PAULO MONTEIRO DOS SANTOS
INTRODUÇÃO
A finalidade específica do estudo da língua portuguesa, e esta resposta é genérica, tem por utilidade a melhor forma de comunicação no âmbito da esfera pública e sem esta não dá para haver uma boa comunicação. O ensino da língua não deve objetivar escritores profissionais, já que nem todos querem seguir essa profissão e muito menos têm, os alunos, o dever de ser bons escritores, mas de outra forma, eles devem ter o dever de escrever bem para assim se comunicarem. Foi para auxiliar as inquietações dos alunos e não inflamar mais o ego de alguns estudantes e profissionais das Letras, que buscamos escrever este artigo, ou seja, a Língua Portuguesa precisa de um fundamento para o estudante e não ser ela quem queira fundamentar a si mesmo goela abaixo no aluno. Outro ponto: a língua portuguesa não serve só ao ENEM, porque nem só de ENEM vive o estudante, mas de toda redação que sai de seu pensamento na fundamentação daquilo que ele quer comunicar de forma sistemática como prática comunicativa socialmente.
É de nossa perspectiva que o melhor modo de começar a ler é lendo e de escrever é escrevendo. Tanto a leitura quanto a escrita é como a aprendizagem da fala: Ninguém fala sistematicamente correto, assim não precisamos ser bons leitores nem bons escritores, mas precisamos, e necessitamos, em algum momento de nossa vida, ler e escrever. Por isso, o primeiro passo consiste em não tratar a escrita e a leitura como um ofício tão somente de intelectuais, mas necessariamente na assimilação e exercício de nosso conhecimento, por isso escrita e leitura não pode ser consideradas como algo dado, como dom ou dádiva, mas algo trabalhado com paciência e dedicação do educador frente ao educando.
Como visão geral, ao longo da história é importante notar que a escrita não era algo simplesmente gratuito como o é hoje. Esta era negligenciada, regalada apenas a uma pequena classe privilegiada da sociedade. Muitas poucas pessoas sabiam ler e escrever antes e no início do século vinte. A chamada democratização da escrita se dá a partir do século vinte, principalmente na América do Sul. E mesmo hoje, ainda sofremos uma cultura que acredita ser a escrita privilégio das classes mais abastadas.
Nosso ponto, aqui neste trabalho, é mostrar qual é de fato a essência da escrita, tarefa que não se pode responder de forma simples, já que a escrita tem por essência não dar respostas simples, mas consiste em ter por substância o exercício, a prática, como respostas a seu ofício. De forma geral, podemos dizer que a escrita é o modo que dá sentido entre uma ponte comunicativa do sujeito que escreve e o outro que lê. Uma forma de interação verbal num diálogo interativo, onde se há uma busca na construção desses mesmo sentidos textuais.
Falaremos nos próximos tópicos, em geral, como nestes processos de leitura e de escrita nasce a interação entre sujeitos: escritor e leitor, na prática social, esta que é a verdadeira função prática da escrita. Nosso trabalho se baseia na obra de Kock e Elias (2014), Ler e escrever: estratégias de produção textual, e tem por objetivo auxiliar a dar sentido à prática da escrita na vida do estudante, ajudando não apenas como prática acadêmica, mas como prática social em geral. Neste sentido dividimos esse trabalho em dois tópicos: No primeiro dissertaremos sobre a definição da leitura e da escrita, tendo em vista a problemática: qual sua função e seu sentido. No segundo tópico trataremos de mostrar os processos de adquirir e compartilhar conhecimento através da escrita.
1 DEFINIÇÃO DE LEITURA E ESCRITA
De forma geral definimos a escrita como um tipo de linguagem específica (ELIAS; KOCK, 2014, p. 32). A escrita e a leitura são a dominação desse processo de linguagem, dessa mesma escrita. Acreditamos que a leitura é a dominação dessa linguagem, havendo, todavia, uma interação entre ambas. Assim, para fazer exercício dessa prática é preciso dominá-la, isso não significa estritamente ter uma dominação perfeita da escrita, pois esta vem com a prática ao longo do tempo. Precisa-se apenas ter em conta diferenciar que a escrita é diferente da fala, onde a escrita se dá de forma a uma linguagem pública e a fala, geralmente, a uma linguagem privada.
