto a filosofia grega como a cristã, entendiam o mundo de forma
radicalmente realista. Ou seja, o mundo existia independentemente do homem para
justificá-lo, o que preocupavam cristãos e gregos era saber qual era sua
origem.
Descarte, que tinha por princípio uma filosofia
racionalista, se opunha a filosofia aristotélica da escolástica. (ANTISERI;
REALE, 2004, p. 287), se oponha porque para o racionalismo a verdade não
depende do mundo, mas da minha própria condição de pensar. Se o mundo que vejo
depende exclusivamente de meu pensamento para existir, é correto dizer que tudo
o que vejo é apenas Ideias. Ideias da coisa pensante. (ANTISERI; REALE, 2004,
p. 287)
A explicação anterior a Descartes, era realista. Assim,
antes da modernidade, a realidade era algo determinado por leis da natureza
criadas por Deus ou por um Sumo-Bem. O homem se enquadrava nestas leis e era
determinado por elas. Descartes e Bacon proclamaram que as leis podem ser
conhecidas pelo homem. E o homem pode modificar e manipular as leis da
natureza. A grande questão era que, para Descartes, nós já tínhamos ideias
inatas e não precisávamos de nenhuma experiência para conhecer as leis da
natureza. (ANTISERI; REALE, 2005)
Para John Locke, (Inglaterra, 1632-1704) a mente era uma
tabula rasa. Não há nada em nosso intelecto, ele recebe o material unicamente
pela experiência em contato com o mundo. O empirismo que Locke proclamava é o
de não apenas analisar o objeto, assim como orienta Bacon, mas de examinar a
condição do sujeito frente ao objeto. Para isso Locke afirma que o conhecimento
depende unicamente da experiência. (ANTISERI; REALE, 2005, p. 93) Com essa
crítica ao inatismo cartesiano, Locke, e os principais filósofos ingleses vão
defender uma teoria do conhecimento sobre o ponto de partida do empirismo.
David Hume vai levar o empirismo a últimas consequências, formulando um
ceticismo moderado, onde diz que todo o intelecto não passa de impressões,
ideias e suas ligações estruturais. Não há necessidade no mundo, essas coisas
são fruto da nossa capacidade intelectual. O mundo é tão somente contingente.
(ANTISERI; REALE, 2005, p.133-138)
Tanto os empiristas quanto os racionalistas defendiam uma
concepção idealista do mundo, embora ambos, com explicações diferentes sobre o
processo de como se dava o conhecimento. Será Kant, com seu criticismo, que
unirá as duas grandes correntes na teoria dos juízos sintéticos a priori.
Mas Kant levará as últimas consequências as teorias idealista da razão, negando
a possibilidade de um conhecimento metafísico.
2
CRÍTICA DE KANT A METAFÍSICA
Kant, deu toda razão a Hume. Hume o acordou de um sonho
dogmático, assim diz Kant. (PASCAL, 2008, p. 29-30). A causalidade não tem
fundamento. O sonho da ciência era formar um princípio necessário e universal,
mas não há um determinismo causal na natureza. Kant percebeu que
havia um
confronto entre a ciência de Isaac Newton e o ceticismo de Hume. Além disso o
embate entre empirismo e racionalismo.
Kant não era por certo um cético radical como Hume, mas havia verdades
que eram universais e não apenas contingentes. "Como efeito, o empirismo
cético de Hume e, em particular, a sua crítica da noção de causalidade, tornava
incertas as posições do racionalismo dogmático. [...]" (PASCAL, 2008, p.
29-30). Assim Kant retoma a análise dos juízos: Analíticos e Sintéticos.
Kant chega a uma conclusão, que os juízos só são sintéticos a
priori. Eles não são apenas sintéticos e analíticos. Há verdade nas
discussões de empiristas e inatistas. Há relação entre a experiência e o
sujeito conhecedor.
Mas a grande descoberta de Kant, a que confere todo o seu
alcance à sua "revolução copernicana", é a da existência de uma
terceira classe de juízos, os juízos sintéticos a priori. Estes são universais
e necessários, como os juízos analíticos, mas, além disso, nos permitem ampliar
os nossos conhecimentos, enquanto os juízos analíticos apenas podem explicá-los
ou esclarecê-los. (PASCAL, 2008, p. 39)
Na Crítica da Razão Pura, Kant cria um sistema de faculdade
para um sujeito que é transcendental. E estas faculdades são comuns a todos não
apenas para um único sujeito. Na filosofia de Kant temos uma teoria da mente.
(PASCAL, 2008, p. 69) A ideia básica para conhecer é matéria e
forma, assim
como na teoria de Aristóteles, mas a coisa em si mesmo não podemos conhecer. A
coisa em si mesmo é um caos. Nós é que pomos a forma para organizar, dar ordem
a esse caos. (PASCAL, 2008, p. 69). O
sujeito transcendental, dito por Kant, tem um sistema de capacidades que pode
compreender sobre a percepção do mundo, e pensar sobre o mundo. Essas
capacidades devem também compreender os conceitos formulados nesse sujeito.
Temos a capacidade da sensibilidade a primeira faculdade do
sujeito transcendental, e ela nos fornecem a intuição. A intuição é uma
percepção imediata de fatos empíricos. O sujeito também tem a faculdade de
formular conceitos, essa faculdade é do entendimento. A faculdade do
entendimento se dá pelas categorias, que são doze. Tais categorias nos dão a
capacidade do entendimento. Há ainda outra faculdade que liga entendimento com
a faculdade da sensibilidade ela é a imaginação. Não a imaginação de ilusão,
mas uma imaginação transcendental.
