PAULO MONTEIRO DOS
SANTOS
CREDENCIAS DO AUTOR
Carl Gustav Jung
(1875-1961) nasceu na Suíça, foi um psiquiatra e psicoterapeuta discípulo de
Freud, de qual rompeu e depois formulou suas próprias teorias sobre o
inconsciente.
REFERÊNCIA DA OBRA
JUNG, C. G. Psicologia do Inconsciente. Tradução de Maria Luiza Appy.
Petrópolis, Vozes, 1987.
RESUMO: Psicologia do Inconsciente
é a obra em que Jung tenta fazer o que se chamaria de sua teoria geral do
Inconsciente. Geral a que se refere aqui, é sua visão não restrita a um tema em
específico do inconsciente, mas algo que abrange tudo um esquema, ou uma
espécie de mapa conceitual e complementar da teoria freudiana.
Na
primeira parte, chamada A Psicanálise,
Jung descreve a teoria de Freud, como um método no tratamento das neuroses e
psicoses. Esse método, como o próprio nome já diz, é analítico. Tal método criado por Freud tinha como principio lançar
a base para uma psicologia das neuroses (p.1-2). Mais adiante, Jung, em
observações clínicas, chega à constatação, que a maioria dos traumas humanos,
de certa maneira, se relacionam com conflitos eróticos em nossa psiquê, e que o
amor tem um grande significado na vida do ser humano, mas não apenas o amor. (p.10)
Jung
intitula a segunda parte de Teoria do Ego.
Neste capítulo, retoma sua constatação anterior e começa a analisar que uma neurose
é um conflito entre duas potencias no sujeito: a natureza e a cultura.
Recorda-se aqui que uma parte deste conflito é erótica. Como então resolvê-lo através
da psicanálise? (p.13) O autor aponta que pelo estudo dos sonhos, desenvolvidos
por Freud, se foi possível chegar aos verdadeiros problemas das neuroses: “O
sonho é a via regia para chegarmos ao inconsciente.” (p.13) Sendo assim, os
casos de uma neurose ou mesmo de uma psicose, estão relacionados com o inconsciente,
e mais: o inconsciente faz um conflito com o consciente, o qual pede quase
sempre que reprima os seus desejos mais profundos. Para Jung, a terapia do
sonho é a única forma eficaz no tratamento da neurose. Tais problemas estão intrinsecamente
ligados a questão da sexualidade, mas que não é algo anormal, pelo contrário, é
super normal, alias um conflito da natureza humana com sua cultura; um conflito
do interior (inconsciente) com o meio exterior (consciente). O orgulho que o
ser humano tem, às vezes é encarado como algo consciente, e pode-se associar
esta consciência como algo bom ou de uma sã psicologia, sobre isso Jung
protesta afirmando: “O excesso de animalidade deforma o homem cultural; o
excesso de cultura cria animais doentes.” (p.20) Assim, se deve ter muito
cuidado ao criar uma idéia de que todo que depende da razão é algo bom, mas se
deve, antes de qualquer coisa, perceber e dar um equilíbrio entre a razão
cultural com o inconsciente.
Na
terceira parte, Outro ponto de vista, a
vontade de poder, Jung vai expor, como o próprio nome sugere, outra
análises sobre os conflitos entre instinto e cultura, que nos seus primórdios,
não estão ligados apenas a questões eróticas, como assim afirmava Freud. Como
exemplo Jung trás a vida e teoria do filósofo Nietzsche: Este filósofo viveu
para além dos seus instintos e da moral cristã, mas tentar romper com tais
conflitos lhe custou um preço. A filosofia de Nietzsche revela que no fundo do
inconsciente humano, dorme um dragão que busca apenas o poder (p.23). Jung não
descarta a questão do Eros freudiano, mas revela em seus primórdios que também
o poder que se envolve nas crises neuróticas. O Eros seria apenas uma meta a
ser atingido o poder do Eu. O que são as neuroses no fundo? Manobras que o inconsciente
utiliza espertamente para atingir seus fins, tão somente vencer (p.32). Com
essa teoria de Adler, Jung muda o foco do Eros, o qual Freud não deu a devida
importância nos conflitos que surgem no sujeito a partir da disputa do poder.