A primeira definição, pelo menos, é esta: a leitura e a escrita são a dominação de uma linguagem: um código significativo de signos de ordem pública como prática social. No cerne dessa definição pode surgir algumas interpretação sobre a questão de como essa mesma definição foi sendo estabelecida, essas são:
1) Como foco na língua, onde regras e códigos são predeterminados e estabelecidas por normas convencionais, isso diz respeito a uma escrita apenas baseada na gramática e na norma culta da língua;
2) Como foco no escritor que escreve de acordo apenas com seu pensamento, sem levar em consideração ao leitor;
3) Como foco numa escrita interracional, onde aquele que escreve pensa em seus leitores, desta forma o sujeito escreve, reescreve, rever e reler.
Este exercício, visto no terceiro foco e de maior relevância, é um processo de oficina, no qual o escritor está preocupado na comunicação entre seu leitor e ele mesmo, escritor, em se fazer entendido. Desta forma, não se pode haver uma dissociação entre as normas da língua, o foco apenas do nosso pensamento sem consideração ao leitor, mas unir o sentido do texto na comunicação e aquilo que se quer passa como informação ao leitor.
Esse último aspecto é importante, pois traz uma interação, não apenas assimilação de regras ou código, nem somente a intenção do autor e seu pensamento, mas o sentido do texto na construção comunicativa entre escritor e leitor (ELIAS; KOCK, 2014, p. 33 a 35).
Para concluir, é importante notar que o aspecto do conhecimento não deve apenas partir daquele que escreve, mas é um processo de interação entre conhecimentos. A escrita deve ser sempre voltada para o outro (leitor), pois é um diálogo marcado entre pessoas.
2 A ESCRITA COMO PROCESSO DE CONHECIMENTO
Antes de mais nada devemos antecipar que estamos acostumados a crer que o conhecimento deve ser algo bem definido e muito fácil de assimilar, mas esta concepção tende a ser muito falaciosa. Pensamos, todavia, que o conhecimento exige muito esforço, dedicação e estudo. Não é algo pronto e acabado, embora o ser humano já detenha a priori, condições do conhecimento (cogitatio), este não ocorre simplesmente como inato, mas deve-se ser trabalhado na escola e na sociedade. É importante, lembramos, não confundir conhecimento com pensamento: pensamento é algo natural do ser humano e conhecimento é uma construção do ser pensante e de sua experiência no mundo.
No tocante, a escrita e a leitura são uma forma de linguagem que permitem exercitar nosso conhecimento. Assim como o esportista que vai a academia, o estudante deve ir à biblioteca, ler, escrever e reler. A escrita é uma grande ferramenta no nosso processo de adquirir o conhecimento.
A escrita como leitura tem por processo o adquirir conhecimentos, e a escrita é o exercitar desse conhecimento, seu compartilhamento, e ativação desse conhecimento. Neste sentido, não basta apenas ler o que foi escrito (ELIAS; KOCK, 2014, p. 37), mas escrever sobre o que foi lido.
A escrita tem um papel importante, pois ativa esses conhecimentos quando adquiridos na leitura, como processo daquilo que aprendemos. Noutro sim, não basta apenas ler, mas é preciso compartilhar aquilo que se leu de forma escrita, para absorver e comunica a si e aos outros conhecimentos. Neste sentido é importante a dominação e a disseminação de determinados conhecimentos específicos da escrita que vamos adquirindo no processo do estudo, são estes: 1) linguísticos; 2) enciclopédicos; 3) textuais; 4) conhecimentos interacionais.
