O historiador Neto Camorim é
um Professor e pesquisador que luta pela memória e preservação dos ideais do seu conterrâneo
Antônio Conselheiro, juntamente com o Iphanaq, a Fundação Canudos, e outros companheiros
seus de Quixeramobim. Em entrevista a Revista Literária Antônio Conselheiro, o historiador
nos mostra um pouco de sua vida e de seus projetos na preservação da memória e
dos ideais de Antônio Vicente Mendes Maciel
Revista
Literária Antônio Conselheiro[1]:
Professor,
quem é Neto Camorim?
Neto
Camorim: Meu
nome é Francisco Chagas da Silva Neto, conhecido por Neto Camorim. Trago esse
apelido familiar do meu avô paterno que se chamava Manuel Camorim, então todos
seus filhos ficaram conhecidos por esse nome. Depois isso chega aos netos, já
que sou filho de seus filhos que se chama Chico Camorim. Daí desde adolescente
trago esse nome que muito me orgulha. Por sinal, poucas pessoas me conhecem
pelo seu nome oficial. Sou é filho de agricultor, nascido na comunidade de
Aroeiras, antes Quixadá e hoje pertence ao município de Banabuiu, que faz limites
ao leste com Quixeramobim, município que meus pais vieram morar desde 1980, na
comunidade de Coque, que fica há 36 km da sede as margens do rio banabuiu. Até
concluir o ensino médio, morava com meus avós maternos em Juatama, distrito de
Quixadá, onde estudava.
Como acontece com a maioria dos jovens ainda hoje, não consegui
emprego e fui morar com meus pais no Coque e por lá exerci atividades na
agricultura até os 25 anos de idade. Como sempre gostei de estudar, resolvi
fazer vestibular para o curso de história em 1994 na FECLESC- UECE- Quixadá,
campus na Universidade Estadual do Ceará aqui em nossa região, e fui aprovado
na primeira tentativa. Então fui durante esse tempo estudando e desempenhando
minhas atividades de articulador das CEBs, comunidades de base ligadas a
Paróquia de Santo Antônio de Quixeramobim. A partir daí fui adquirindo uma
maior consciência da realidade sertaneja e o porquê das dificuldades no qual
enfrentamos. Em 1995 comecei a exercer a função de professor na rede
particular, e no ano seguinte comecei a trabalhar também na escola pública, como
professor temporário, e atualmente sou concursado na rede pública estadual do
Ceará. Em 2004 após participar mais com expectador das comemorações do
centenário da guerra de canudos em 1997 em Quixeramobim e de outras ações
culturais em nosso município, que infelizmente em políticas culturais faz nada,
resolvi junto com um grupo de professores, universitários, estudantes de ensino
médio e profissionais diversos que gostam de história, cultura e memória, tão
desvalorizada em Quixeramobim, decidimos criar a Ong. IPHANAQ (Instituto do
Patrimônio Histórico, Cultural e Natural de Quixeramobim). Hoje é nessa
entidade que desenvolvemos em nosso município algumas ações culturais. Seja na
temática conselheiro ou outros temas no campo da cultura.
Revista
Literária Antônio Conselheiro: Sabemos da sua árdua luta
pela memória e preservação dos ideais do seu conterrâneo Antônio Conselheiro,
junto com o Iphanaq, a Fundação Canudos e outros companheiros seus de
Quixeramobim, o que não é tão distante de alguns aqui na Bahia, mas o que o
senhor ver de diferente e semelhante nestas atividades e preservação (material/imaterial)?
