Andrezza Miranda de
Andrade1
Camila Bastos Silva2
Cleide Carvalho
Matos3
Daniela Moura
Conceição4
Josilma Santos de
Jesus5
Nilton Carlos Carmo
Sousa6
Raíne Simões
Macedo7
RESUMO
Este artigo propõe
abordar o papel que a Literatura Infanto-Juvenil exerce no
psicológico da criança, bem como explanar seu surgimento e como
esta pode servir de auto-ajuda para a resolução de problemas por
meio da catarse. Para isso será explicitado inicialmente, a
trajetória da literatura infanto-juvenil, assim como o conceito de
catarse no que diz respeito aos conflitos familiares. Serão
utilizadas como recursos bibliográficos as obras “A Psicanálise
dos Contos de Fadas” de Bruno Belheteim (1980), “A Literatura
Infanto-Juvenil Brasileira Vai Muito Bem, Obrigada!” de Glória
Pimentel Correia (2006), e “Catarse
e Final Feliz” de Myriam Ávila (2001), bem como alguns artigos.
PALAVRAS
CHAVE
Literatura
infanto-juvenil; catarse; conflitos familiares
INTRODUÇÃO
A literatura
infanto-juvenil tem papel fundamental na formação da identidade
social da criança leitora, uma vez que não tem apenas o intuito de
diverti-la, mas também o de informá-la e de desenvolver sua
personalidade nos diversos estágios psicológicos, transmitindo as
experiências da vida de modo significativo. Neste sentido, esta
função é cumprida através do que se denomina catarse, que pode
ser entendida como um meio de evasão. Segundo Aristóteles, “a
catarse refere-se à purificação das almas por meio de uma descarga
emocional provocada por um drama” 8,
sendo assim, seria um modo de desabafar através da arte literária
uma dor por meio da relação leitor/texto. No entanto, a literatura
infanto-juvenil não se restringe apenas à catarse, como purgação
de sentimentos maléficos, mas ela também consiste como um “fenômeno
norteador de nossa intervenção na sociedade, com o intuito de
buscar soluções para os desequilíbrios sociais e modos de
aprimoramento de nossas relações humanas.” 9
Desse modo, a literatura propicia na criança uma leitura ampla de
mundo, à medida que aguça a sua sensibilidade e inteligência.
Partindo disso,
pretende-se aqui especificar um conflito que pode ser superado por
meio de funções catárticas na literatura, a saber, os conflitos
familiares originados do rompimento do vínculo dos pais, enfatizando
as mudanças que ocorrem na rotina da criança que vive a guarda
compartilhada.
1 O PERCURSO DA
LITERATURA INFANTO-JUVENIL
O surgimento da
literatura infanto-juvenil está atrelado a quatro fatores que,
apesar de ter fomentado sua expansão, foram empecilhos para a sua
valorização enquanto gênero: o advento da burguesia, o
reconhecimento da infância como uma fase importante e a necessidade
de orientá-las na sua formação, e a criação das escolas.
É exatamente no
momento em que a classe burguesa está em vigor que é arquitetada
essa literatura atribuída infanto-juvenil. Há muito tempo a
literatura endereçada as crianças e jovens, ficou sujeita à
marginalidade e à depreciação, devido a seu vínculo à
instituição escolar desde a sua origem. Por conseguinte, isso
colaborou para seu feitio moralista autoritário e pedagógico. Outro
fator relevante é que a princípio os contos de fadas criados eram
para o público adulto, mas que triunfou entre o publico infantil.
Todos estes fatos
supracitados foram pertinentes para essa literatura ter ganhado um
caráter utilitário, por isso ter sido desvalorizada. Além disso, o
autor era considerado como o dono da verdade, ou seja, seus escritos
eram via de mão única, a qual não tinha espaço para o outro
(leitor), por isso pode-se dizer que o destinatário é um receptor
passivo, que não participava ativamente do texto. Consequentemente,
isso restringiu a importância do fator estético. Dessa forma, a
literatura não priorizou nas suas origens, uma criação cuja
intenção primeira é o prazer, mas sim como reflexo da tradição
popular, neste sentido é marcada pela oralidade.