A
quarta parte: O problema dos tipos de
atitude, o autor vai mais afundo na discussão das teorias de Freud sobre o
Eros, e de Adler sobre o poder. Jung aponta que as duas teorias têm razão entre
si quando aplicadas ao universo do inconsciente em relação as neuroses. De um
lado Adler diz que o sujeito tenta manter sua superioridade sobre o objeto;
Freud diz o contrário, que muitas das vezes é o objeto que mais influencia o
sujeito. Jung observa que estas duas teorias são diferentes, mas que tem um
ponto em comum. Conclui o autor que existem dois tipos de indivíduos: Um que se
interessa pelo objeto e outros por si mesmo.
Este é o estudo de Jung sobre os dois tipos básicos de comportamento: A Introversão e a Extroversão (p.36). O primeiro com um comportamento mais intimista
reflexivo, e o segundo um sujeito mais aberto que não tem medo dos riscos e que
se adapta melhor. Dentro desses dois tipos, o neurótico age de forma muito
inconsciente, por isso não se sabe, pelo fato de sua neurose, se a pessoa pode
ser introvertido ou extrovertido, pois a mesma pode está escondendo sua
personalidade. Por isso se diz que o sujeito assume uma dupla personalidade
(p.36). Porém, a neurose pode ter seus pontos positivos, diz Jung: “Às vezes
ajuda em alguns momentos e nos serve para entendermos que somos humanos,
propensos aos erros” (p.36). Jung aponta, partindo do que foi dito antes, que o
sujeito não tem controle total de sua energia psicológica, e o inconsciente
pode se manifestar como uma energia que se mostra demasiada escapando do controle,
tornando-se um transtorno neurótico. Desta maneira, é preciso uma canalização
saudável dessa energia, a qual possa unir os dois pólos contrários. Duas
pessoas só podem ter equilíbrio quando forem de pólos opostos: introvertido e
extrovertido. Mas, sinaliza o autor: pode haver atritos, no entanto há um
equilíbrio. “É no oposto que se ascende à chama da vida (p.45)”.
Na
quinta parte, O inconsciente pessoal e o
inconsciente supra pessoal ou coletivo, Jung divide o inconsciente em duas
partes: 1) O pessoal, que diz respeito aos traumas e lembranças infantis,
paixões da alma, etc; 2) O inconsciente coletivo, o qual tem uma espécie de
reminiscência primordial, baseado em um passado que não é do próprio sujeito,
mas sócio-cultural. Adverte-se aqui que esta memória coletiva é inconsciente.
Explica-se: Esse inconsciente coletivo se liga ao mitológico: O inconsciente
cria fantasias mágicas sobre uma situação: visões de fantasmas; manifestações
transcendentes etc. mas tudo isso se deve apenas a esse tipo de inconsciente
“onde jazem adormecidas as imagens universais (p.57)”. Jung, para provar sua
teoria, diz que é como surgem nas teorias antropológicas dos mitos suas
semelhanças e suas relações, graças a esse inconsciente coletivo: Hércules
(mito grego), Sanção (mito hebraico) seria um exemplo de comparação.
No
plano relacionado à questão da neurose, não só desta, mas as influencias que
esta divisão do inconsciente (coletivo e pessoal) provoca no ser humano, põe em
evidencia, no sujeito, uma luta de contrários: 1) período da juventude; 2)
período da maturidade. O da juventude se caracteriza por uma fase natural: ter
filhos, trabalhar, casar, (instintivo de procriação); A fase da maturidade é
mais cultural, onde o sujeito precisa conservar valores. Jung defende que as
neuroses sempre acontecem nesta fase da maturação, pois muitas pessoas em tal
período querem manter-se jovens e se agarram a um momento estagnado da sua
mocidade. Surgem assim uma crise de contrários, pois o inconsciente tenta
voltar a uma vida passada e ao mesmo tempo reprimi-la. Nesse tempo é que começa
um período de radicalização, conversões religiosas, rompantes amorosos,
alcoolismo etc. Antes os ídolos eram outros, agora surgem novos, ou mesmo
precisa-se mantê-los. Porém é preciso haver essa oposição interior de
contrários no ser humano porque é ela quem garante a energia no sujeito. “Tudo
que é humano é relativo (p.67)”, diz Jung, em uma relação de contrários. “Tudo
isso significa ruptura e conflito consigo mesmo (p.68)”.
Neste
capitulo, Jung fala também sobre sua teoria dos Arquétipos. Quando se regressa
as recordações infantis e depois se avança para as pré-infantis, o sujeito se
depara com o seu inconsciente coletivo, o qual são lembranças não vividas pelo
individuo, mas que lhe serve como modelo, por isso Jung aponta-os como
arquétipos. São memórias culturais que fomos introduzindo em nosso inconsciente
e encarnando em nosso modo de ser e viver. Pode surgir como uma fase espiritual
no sujeito, ou menos nos sonhos. Importante dizer que tudo se da de maneira
inconsciente. (p.69).