Neto
Camorim: Preservar
a história e a memória coletiva das pessoas e líderes que dedicaram sua vida em
prol das mais pobres em nosso país, sempre foi mal analisado. Até por que a
história tradicionalmente falando, sempre esteve a serviço da visão dos
poderosos. Portanto, os ideais de Conselheiro ainda incomodam aqueles de visão
elitista que não querem a libertação do povo sertanejo, que ainda sofre pelo
abandono político historicamente presente na vida dos mais pobres. Apesar da
luta e organização popular ter conseguido alcançar algumas melhorias, muita
coisa ainda precisa ser feita. Em Quixeramobim, a memória de Conselheiro ainda
é algo muito distorcido e não valorizado. Apesar de ser a terra onde ele nasceu
sempre digo, que foi ela também a expulsou diante dos diversos problemas e
frustrações que aconteceram durante o período em que viveu na sua terra. Apesar
dessa problemática, temos tentado enquanto Iphanaq desenvolver ações tentando
contribuir para mudar essa visão preconceituosa em relação a conselheiro. Todo
ano quanto acontece o evento “Conselheiro Vivo” em alusão a 13 de março data de
seu nascimento, sempre trabalhamos temas que procurem trazer os ideais de
conselheiro ao contexto atual, no intuito de inserir estudantes, professores e
comunidade em geral e refletir sobre a importância histórica desse líder, que é
estudado em todo mundo praticamente e é
tão desvalorizado na terra em que
nasceu. Isso é um aspecto diferente que percebo em relação ao que vejo na
maioria do povo de Canudos quanto visito a cidade ou estou presente nas
romarias. Claro que existem críticas de alguns em Canudos em relação a Antonio
Conselheiro. Isso é normal e acho necessário para fazermos uma análise com
maior criticidade. Mas em Quixeramobim, o que existe é uma incompreensão e
desvalorização da história para a grande maioria da população. Nos últimos dez
anos isso tem mudado um pouco, muito em função de atividade como o conselheiro
vivo, que realiza juntos com outro parceiro, atividades diversas como, debates,
palestras, oficinas, feiras artesanais e da agricultura familiar, lançamento de
livros, concurso de redação, exibição de filmes e documentários e exposições,
etc. Mesmo assim percebo que o processo é lento e precisa de continuidade das
ações durante todo o ano. O que infelizmente não acontece por parte do poder
público que deveria de fato assumir com mais responsabilidade seus preceitos
constitucionais. Portanto, observo que as nossas dificuldades não muitas, mas
não vejo com tão diferente, das de Canudos em relação a organizar eventos com
maior participação da sociedade. Não que seja preocupado com quantidade, mas
que nós que militamos na causa de conselheiro, precisamos se integrar mais e
pensarmos coletivamente nossas ações sem buscar individualizar as coisas como
sua. Até porque conselheiro não é apenas de Quixeramobim e de Canudos, mas do
mundo. Seus ideais de liberdade e dignidade humana não ficaram restrito apenas
aos sertanejos da Bahia, mas se espalharam pelo mundo por aqueles que no
passado ou no presente ainda lutam por justiça social.
Revista
Literária Antônio Conselheiro: Desde quando vem à Romaria de
Canudos?
Neto
Camorim: Frequento
a Romaria de Canudos há pouco tempo. Esse ano fez 03 anos que venha a esse
evento. Mas em Canudos vim à primeira vez em 2007 na época do espetáculo “Os
Sertões” do teatro oficina Uzina Uzona de Zé Celso Martinez, que tinha no mesmo
ano se apresentado em Quixeramobim. Foi daí que resolvi depois de 05 anos
refletindo, porque essas duas cidades que tem tanto em comum não se aproximam e
pensam ações conjuntas sobre conselheiro? Quero ressaltar, que foi Zé Celso
quem já na época dos “Sertões” fazia essa indagação. Ai então, resolvi agir.
Comecei em 2012 junto com alguns amigos venho todo ano a Canudos participar da
Romaria e ao mesmo tempo incentivar a aproximação de Canudos a Quixeramobim. E
isso aconteceu. Desde ano passado que o grupo de teatro coordenado pelo amigo
Carlos Carneiro participa do “Conselheiro Vivo” no mês d e março em
Quixeramobim, e nós retribuímos a visita em outubro na romaria. É uma
iniciativa pequena, mas pra mim de muito significado. Pois essa vinculação aos
poucos tem aumentado. Percebi esse ano que podemos inclusive articular ações
conjuntas entre as duas cidades. Temos que planejar melhor nossas iniciativas
em torno do projeto de vida digna defendido por conselheiro.
Revista
Literária Antônio Conselheiro: Tendo vindo estes últimos
anos à Canudos, como o senhor avalia a participação, a organização e as
discussões temáticas da Romaria de Canudos?
Neto
Camorim: Tenho
observado que a participação do povo tem diminuído e a organização da romaria
têm apresentado algumas falhas, mas acho que podem ser superadas. Sei o quanto
é difícil organizar um evento sem apoio financeiro na proporção necessária. Vão
aqui algumas sugestões que inclusive falei com pessoas diretamente ligadas a
organização da romaria, poderia articular melhor a participação dos municípios
vizinhos de Canudos e que são diretamente envolvidos na trajetória de
conselheiro para fundar o “Belo Monte”. Mas penso que essa articulação tem que
ser da comissão da romaria, buscando envolver as paróquias e comunidades
vizinhas para estarem presentes nesse momento que considero tão importante. Não
é a toa que percorro todo ano 720 Km em carro fretado com alguns amigos para
participar da romaria. Mas acho que ela precisa ser melhor planejada e que os
responsáveis por suas atribuições cumpram o seu papel. Deve também envolver
outros atores sociais e organizações na efetivação da mesma. Tem
falhas muito
básicas que ainda acontece, que em minha opinião um evento com 27 anos de
existência já deveria ter superado. Entenda não estou culpando os organizadores
do evento e nem dizendo que eles não planejam, pois sei das dificuldades que
enfrentam todo ano para realizarem a romaria. Apenas acho que outros parceiros
deveriam ser envolvidos. Tipo maior participação das escolas nas atividades,
mais apresentações culturais envolvendo outros municípios, mais dinamismo na
realização da mesa redonda. Enfim, são sugestões que a meu ver poderia melhorar
um evento que sempre me traz muita alegria e emoção e que quero continuar participando.