Fontes como fábulas,
mitos, lendas, contos de fadas foram transmitidos oralmente, estes
fazem parte do quadro de tradição oral, cuja foi basilar para a
literatura infanto-juvenil. Nessas fontes se encontram a imaginação
e o maravilhoso, assim, a literatura mescla todos esses universos,
ganhando um perfil mais condizente ao leitor mirim. Deste modo a
literatura
“[...] promove recreação,
também cultiva valores necessários à vida em sociedade e favorece
o raciocínio e inteligência da criança e do jovem. Ela pode
significar também evasão, se os elementos da fantasia e da
imaginação estiverem presentes”. (SOUZA, 2006, p. 53-54)
Assim no século
XIX a literatura infanto-juvenil ganha destaque, pois se desvencilha
do caráter utilitarista e passa a privilegiar as crianças. Pode-se
dizer que há uma nova ótica, pois os adultos passam a entender a
necessidade de estimular as crianças pelo gosto da leitura. Nesse
momento, passa-se a dar importância à fantasia, o sonho e a emoção,
acima daquele caráter autoritário e pedagógico que residia na
literatura.
Pode-se ver que a
literatura alcança novo cenário, de revitalização, pois a partir
do momento que o elemento estético se faz presente, esta literatura
começa a fazer sucesso. Essa literatura era tida como uma escrita
funcional, isto é, algo monólogo, sem interação do leitor, por
isso a sua depreciação. Mas quando esta literatura abandona esse
caráter autoritário ela ganha uma roupagem que se adéqua ao
público infantil, deixando de lado seu cunho utilitário e dando
lugar a emoção.
2 A CATARSE E OS
CONFLITOS FAMILIARES
Catarse é uma
palavra derivada do
grego
“kátharsis",
que
significa
purificação,
evacuação ou evasão. Além de ser usada na medicina e na
psicanálise, também é utilizada nas artes, inicialmente na
tragédia, a qual é postulada por Aristóteles como a desencadeadora
de catarse, pois compreende um conflito entre personagens. Geralmente
são histórias que têm finais tristes, onde o herói trágico, por
atitude exagerada, passa da "Felicidade" para o
"Infortúnio", alcançando
assim
a catarse.
Mas esta também pode ser encontrada nas tragédias modernas como,
nas obras de William Shakespeare, famosas por serem forte influência
ocidental.
Neste sentido, a
catarse, na literatura infanto-juvenil, compreenderá um meio da
criança superar o sofrimento que sente diante de um conflito, nesse
caso, familiar, através da história de uma personagem que passe por
conflitos semelhantes.
Sabe-se
que a literatura infanto-juvenil atrela a estética e o lúdico,
sendo estes elementos importantes para a propiciação da criação
artística, a qual amalgama o prazer, o sonho, a fantasia para o
universo da criança. Mas atrela-se ainda à literatura, a relação
entre catarse e o estético, chamando-se assim, de catarse estética,
cuja, marcará o encontro do leitor com o que ele tem de emoções
mais
autênticas, do que ele é do ponto de vista afetivo, remetendo-o
para o gênero humano de forma direta e imediata.
A partir do momento
em que a criança tem essa experiência afetiva tão forte, ela se
transforma profundamente, se transportando de sua vida cotidiana para
o mundo das emoções, como sendo somente ela e o livro.
Ao
retornar ao seu mundo cotidiano, a sua posição frente a este mundo
já não será a mesma, pois não é possivel o esquecimento do
nível, da qualidade e intensidade das emoções pelo qual a criança
teve a experiência. Principalmente, quando a criança passa por
conflitos familiares, pois o seu desenvolvimento intelectual e
cultural (no que consiste no agir, no pensar, no sentir), dependerão
da sua relação com os pais. Então, posteriormente, com vínculos
quebrados, há uma desestabilidade
emocional, que apelará para a opção de muitos pais se adequarem a
guarda compartilhada. Portanto, a família é bastante fundamental
para o desenvolvimento cognitivo da criança, visto que a identidade
e personalidade da criança é organizada a partir da estrutura
familiar, fornecendo cuidados básicos para que ela tenha uma boa
relação consigo mesmo e com o mundo.
A
respeito da guarda compartilhada, esta é a melhor solução para a
resolução dos problemas advindos de uma separação, sendo um meio
de perpetuar o convívio da criança com os pais de forma
igualitária. Nesse caso, pode-se afirmar que “Compartilhar
a guarda é compartilhar também as decisões sobre a vida da
criança: onde ela vai estudar, que esporte vai fazer, como vai ser
gasto o dinheiro”.10
Mas
diante de tal situação, a criança ainda tem dificuldades de
adaptar-se a este tipo de cotidiano, pois tudo agora passa a ser
diferente, ela passa a ter dois lares, geralmente, com regras
diferentes em cada lar, as programações para finais de semana
mudarão, terão que estabelecer
um novo contexto de família, além de ter a possibilidade de se
adaptar a uma nova família quando seus pais casam novamente.