(PASCAL, 2008, p. 62)
A imaginação liga a
intuição aos conceitos e o resultado desta ligação são os juízos, que por sua
feita, resultam nos fenômenos. A junção entre a Estética Transcendental e a
Analítica Transcendental, surge a Dialética Transcendental. Na Dialética, Kant
escreve sobre a Razão, assim ele aborda coisas da não sensibilidade. O
conhecimento é agora uma produção humana que não apenas observa, pois, o objeto
não é simplesmente dado. O problema é que a razão nesse processo de conhecer
busca sempre ir além de sua capacidade. (KANT, 1980, p. 25)
Esses problemas inevitáveis da própria razão pura são Deus,
Liberdade e Imortalidade. A ciência, porém, cujo propósito último está
propriamente dirigido com todo o seu aparato só à solução desses problemas
denomina-se metafísica; o procedimento desta é de início dogmático, ou seja,
assume confiantemente a sua execução sem um exame prévio da capacidade ou
incapacidade da razão para um tão grande empreendimento. (KANT, 1980, p. 25)
A razão busca ir além do fenômeno, ela quer se elevar ao
ser-em-si, conhecer o Númeno. (Kant não chama de Ser, mas coisa-em-si). A razão
sempre nos leva ao metafísico e o grande problema da metafisica é que ele
mostra conceitos sem intuições. Mas a grande questão se encontra na necessidade
de a razão buscar ir além das suas capacidades, suas condições de possibilidades
no processo de conhecimento. Mas sem esse propósito nos diz Kant que os avanços
na própria ciência se limitam. É essencial para a razão ir além.
[...] Com efeito, sem ser movida pela mera vaidade da
erudição, mas impelida pela sua própria necessidade, a razão humana progride
irresistivelmente até perguntas que não podem ser respondidas por nenhum uso da
razão na experiência nem por princípios ai tomados emprestados, e assim alguma
metafísica sempre existiu e continuará a existir realmente em todos os homens,
tão logo a razão se estenda neles até a especulação. (KANT, 1980, p. 25)
A questão para Kant é como surge na razão pura as perguntas
que a própria razão humana buscar responder, de maneira necessária, além disso,
de maneira que estas questões, levantadas pela razão humana, são tratadas de
forma como se estivessem no mundo natural. Tais questões são Deus, a
Imortalidade da Alma, e a Liberdade.
Todavia, estes raciocínios, que resultam da própria natureza
da razão, são outros tantos sofismas, e é ao estudo desses raciocínios
sofísticos que Kant consagra a segunda parte da Dialética transcendental,
intitulada " Dos raciocínios dialéticos da razão". Os sofismas que
conduzem à ideia de alma, e são chamados paralogismos da razão pura,
constituem a Psicologia racional. A ideia de mundo, objeto da Cosmologia
racional, inspira os raciocínios contraditórios chamados antinomias
da razão pura, os quais são igualmente verdadeiros ou igualmente falsos. E,
enfim, a Teologia racional, que trata do ideal da razão pura, ou seja,
de Deus, contém os sofismas pelos quais se pretende demonstrar a existência de
um Ser supremo. (PASCAL, 2008, p. 95)
CONCLUSÃO
Com isso fica evidente que Kant não quis mostrar nenhum
princípio do Ser, mas sim o princípio do conhecer. (NÓBREGA, 2011, 39) Assim
Kant faz uma Teoria do Conhecimento, e não uma metafísica. Ao contrário, Kant
de certa forma bloqueia o caminho a metafísica como uma ciência. "O que
diferencia os conhecimentos racionais da matemática e da física, dos da
metafísica é que aqueles são juízos sintéticos a priori, e estes, juízos
analíticos." (PASCAL, 2008, p. 39) A ideia de Imortalidade da alma, a
cosmologia e de Deus, são ideias incognoscíveis. Esse fato, da impossibilidade
da metafísica como ciência, causou uma ruptura no modo de pensar a filosofia. A
metafísica parte de princípios postulados, os quais a razão afirma, mas não
conhece. O que podemos conhecer só o pode dentro das categorias, e nada mais,
além disso.
REFERÊNCIAS
CHAUÍ, Marilena. Introdução à
História da Filosofia: Dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo:
Companhia das Letras, 2002.
KANT, Immanuel. Crítica da razão
pura. In: ______. Immanuel Kant.
Tradução de Valerio Rohden e Udo Baldur Moosburger. São Paulo: Abril Cultura,
1980. v. 1. (Coleção Os pensadores).
NÓBREGA, Francisco Pereira. Compreender
Hegel. 6. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
PASCAL, Georges. Compreender Kant.
Tradução de Raimundo Vier. 6. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
REALE, Giovanni; ANTISERI,
Dario. História da Filosofia: Filosofia
pagã antiga e medieval.Tradução de Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 1990. v.
1. (História da Filosofia).
SANTOS, Paulo
Monteiro. O problema do nada na filosofia existencialista de Jean-Paul
Sartre. 2018. 1 f. Monografia (Bacharelado em Filosofia) - Faculdade
Vicentina, Curitiba, 2018.
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