E se permitirem colaborando. A Ong. Iphanaq está aberta ao diálogo para
contribuir no que for possível. O que defendo é uma melhor integração de
Canudos com Quixeramobim e vice versa, além das cidades dos percursos de
conselheiro que poderiam estarem se encontrando todo ano na romaria para
rememorar, celebrar e refletir a luz da nossa realidade os ideais de Antonio
Conselheiro.
Revista
Literária Antônio Conselheiro: Tivemos anteriormente uma
informação que viria a esta romaria cerca de trinta quixeramobienses e que pelo
motivo de estarmos no período eleitoral, Foi impossibilitado, o senhor acha que
falta a estes uma organização ou sensibilização com relação à memória de
Antônio Conselheiro?
Neto
Camorim: Sou
daqueles que acredito na organização e planejamento das ações. Como já me
referi anteriormente, Quixeramobim na sua grande maioria não existe uma
valorização pela memória de seu filho mais ilustre. Isso só contribui para
dificultar essa integração com Canudos. Se fosse esperar pelo apoio poder público
municipal para visitar Canudos, acho que tinha ficado na primeira visita em
2007. Na verdade não existe sensibilidade política para o tema conselheiro,
fica só na conversa. De preferência nos palanque nas campanhas eleitorais.
Essas desculpas de que estamos em período eleitoral e não tinha como viabilizar
o transporte do grupo de pessoas que queriam ir pra Canudos, isso é velho, não
acredito. Todo ano prometem e não acontece. Mas na hora que estivermos mais
organizados isso vai mudar pode ter certeza. Até porque não estamos pedindo
favor. O município tem obrigação de investir em cultura. E bem que deveria ser
em algo de qualidade, como oportunizar as pessoas interessadas conhecerem
Canudos durante a romaria e participarem da programação. Agora os gestores
municipais ficam buscando culpados para justificar o injustificável. E o pior
tem gente que acredita.
Revista
Literária Antônio Conselheiro: Por dois anos consecutivos o
nosso município ainda que com várias dificuldades e uma população cinco vezes menor,
tem mandado à Quixeramobim uma comitiva para tentar estreitar essa distancia de
Quixeramobim & Canudos. Será que falta aos gestores uma vontade de
unificação destes municípios, o que podemos aprender com isso?
Neto
Camorim: Quero
parabenizar esse gesto grandioso de Canudos, que tem feito mais decentemente a
sua parte nessa busca da integração com Quixeramobim para refletir e aprender
juntos sobre Conselheiro. Lamentavelmente é triste perceber que Quixeramobim
enquanto terra natal desse grande líder de nossa história tem feito quase nada
em prol de sua memória. Com uma população cinco vezes maior que de Canudos,
Quixeramobim não disponibiliza um ônibus para trazer os simpatizantes e
interessados na história da guerra de canudos e de conselheiro a conhecerem o
local onde tudo aconteceu. É muita falta de compromisso com a história de seu
povo. Concordo que falta vontade política para aproximar de fato essas cidades
irmãs. Mas não vamos desistir. Vamos cobrar e criticar e
ao mesmo tempo, não
ficar apenas reclamando, mas fazendo o nosso trabalho de “formiguinha”, que
apesar de ser invisível para muitos em nossa cidade, o que interessa é que
ações estão acontecendo diante de nossas possibilidades. Pior é o poder público
que não faz e ainda atrapalha. Devemos aprender que sem a nossa participação e
cobrança nas ações as articulações entre essas cidades ficará mais difícil.
Portanto vamos continuar lutando e realizando as nossas ações sem ou com o
apoio do poder municipal, que só colabora diretamente no evento “Conselheiro
Vivo”, ainda muito pouco pela importância que deveria ter Antônio Conselheiro
na sua terra.