No conhecimento linguístico é preciso dominar e conhecer a conversão da escrita, estes elementos são: a) ortográficos, b) gramaticais e) sintáticos, pois isso faz desenvolver uma melhor forma de comunicação com o leitor. A escrita vai melhorar o sentido do texto, todavia, não pode o texto se reduzir somente a esse conhecimento.
O conhecimento enciclopédico, o qual é extremamente importante, vai ampliar nosso conhecimento com outras leituras: Livros, dicionários e conhecimento de mundo: jornais, revista etc. Às vezes reduzimos a leitura apenas a formas escritas, mas essa leitura deve-se ser de forma várias a nosso conhecimento de mundo (ELIAS; KOCK, 2014, p. 42). Na sala de aula, esse conhecimento é de base fundamental no processo educativo-interacional do estudante e do professor para o desenvolvimento da escrita e da leitura.
No conhecimento textual deve-se saber distinguir entre os elementos textuais que compõem este e qual seu gênero, mas este conhecer não precisa ser de forma a aprofundar-se, apenas conhecer de forma a saber sua distinção e situá-lo dentro dos elementos convencionais e sociais comunicativos, não apenas textual, mas intertextuais. Às vezes na sala o professor confunde muito entre: distinguir qual gênero pertence determinado texto e sua produção. Observamos que não é obrigatório que o estudante domine todos os gêneros textuais, mas que aprimore sua escrita e a pratique na área que deseja seguir como acadêmico.
Conhecimento Interacional: Ao escrever o aluno deve manter e saber o nível de conhecimento e como fornecer pistas de boa compreensão do texto que está desenvolvendo (ELIAS; KOCK, 2014, p. 45). É esse tipo de conhecimento que vai determinar o gênero textual, dando melhor comunicação entre escritor e leitor. Antes de mais nada, pelo gênero textual, o leitor já tem conhecimento qual linguagem será usada neste texto. Não apenas o leitor saberá de antemão a linguagem usada, mas o próprio escritor já tem a base de quais conhecimentos enciclopédicos e o nível gramatical podem ser utilizados no texto.
Para concluir, vimos que esses quatro elementos são de extrema importância na construção do texto que não podem ser pensados de forma individuais e a esmo, mas têm uma estrutura, e tais elementos devem ser sempre voltados para interação entre escritor e leitor.
CONCLUSÃO
Escrevemos porque essa prática é uma forma de interação, e qual é essa base? a) sempre escrevemos para alguém, mesmo que seja apenas para nós mesmos; b) devemos sempre revisar o que escrevemos, tendo em vista nosso leitor. Entendida, assim a escrita é um ofício e não algo simplório. Deste modo, tem que ser trabalhada aos poucos e com paciência no processo educativo (ELIAS; KOCK, 2014, p. 50).
A escrita deve sempre pressupor o leitor, é uma interação entre sujeitos, intersubjetividade e conhecimento sociocognitivo de dizer e redizer. Leitura e escrita não andam desassociadas, mas caminham juntas, quando pensadas desta maneira de interação. Esta por sua vez, é a prática social da escrita e da leitura, mas como lembramos requer um esforço por parte tanto do professor como do estudante.
É importante notar, como falamos na introdução, que o ensino de leitura e escrita, devem ser introduzidos com muito respeito e adequação aos conhecimentos prévios dos estudantes sobre a produção textual que estes já dispõem. Tendo em vista também a tradição da escrita que em seu passado, carrega o preconceito da exclusão daqueles que eram considerados iletrados, reduzindo a prática da leitura e escrita a uma classe dominante que se considerava intelectual, fato esse que ainda hoje acompanha a escrita como um ranço, o qual devemos urgentemente superar, principalmente em nossa cultura brasileira.
REFERÊNCIA
ELIAS, Vanda Maria; KOCK, Ingedore Villaça. Ler e escrever: Estratégias de Produção Textual. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2014.
PAULO MONTEIRO DOS SANTOS
Especialista em Filosofia Contemporânea - UEFS.
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