Na
sexta parte, O método sintético ou
construtivo, Jung expõe o método que utilizou em suas pesquisas sobre o
inconsciente. Claramente o método é o sintético, o qual decompõe as partes,
estudando-as separadamente, para depois reuni-las numa ideia geral. Porém tal
ideia não descarta a forma analítica. Explica-se: Apenas em um método de análise,
pode se ocorrer o risco de não levar em consideração a experiência do paciente.
Tão somente uma análise do sonho não é suficiente para chegar à raiz dos
problemas neuróticos. Por essa razão, Jung leva em consideração não só o sonho
do sujeito, mas também seu passado, infância e sua cultura. E o paciente
precisa, por ele mesmo, se auto conhecer. Jung acredita que o método analítico,
limita ao terapeuta a somente uma leitura do problema, por isso é importante
decompor as partes em uma análise construtiva entre paciente e terapeuta. Não é
correto fazer um diagnóstico com uma análise apenas do sonho, é preciso
conhecer também a parte consciente do sujeito, e desta, fazer uma integração
com o seu eu profundo.
A
sétima parte, Teoria dos arquétipos do
inconsciente coletivo, um dos capítulos mais significativos da obra, aborda
com mais afinco a teoria sobre os arquétipos. O que são anjos, demônios,
deuses? Será que tais seres existem? Para Jung, a maioria dos homens atuais
diria que não. As pessoas antes do apogeu do Iluminismo e do racionalismo, na
Europa da Idade Média, acreditavam no demônio, deuses e anjos, mas Jung aponta
que tais fatos são arquétipos de nosso inconsciente coletivo, que foram sendo
acrescentados por meio de uma cultura passada de geração em geração pela
cultura. Quando houve a ascensão do racionalismo, não teve mais espaço para os
arquétipos no inconsciente, porém não foi isso que a história mostrou. Jung
sugere que estes arquétipos eram nossa irracionalidade a qual foi suprimida por
um racionalismo moderno. Pela experiência da psicanálise, tudo o que é
reprimido volta como neurose, assim esse irracionalismo voltou e causou as
grandes guerras e as revoluções. Guerras irracionais, mas que foram
justificadas por uma razão dominante. O autor diz que se pode concluir todo
esse desequilíbrio na humanidade como uma neurose coletiva da repressão dos
arquétipos. (p.81-103).
Na
oitava parte, A interpretação do
inconsciente: noções gerais da terapia, o autor salienta que o inconsciente
não pode ser tratado como algo inofensivo, ou como um brinquedo, é preciso estar
atento para as neuroses que o inconsciente pode apresenta, pois tais casos,
quando não tratados, podem evoluir para uma psicose. Até mesmo pessoas que se
julgam racionais, e não terem neuroses, podem estar guardando uma psicose
latente, oculta (p.104). Assim, também um tratamento mal feito por parte do
psicólogo pode afetar alguém ou mesmo o profissional da área.
Jung
diz que um dos perigos do inconsciente, em ralação as neuroses, são as questões
dos acidentes, sejam domésticos, automobilísticos, etc. Às vezes o inconsciente
já vem planejando esses acidentes meses antes, ou mesmo anos: “Examinei grande
número de casos dessa ordem, e pude comprovar que muitas vezes, semanas antes,
os sonhos já revelaram uma tendência autodestrutiva. (p.105).” Mas não se deve
com isso, protesta Jung, apenas olhar a parte negativa do inconsciente. Este,
por sua vez, tem todo o acumulo de uma conhecimento coletivo, conhecimento que
pode beneficiar o consciente em seu transcender e sublimação. O que se pode
fazer é uma integração entre inconsciente e consciente na ajuda ao sujeito de tratar
sua neurose ou psicose.
Concluindo,
Jung fala que o tratamento terapêutico pode ser descrito como algo muito
difícil de ser feito na práxis, o que não parece quando é descrito em trabalhos
acadêmicos, mas se faz em um processo delicado. O tratamento da neurose pode
ajudar alguém de forma rápida, ou de forma lenta, dependendo do sujeito. “No fundo,
tudo é experiência nessa psicologia. (p.107).”
INDICAÇÃO DA OBRA
Este
texto é indicado para pessoas que trabalham e estudam na área da Psicologia, Pedagogia
e mesmo para um público que procura conhecer melhor as teorias em torno do seu
inconsciente.