Revista
Literária Antônio Conselheiro: A 27ª Romaria deste ano (2014)
teve como tema: “Liberdade e Dignidade para o povo do Sertão” o que o senhor
nos diz a respeito desta proposta.
Neto
Camorim: Esse
tema, como bem destacou Pe. Alberto, vigário de Canudos durante entrevista na
Rádio Atividade FM, ele aponta setas para a construção da dignidade do povo do
sertão. Liberdade e dignidade essa que ainda falta à maioria de nossos irmãos
sertanejos do nordeste brasileiro, que apesar de algumas melhorias continuam
dependente das ações paliativas dos governos ao longo de nossa história, e que
não tem interesse em de fato construir a dignidade que nosso povo tem direito.
Quebrar as amarras da submissão ainda não interessa para a maioria de nossos
ditos representantes políticos e de uma parte da sociedade brasileira do sul e
sudeste e outros de próprios nordestinos que já vivem em situações mais
favoráveis, ainda mantém muito preconceito contra os nordestinos. É só ver o
que tem acontecido com frequência nas redes sociais. Um verdadeiro absurdo. Um
desrespeito à pessoa humana, mais que ainda persiste mesmo depois de tanto
tempo que foi abolida a escravidão, as práticas escravocratas e elitistas
continuam vivas na cabeça e corações de muitos grupos dominantes de nossa
sociedade. São atitudes totalmente contrárias ao que o Conselheiro pregava.
Temos que lutar contra toda forma de opressão que ainda impera sobre os sertanejos
no semiárido nordestino, para que de fato a liberdade e dignidade para o povo
do sertão aconteça. Acho que foi muito oportuno à escolha desse tema romaria de
2014.
Revista
Literária Antônio Conselheiro: Temos conhecimento de uma
pesquisa que o senhor vem desenvolvendo sobre os percursos do Conselheiro no
sertão baiano antes de chegar a Canudos em 1893, o que o senhor tem pesquisado?
Quais localidades já visitou? Que dificuldades e facilidades têm encontrado no
meio deste caminho?
Neto
Camorim: Na
verdade é um projeto de pesquisa ainda nas questões preliminares. Tenho
visitado desde ano passado com mais frequência Canudos e região para entrar em
contato com meu possível objeto de estudo. Estive em julho deste ano durante
uma semana na região de Canudos, e realizei algumas visitas em alguns lugares
que fizeram parte dos percursos de Conselheiro antes de se fixar em canudos e
fundar “Belo Monte”. Estive na companhia de Carlos Carneiro visitando Maceté,
onde aconteceu o fogo do Viana em 1893, e de lá conselheiro foi pra Canudos.
Fui a monte Santo, Quijingue e Euclides da Cunha (antigo Cumbe) e Uauá e
Canudos, sempre conversando e observando algumas questões que poderão ser meu
objeto de estudo. Sabemos que o desafio é grande, está se deslocando periodicamente
para desenvolver esse trabalho, mas ao mesmo tempo tem sido desde o seu início
muito gratificante está a cada período visitado vivenciando a solidariedade que
impulsiona a vida do sertanejo. Isso é algo imensurável. Espero que possa dá
sequência esse trabalho de conhecer os percursos de conselheiro antes de fundar
a comunidade da busca pela igualdade, liberdade e dignidade que foi “Belo
Monte” e que as forças da dita república brasileira destruiu.
Revista
Literária Antônio Conselheiro: Tomando como base uma de
suas falas “O Conselheiro não
desagregava, ele une até hoje”. Este é um dos seus
objetivos dentro de sua pesquisa, perceber a latência dos ideais do Conselheiro?
Neto
Camorim: Tenho
observado que apesar das dificuldades sempre latentes ao trabalhar o tema
conselheiro, ele sempre nos junta mais. Acho que deve ser seus ideais ainda
impulsionando a luta daqueles que acreditam num mundo melhor. Parto do
princípio que Conselheiro plantou muito bem onde ele passou essa possibilidade
de construir uma vida digna e mais livre para o povo do sertão. Mesmo com a
destruição do Belo Monte, esses ideais não morreram eles resurgem de outras
formas na luta do povo, na sua maneira de viver e encarar a vida nos desafios
diversos que enfrentamos. Isso tenho observado em todos os lugares visitados.
Pessoas, como Dona Bebé em Canudos, que desde ano passado nos acolheu em sua
casa durante a romaria e hoje nos trata como se fôssemos um familiar seu. Isso
é apenas um exemplo entre tantos que poderia destacar nesse início de pesquisa.
Espero que tenha competência de dá conta desse trabalho.