Diante disso, a
catarse, por meio da leitura, é um excelente instrumento para que a
criança se posicione de maneira menos traumática perante esta
situação conflituosa de ruptura de vínculos. Segundo Bruno
Bettelheim (1980), os
contos de fadas proporcionam à criança subsídios para suportar
seus conflitos interiores, liberando emoções reprimidas, indicando
alternativas, a fim de fomentar a catarse influindo o otimismo.
Para isso, vale
ressaltar, que a catarse somente, não basta, é preciso também o
estético, ou seja, a criança necessita “[...] ver o conflito
projetado de forma simbólica e idealmente resolvido em um final
feliz, evitando que ela permaneça aprisionada em seu reduto
angustiante.” (ÁVILA, 2001, p. 128)
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Conforme os
pressupostos, fica perceptível que a literatura infanto-juvenil
alcançou mudanças significativas, pois passou a se preocupar com o
público infantil, além de considerar o fator estético na escrita
como um elemento importante. Vale ressaltar que este inicialmente era
ausente, o que contribuiu para a sua desvalorização.
A estética
contribuiu para que essa Literatura alcançasse reconhecimento, e
fosse assim, apreciada. Ver-se ainda que a catarse está acoplada com
a estética, promovendo aos leitores mirins uma maneira de
desencadear suas emoções reprimidas por conflitos familiares, sendo
desta forma, uma ferramenta de alívio, no que abrange a superação
desses conflitos. Visto que para emergir essa catarse fazem-se mister
experimentar momentos de traumas e de percas.
É através da
catarse que a criança tem um encontro íntimo consigo mesmo, com
suas próprias emoções, conflitos, traumas, isto é, é propiciada
através da catarse estética uma relação interpessoal profunda,
que resultará numa nova maneira de olhar seu próprio mundo,
levando-a a enfrentar de maneira mais suave a sua realidade. Já que
o conflito familiar, especificamente, a separação de pais, é
duradouro em alguns casos, a literatura infanto-juvenil, neste caso,
cumpre o papel de intervir como norteadora da readaptação que a
criança precisa ter.
Diante das mudanças
de rotina, a criança terá uma capacidade, através da leitura, de
olhar a situação não de forma rigorosa, mas divertida. De poder
transformar estas “desorganizações” de seu cotidiano em
agradável,
alegre,
engraçado.
Assim, é notória a indispensabilidade da catarse estética na
literatura infanto-juvenil, e sua forte influência benéfica para
superação de conflitos familiares.
REFRÊNCIAS
ÁVILA, Myriam.
Catarse
e final feliz.
In: ___Aletria:
Revista de Estudos de Literatura. 2001, p. 128.
BETTELHEIM, Bruno. A
psicanálise dos contos de fadas. 1980.
SOUZA, Glória
Pimentel Correia Botelho. A Literatura Infanto-Juvenil brasileira vai
muito bem, obrigada! Ed 1. São Paulo: DCL, 2006. p. 53-54.
1
Acadêmica do curso de Letras da UNEB – CAMPUS XXII- Euclides da
Cunha/BA.
2Acadêmica
do curso de Letras da UNEB – CAMPUS XXII- Euclides da Cunha/BA.
3Acadêmica
do curso de Letras da UNEB – CAMPUS XXII- Euclides da Cunha/BA.
4Acadêmica
do curso de Letras da UNEB – CAMPUS XXII- Euclides da Cunha/BA.
5Acadêmica
do curso de Letras da UNEB – CAMPUS XXII- Euclides da Cunha/BA.
6Acadêmico
do curso de Letras da UNEB – CAMPUS XXII- Euclides da Cunha/BA.
7Acadêmica
do curso de Letras da UNEB – CAMPUS XXII- Euclides da Cunha/BA.
8http://pt.wikipedia.org/wiki/Catarse.
Acesso em: 27 de maio de 2013 às 14h21min.
9http://alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais15/Sem09/mauricosilva.htm.
Acesso em 27 de maio de 2013 às 14h34min.
10http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq0402201006.htm.
Acesso em 30 de maio de 2013 às 15:03.
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