Revista
Literária Antônio Conselheiro: Percebemos que o senhor fica
um tanto angustiado com algumas ações isoladas que alguns projetos realizam referente
a Canudos. Que sugestão o professor dá, não somente as instituições que
trabalham Canudos, ou a municípios que se organizam para visitar a cidade
histórica, seja na Romaria ou em datas fora do calendário festivo?
Neto
Camorim: Penso
que deveria ter uma maior articulação entre os municípios da região de Canudos
para a realização da romaria. Deveriam em minha opinião desenvolverem ações
preparatórias em suas escolas para que a história de Canudos seja conhecida e
valorizada pelas novas gerações. Percebi nas minhas visitas na região que
muitas pessoas mesmo morando perto de Canudos nunca visitaram a cidade. Não
conhecem a importância dessa história. E ninguém valoriza o que não conhece.
Juntos com as instituições que já trabalham na organização da romaria, esses
municípios poderiam planejar ações de visitas periódicas a Canudos e ao mesmo
tempo despertando nas crianças e jovens o interesse pela história de Canudos,
sua cultura e memória que deve ser preservada. Até porque os descendentes de
Canudos estão presentes em toda região. De uma maneira direta ou indireta todos
estão ligados de alguma maneira a história de Canudos. Isso só contribuiria
para construir uma melhor identidade do povo valorizando o seu passado. Além
disso, esses municípios deveriam se apropriar das pesquisas já desenvolvidas
pelas universidades através de alguns pesquisadores e organizarem um calendário
regional de atividades envolvendo a temática conselheiro que em minha opinião
incrementaria bastante a cultura e o turismo sustentável em seus municípios. E
no final culminaria com a participação de todos na Romaria de Canudos
realizando um grande momento celebrativo. Acho que seja possível. Só precisa de
boa vontade e prioridade política, que alguma coisa mesmo que ainda pequena
mais planejada e com continuidade a coisa caminha.
Revista
Literária Antônio Conselheiro: Professor Neto Camorim, nos
fale um pouco sobre os projetos como o papo cultural, grupo de leitura e outros
dos quais o senhor está inserido lá em sua cidade Quixeramobim.
Neto
Camorim: A
Ong. Iphanaq nesses 10 anos de fundação tem desenvolvido algumas ações
culturais em Quixeramobim. Mesmo sem muito apoio institucional temos alguns
projetos em funcionamento. Entre alguns quero destacar inicialmente dois que
coordeno. O primeiro o projeto Cineclube Iphanaq que tem o apoio do SESC-Ler e
do Sistema Maior de Comunicação, que uma vez por mês realiza exibição de cinema
nacional gratuito nas comunidades rurais do município. Após a exibição do filme
tem debate com a counidades a luz da realidade deles. Daí ser muito importante
a escolha do filme a ser apresentado. Este projeto existe há cinco anos e já
visitou todos os distritos pelos menos cinco vezes suas comunidades durante
esse período. Também coordeno o Papo Cultural, que recebe na última sexta feira
de cada mês um convidado para falar de sua experiência de vida, possa
contribuir com seus saberes diversos para a valorização da história e memória
local. Pode ser acadêmico que vem apresentar seus trabalhos como às vezes
acontece, mas na sua maioria são pessoas simples que não tem sua história
registrada e valorizada. Todo o papo cultural realizado, produzimos um vídeo
para no futuro ter um centro de documentação envolvendo esse material. Esse
projeto funciona há 03 anos. Outro
projeto que acontece no Iphanaq é o grupo de leitura “sertões e memórias”.
Coordenado pelo professor João Paulo, esse projeto realiza leitura de obras
literárias que trabalham o tema sertão. Geralmente se encontram uma vez por
mês, delimitam as páginas que irão ler e depois marcam um encontro pata
discutir o que foi lido. Já foram feitas durante os dois anos de existência do
projeto as leituras de “Os Sertões”- Euclides da Cunha; “O Sertanejo”- José de
Alencar; “O Quinze”- Raquel de Queiroz; “Dona Guidinha do Poço”- Oliveira
Paiva, entre outros. Quem participa é professores de áreas diversas amantes da
leitura e alunos de ensino médio. São atividades culturais que apesar de pouca
gente envolvida diretamente tem contribuído para mudar aos poucos essa visão
equivocado que as pessoas não tem interesse em participar de ações culturais.
Isso não é verdade. O que de fato acontece é que existe são poucas atividades
voltadas para essas questões. Daí a não valorização desses momentos culturais.
[1] Entrevista concedida a Carlos
Carneiro – Diretor de Teatro e Graduando de Letras Vernáculas- UNEB
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